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Infantojuvenil Saúde Mental

Transtorno alimentar na adolescência: quando é necessária a internação?

O transtorno alimentar na adolescência é um problema de diferentes causas e com consequências complexas. Eles traz impactos significativos ao convívio social e familiar, além de intensificar outros comportamentos negativos.

Abordar essa questão também envolve considerar as particularidades do período da adolescência, que gera diversas alterações a nível físico, mental e social. Essa transição da infância para a vida adulta é marcada por variações hormonais e, nos últimos anos com a pandemia da COVID-19 fez com a questão fosse intensificada.

Nesse sentido, os pais e os familiares devem observar atentamente qualquer mudança de atitude, sobretudo em relação à representação da comida, e procurar ajuda para enfrentar o problema da melhor forma.

Quer saber mais sobre transtornos alimentares na adolescência? Então, não deixe de ler este post que a Dra. Luciana Mancini Bari, médica com foco em saúde mental, preparou sobre o assunto!

O que causa o transtorno alimentar na adolescência?

O transtorno alimentar na adolescência é um problema multicausal e tem como objetivo a busca pelo corpo perfeito aos olhos das redes sociais, artistas, influenciadoras digitais ou até mesmo pela referência de pessoas próximas, como os colegas de escola.

Além das influências externas da sociedade, existem doenças que favorecem o desenvolvimento dos distúrbios alimentares, como aqueles relacionados à ansiedade, à depressão, entre outros. Traumas de infância e diferentes tipos de abusos também entram na lista dos fatores de risco.

A insatisfação com o corpo e a distorção da imagem no espelho são sintomas característicos que fomentam novos comportamentos negativos e, muitas vezes, perigosos à própria vida. Tudo passa a girar em torno de atingir um padrão estético que não existe.

É comum que o adolescente modifique seu comportamento ao longo dos anos, em parte devido às alterações hormonais da idade, como também por conta das relações sociais ligadas à formação da personalidade. O problema é quando essas mudanças vêm acompanhadas de hábitos prejudiciais.

Os pais devem acender um alerta quando as questões relacionadas à imagem se tornam uma obsessão, em que o adolescente aborda exclusivamente sobre o assunto no cotidiano familiar. Nesses casos, a angústia para atingir e manter uma aparência específica toma conta da sua rotina.

Outro agravante são os adolescentes já diagnosticados com transtornos mentais, o que torna mais desafiador o tratamento. Afinal, há uso contínuo de medicamentos psicotrópicos e questões psicológicas que devem ser consideradas no processo de recuperação.

Sendo assim, sintomas caracterizados como baixa autoestima, sentimento de culpa, culto excessivo ao corpo, entre outros, devem ser analisados com cuidado e muita conversa entre os pais e demais familiares.

Quais são os principais tipos de transtornos alimentares?

Genética, biologia e cultura estão entre os fatores envolvidos no desenvolvimento de diversos distúrbios. Isso explica por que há tantas formas da doença que afeta a relação do jovem com o seu corpo e imagem, tanto que apenas um profissional da área da saúde pode identificar os tipos de transtorno alimentar.

Veja, a seguir, os principais e suas características.

Anorexia nervosa

Comum nos debates sobre transtorno alimentar na adolescência, essa doença faz com que o paciente se perceba com excesso de peso. A percepção ocorre mesmo quando ele está abaixo do ideal, o que gera abuso de laxantes, diuréticos e atividades físicas para conter o ganho de gordura.

Os sintomas incluem severa restrição alimentar, peso extremamente baixo, distorção de imagem, gastrite, inibição do ciclo menstrual, pele seca ou descamando e falta de interesse em manter uma vida ativa.

Bulimia nervosa

Esse distúrbio faz com que a pessoa coma grandes volumes de comida e, após a ingestão, provoque vômitos para expelir tudo o que foi parar no estômago. Também é comum o uso de diuréticos e laxantes, bem como a prática exagerada de exercícios físicos para manter o corpo magro.

Os comportamentos prejudiciais ocorrem todos os dias, em qualquer lugar e em vários momentos. Entre os sintomas, destacam-se dor de garganta, problemas nas glândulas salivares, desidratação grave, irritação intestinal, erosão do esmalte dos dentes e desequilíbrio de eletrólitos.

Transtorno da compulsão alimentar

A compulsão alimentar está entre os distúrbios mais comuns e faz com que as pessoas percam o controle sobre o consumo dos alimentos. Nesse caso, não há comportamentos compensatórios, como vômito ou jejum, após a ingestão exagerada de comida.

O problema é que o paciente não sabe quando parar e aumenta as doses por tempo prolongado. Isso favorece o acúmulo de peso, que pode levar à obesidade e outras doenças, como pressão arterial elevada. Os principais sintomas são sentimentos de culpa, vergonha e angústia.

Hipergafia

Esse transtorno alimentar na adolescência tem origem em eventos traumáticos, que fazem com que a pessoa sofra muito e sinta vontade de descontar a preocupação na comida. Bons exemplos estão na morte de pessoas queridas, ocorrência de acidentes e perda de bens materiais.

Os sintomas incluem ansiedade, perda rápida de peso, depressão, sentimento de culpa e inibição do convívio social. Também é comum o indivíduo apresentar sinais típicos da depressão.

Ortorexia

Na busca pelo corpo perfeito, muitos jovens criam uma obsessão por alimentos saudáveis e evitam o máximo de produtos industrializados. O problema é que a seleção se torna exagerada, afetando suas relações e causando conflitos no momento da refeição.

É um distúrbio difícil de identificar porque fica camuflado na ideia de estilo de vida saudável. Entre os principais sintomas, destacam-se a exclusão de vários produtos para manter uma dieta restrita, sensação de culpa após a ingestão dos itens proibidos, anemia, isolamento social e perda de peso.

Síndrome da Pica

Também conhecida como Alotriofagia, faz com que o paciente tenha vontade de ingerir recursos não nutritivos, como batom, carvão, areia, entre outras substâncias. É bem comum em grávidas e crianças, mas também pode aparecer como um transtorno alimentar na adolescência.

Os sintomas são bem perigosos porque derivam da intoxicação causada pelos materiais consumidos. Quando aparece muito cedo, pode prejudicar o desenvolvimento físico e mental.

Como a pandemia influenciou os casos de transtornos alimentares?

A pandemia causada pelo COVID-19 gerou impactos em todas as esferas da sociedade, com elevado número de mortes, sequelas que ainda estão sendo monitoradas e consequências psicológicas a pessoas de todas as faixas etárias.

Esse período delicado levou à privação da interação social que costuma ser vivida com intensidade no período de adolescência, aumentando os casos de depressão, de distúrbios de ansiedade, de fobia, de problemas de sono, de concentração e memória, entre tantos outros.

Houve perdas lastimáveis para os adolescentes, como o luto inesperado, a responsabilidade para assumir as regras da casa e as dificuldades financeiras ainda vivenciadas por muitas famílias. Ou seja, um cenário cheio de incertezas que deixou muita gente confusa e ansiosa sobre o próprio futuro.

Em relação às consequências negativas da pandemia, uma pesquisa recente apontou que houve aumento na internação de jovens em decorrência de distúrbios alimentares. O crescimento de casos foi, provavelmente, bastante influenciado pelo isolamento social.

Longe da vida considerada normal, as pessoas passaram mais tempo nas redes sociais, o que pode intensificar as comparações de imagem e a queda da autoestima. Os pesquisadores concluíram que comportamentos relacionados à privação de alimentos, à compulsão alimentar e à purgação aumentaram tanto nos pacientes com diagnóstico de distúrbio alimentar quanto na população em geral.

Houve uma intensificação dos sintomas clínicos causados pelo impacto psicológico vivenciado na pandemia, como também o aumento do alcoolismo na adolescência, bem como o desenvolvimento de depressão e de transtorno de ansiedade generalizada.

Qual é a relação entre transtorno alimentar e uso de drogas?

Os principais distúrbios fazem com que as pessoas apresentem comportamentos extremos. Algumas passam a comer pouco ou nada durante o dia, outras podem comer muito além do necessário para nutrir o corpo. Ambas situações trazem sentimentos de culpa, angústia e tristeza, gerando uma percepção de falta de controle.

É fácil entender a alta incidência de transtorno alimentar na adolescência. Nessa fase, buscamos a aceitação do mundo externo com mais intensidade para pertencer a determinados grupos e ganhar reconhecimento daqueles que admiramos. E como a imagem tem grande valor, precisa ser constantemente aprimorada.

Na tentativa de atingir um padrão, muitos jovens abusam de práticas que facilitam o emagrecimento ou a construção de massa magra. Isso inclui excesso de exercícios físicos, redução do número de refeições (que geram frequentes episódios de compulsão) e até o consumo de substâncias prejudiciais, sejam lícitas ou ilícitas.

Sabe-se que diferentes tipos de drogas têm potencial para inibir o apetite, o que atrai muitos jovens ao consumo frequente desses produtos. Há que considerar, ainda, o uso de álcool, nicotina e outras substâncias como válvula de escape para enfrentar a severa restrição dos alimentos e a insatisfação geral com o próprio corpo.

Ou seja, há uma forte relação entre a presença de um distúrbio alimentar e o abuso de drogas. Quanto mais obsessiva for a ideia de perder peso e manter um visual considerado ideal, mais chance a pessoa tem de manter o vício naquilo que traz alívio ou gera o efeito estético desejado.

Para quem sofre de transtorno alimentar na adolescência, não importa se um hábito será prejudicial à sua saúde. A prioridade é conquistar a imagem dos sonhos, o que torna a condição ainda mais perigosa. Em longo prazo, a combinação de ações negativas pode trazer consequências graves, tanto para a parte física quanto para o estado mental do indivíduo.

Na juventude, o acesso a drogas de todos os tipos é comum e estimulado por diferentes grupos. Há um aumento do consumo de maconha, cigarro, bebidas alcoólicas e outras substâncias com alto potencial de adicção. Cabe à família, portanto, acompanhar a rotina dos adolescentes e estar sempre aberta ao diálogo que possa conscientizar e fornecer amparo.

Como se dá o diagnóstico do transtorno alimentar na adolescência?

Fazer o diagnóstico de transtorno alimentar em adolescentes não é tarefa simples. Inicialmente, é preciso que pais e familiares estejam se conscientizando da situação para, posteriormente, conversar com os jovens sobre o problema e encaminhá-los ao profissional clínico.

Ao terem contato com um profissional como nutricionista, nutrólogo, psicológico e psiquiatra, é fundamental que os jovens descrevam todos os sentimentos e sintomas percebidos no dia a dia. A conversa clara ajuda a caracterizar adequadamente o distúrbio.

Também é imprescindível que haja acolhimento por parte dos especialistas no momento da consulta, de modo que o paciente se sinta confortável ao descrever seus problemas e não se preocupe com julgamentos. Isso motiva os jovens a seguir as recomendações terapêuticas.

Em alguns casos, o acompanhamento de diferentes profissionais se torna mais eficiente, principalmente quando o indivíduo apresenta resistência em aceitar o diagnóstico ou necessita de intervenções em diversas frentes terapêuticas.

A abordagem multidisciplinar é essencial para lidar com o transtorno alimentar na adolescência. Nesse método de trabalho, cada profissional atuará dentro de suas responsabilidades clínicas, aumentando o leque de opções a serem abordadas com o paciente.

Em relação aos principais transtornos alimentares, sabe-se que existem sintomas similares entre eles, além de especificidades que só são percebidas pelo olhar de um especialista. Quem tem experiência consegue diferenciar e instituir abordagens personalizadas para cada caso.

Por exemplo, na anorexia nervosa, observa-se um peso corporal extremamente baixo e restrição alimentar severa. Já na bulimia, é comum que o paciente desenvolva desidratação grave de fluidos e eletrólitos, além de sangramento retal.

Quando a internação é necessária em caso de transtorno alimentar na adolescência?

Esse tipo de intervenção ao adolescente com transtorno alimentar será avaliado quando existir risco de vida pela desnutrição ou pela disfunção dos órgãos afetados. Isso porque, dependendo da gravidade do quadro, o distúrbio pode trazer complicações que impactam na sobrevida do indivíduo.

A internação hospitalar ocorre por indicação médica e é conduzida por equipe médica especializada. Nessas situações, o paciente será acompanhado diariamente até que o equilíbrio fisiológico seja restabelecido. Após a alta, ele continuará em tratamento para evitar novas recaídas do problema.

No entanto, também é possível realizar o tratamento ambulatorial ou em consultório. Nesses casos, o suporte da família e dos amigos é fundamental para favorecer a adesão às intervenções propostas. Vale reforçar, novamente, que o acolhimento faz a diferença e deve ser praticado por todos que se envolvem na rede de apoio.

Outro ponto importante, que ajuda no tratamento, é a detecção precoce no diagnóstico. Isso evita complicações físicas e emocionais aos pacientes e até mesmo uma internação. Fica claro, portanto, que devemos ampliar o diálogo sobre o tema em diferentes espaços para que os jovens se sintam seguros em procurar ajuda.

Transtorno alimentar na adolescência é um problema crescente, em parte influenciado pelo culto ao corpo perfeito divulgado nas redes sociais e nos principais meios de comunicação. Houve um aumento da incidência por conta da pandemia, que trouxe prejuízos à qualidade de vida de várias pessoas. Sendo assim, o diagnóstico precoce é fundamental para a intervenção e, em casos mais graves, deve-se optar pela internação.

E você, conhece alguém que esteja vivenciando transtornos alimentares na adolescência? Acredita que essa pessoa necessita de internação? Entre em contato conosco e entenda melhor como funciona esse processo no Hospital Santa Mônica!

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