O consumo de drogas tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, principalmente entre os jovens, que têm fácil acesso a substâncias ilícitas. Uma delas é a cocaína, cujos efeitos são relativamente conhecidos pela população.
Esses efeitos costumam ser resultantes do contato inicial com a droga. Existem, ainda, outras consequências possíveis, que surgem com o consumo prolongado. No longo prazo, o uso da cocaína é muito grave e pode prejudicar definitivamente a saúde do dependente químico.
Se você faz uso dessa substância ou quer ajudar alguém, procure ajuda médica o mais rápido possível. Essa é a melhor maneira de evitar problemas ainda maiores.
Neste post, a coordenadora médica do Hospital Santa Mônica, Dra. Luciana Mancini Bari, irá falar sobre alguns efeitos a longo prazo do uso da cocaína, explicamos como cada um deles se dá e mostramos se é possível reverter o quadro. Acompanhe!
Efeitos a longo prazo do uso da cocaína
Conforme o consumo vai se intensificando e se tornando rotineiro, o corpo do usuário passa a tolerar cada vez mais a substância. A pessoa, então, acaba achando necessário usar uma quantidade maior da droga para sentir os mesmos efeitos de antes.
Como a cocaína interfere no modo como o cérebro processa substâncias químicas, a pessoa tem a real sensação de que precisa da droga para se sentir bem. Ao mesmo tempo em que isso ocorre, partes do cérebro que lidam com o estresse se tornam mais sensíveis, trazendo sensações negativas quando o usuário não está sob o efeito da droga.
A combinação desses dois efeitos faz com que a pessoa busque consumir cocaína com mais frequência e em maiores quantidades. Esse abuso pode trazer impactos graves à saúde. Conheça alguns deles a seguir.
Problemas cardíacos
Um dos efeitos rápidos do consumo da cocaína é a elevação da pressão sanguínea, dos batimentos e a vasoconstrição no cérebro e no corpo. É isso que dá, ao usuário, a sensação de picos de energia, de ansiedade, estresse e paranoia.
O uso prolongado da droga causa danos irreversíveis ao sistema cardiovascular. Esses impactos podem trazer diversos problemas, como dor no peito, pressão alta permanente, taquicardia e arritmia, além de trombos — coágulos de sangue que se formam dentro das veias e podem causar embolia pulmonar, derrames e trombose.
Todos esses efeitos podem culminar em um ataque cardíaco, que hoje é a maior causa de morte entre os usuários de cocaína — ele mata cerca de 25% dos usuários com idade entre 18 e 45 anos, de acordo com dados divulgados pelo Estadão.
Delírios
Um dos efeitos a longo prazo do uso da cocaína são os delírios, que não devem ser confundidos com alucinações. A segunda ocorre quando a pessoa escuta coisas que não existem e tem visões distorcidas. O delírio, por sua vez, tem a ver com síndrome de perseguição. O indivíduo passa a achar que está sempre sendo prejudicado de alguma forma, que está sendo perseguido ou que todos estão conspirando contra ele.
O delírio pode ser facilmente observado no dia a dia, quando, por exemplo, uma pessoa assiste ao noticiário e acha que todos os fatos mostrados podem prejudicá-la. Outros delírios comuns são a sensação de culpa por grandes acidentes, a desconfiança extrema e a crença de que seu pensamento pode interferir no de outras pessoas.
Tudo isso acontece como consequência do desequilíbrio químico do cérebro, causado pelo uso excessivo de algumas drogas — entre elas, a cocaína. O tratamento para os delírios inclui o uso de medicamentos e psicoterapia.
Transtornos psicóticos
Episódios psicóticos induzidos por drogas são comuns, e esse é mais um dos efeitos a longo prazo do uso de cocaína. Para que uma crise seja considerada psicose, as alucinações e delírios precisam ser mais graves do que os que são observados normalmente quando o indivíduo consome substâncias ilícitas. Mesmo depois que o efeito da droga passa, a psicose ainda pode persistir por alguns dias e até semanas.
A psicose é um estado mental de perda de noção da realidade, geralmente acompanhada de alucinações, delírios, alterações na personalidade e problemas para realizar atividades cotidianas. Não é considerada uma doença, mas é um sintoma de transtornos mentais como a esquizofrenia. Segundo uma pesquisa feita por mais de 100 psicólogos espanhóis, 7 em cada 10 pessoas em quadro de vício sofrem desses transtornos.
Problemas na dentição
Ao entrar em contato com os dentes e a gengiva, a cocaína se transforma em uma solução ácida, que provoca a erosão do esmalte dental. Isso quer dizer que o tecido duro que protege os dentes é prejudicado, o que pode causar dor e sensibilidade, além de comprometer a aparência.
Segundo estudos, as principais alterações bucais dos usuários de cocaína são gengivite necrosante aguda, laceração gengival, graves problemas periodontais e até a perda dos dentes.
O palato, popularmente conhecido como céu da boca, também tem chances de sofrer alterações como perfurações e fístulas. Esses problemas prejudicam tanto a articulação da fala quanto o regime alimentar do paciente.
O consumo da droga causa, ainda, um descontrole da musculatura mandibular, o que leva o usuário a ter o impulso de morder — como consequência, há o surgimento de pequenas rachaduras nos dentes, que podem se intensificar e resultar na perda deles. Caso o indivíduo aplique muita força ao ato da mordedura, também pode ter problemas no periodonto — o conjunto de tecidos que suporta o dente.
Falta de nutrientes
Usuários de cocaína e suas derivações, como o crack, podem ficar muito debilitados por causa da perda de apetite, que é um dos efeitos da droga. Quando está sob o efeitos dessas substâncias, o indivíduo não sente fome e passa longos períodos sem comer.
Nos momentos de abstinência, quando o apetite é recuperado, é mais comum que haja o consumo de carboidratos, arroz e feijão, que são alimentos mais acessíveis. A falta de frutas, legumes e verduras na dieta, somada aos dias de jejum, podem trazer consequências graves à saúde, como deficiências nutricionais e empobrecimento do sistema imunológico.
Perda da capacidade analítica
A cocaína provoca pequenas lesões no cérebro de quem a consome, causando efeitos neurológicos cada vez mais intensos, como a morte de neurônios, segundo pesquisa. Alguns desses danos podem ser irreversíveis, como a perda de memória, a dificuldade de concentração e a falta de capacidade analítica.
Para evitar esses e outros efeitos do uso constante da cocaína, é muito importante procurar auxílio médico. É comum que a internação seja necessária para a desintoxicação — assim, o paciente recebe a ajuda de uma equipe multidisciplinar especializada, como a do Hospital Santa Mônica, e aprende como se afastar das situações que favorecem o consumo de drogas.
Importância da desintoxicação química
Para entendermos o conceito de “desintoxicação química”, precisamos saber como a cocaína age no cérebro humano e qual é o conceito de intoxicação.
Segundo o médico e físico suíço-alemão Paracelso, um médico e físico do século XVI, “a diferença entre o remédio e o veneno está na dose”. Essa frase, utilizada até hoje, explica porque todos os fármacos passam por um estudo de ajuste de dose, e porque o exagero pode levar à overdose — literalmente, do inglês, “dose acima do limite”.
A cocaína, no entanto, não é um fármaco. Hoje, a ciência reconhece que não há doses seguras para o uso da droga, devido à proporção dos efeitos nocivos que ela pode causar no corpo humano.
A cocaína age aumentando o efeito de alguns transmissores (como a noradrenalina e a dopamina) desproporcionalmente. Isso causa uma aceleração nos efeitos desses neurotransmissores, levando aos conhecidos efeitos de euforia, agitação e bem-estar — mas também a alterações fisiológicas, como aumento da pressão arterial e a possibilidade de infarto.
Ao longo do tempo, o uso repetido da cocaína faz com que o cérebro reaja a essa quantidade anormal de neurotransmissores: a resposta é a redução do número de receptores a eles, tornando-os menos eficazes. Na prática, isso faz com que uma mesma dose da droga cause menos daqueles efeitos que mencionamos. A consequência é a busca por doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito.
A desintoxicação é o processo reverso a esse. O objetivo é retornar o número de receptores ao nível basal, na mesma concentração de pessoas que não fazem uso da droga. Para isso, é muito importante que haja a suspensão da cocaína — caso contrário, a concentração de neurotransmissores continuaria alta, causando a resposta do corpo.
Nesse processo, a ajuda médica e multidisciplinar é fundamental. Várias ferramentas podem ser utilizadas: desde o uso de outros medicamentos até a internação, por alguns dias, para a verificação da resposta fisiológica.
Impactos do auxílio médico em relação aos efeitos da cocaína
Embora ainda haja um estigma social com o uso da cocaína, é importante frisar que o abuso da droga é considerado, pela ciência, uma doença. O vício é estudado pela medicina, e existem tratamentos disponíveis para resolver a situação — além da possibilidade de se livrar do uso da droga.
Em muitos casos, esse estigma parte não apenas da sociedade, mas do próprio indivíduo: quem já está em uso contínuo de cocaína pode pensar que não consegue viver sem ela ou que depende dela para ser feliz. Isso deriva, em partes, do mecanismo que mencionamos de resposta fisiológica do cérebro, que faz o indivíduo querer cada vez maiores quantidades da droga.
Nos casos em que há uso frequente da droga, não basta interrompê-la de uma vez. Essa tentativa, por si só, pode não funcionar: os pacientes que interrompem abruptamente o uso da cocaína sofrem com os sintomas de abstinência, que incluem depressão, sonolência e craving.
O termo craving vem do inglês, e, embora não tenha tradução literal, é caracterizado como uma vontade incontrolável de retornar o uso da droga. É importante mencionar que esse comportamento é um sintoma, causado por um distúrbio químico do cérebro — ele não deve ser confundido com falta de força de vontade, algo que aumentaria o estigma com o abuso da cocaína.
Para evitar a presença dos sintomas de abstinência, o controle médico e multiprofissional é fundamental. É possível utilizar medicações, psicoterapia e ajuste nutricional, por exemplo, para reduzir os sintomas de abstinência e aumentar as taxas de sucesso da desintoxicação.
Além disso, o ambiente em que se realiza o processo de desintoxicação pode fazer toda a diferença. Como a abstinência da cocaína pode trazer um quadro depressivo, o recomendado é que se realize o tratamento em um local tranquilo, longe de preocupações e de gatilhos que possam piorar o quadro.
É importante frisar que processo para desintoxicação, especialmente em casos graves, pode necessitar de alguns dias de internação. Isso ocorre porque o período de abstinência pode vir acompanhado de sintomas importantes, e é preciso monitorar constantemente os pacientes. Daí a importância de contar com uma instituição de boa qualidade, que tenha experiência nesse serviço e transmita confiança e autoridade.
Além disso, o ambiente controlado de um hospital evita que haja escapadas, ou seja, que o paciente se renda ao craving e busque novamente a droga — um comportamento que é esperado no período de abstinência. Devido a essa função do hospital, é necessário ter muita delicadeza para evitar confundir a experiência da desintoxicação (que tem um propósito benéfico para a saúde do paciente) com uma prisão ou punição.
Expertise do Hospital Santa Mônica para o tratamento de dependentes de cocaína
O Hospital Santa Mônica é especializado no tratamento psiquiátrico, com foco na dependência química. Com uma história de quase 50 anos de atuação, a instituição é uma das principais referências no tratamento do uso de drogas, incluindo a cocaína.
Contamos com uma equipe multidisciplinar, que aborda todos os cuidados necessários para evitar os sintomas mais fortes e obter êxito no tratamento. Além disso, nossa área conta com mais de 50 mil metros quadrados de mata nativa preservada — um ambiente ideal para o tratamento desses pacientes.
Nesse ambiente, quem está se recuperando do uso de drogas se mantém seguro e sabe que os profissionais envolvidos têm como foco principal a melhoria de sua saúde. No longo prazo, isso faz toda a diferença para garantir um sucesso da terapia.
Além de contar com um serviço de atendimento 24h, o Hospital Santa Mônica também lida com cuidados pediátricos para pacientes acima de 8 anos de idade. Entre outras áreas de expertise, está o atendimento a idosos — algo comprovado por sua recepção a pacientes de todo o Brasil, não apenas de São Paulo.
O uso da cocaína é um problema global, que também tem impactos em todo o Brasil. Além dos efeitos nocivos que a substância traz para o corpo, o tratamento configura um desafio, devido aos sintomas de abstinência. Contar com uma instituição de renome e de destaque é fundamental para garantir o sucesso no tratamento.
Se você tem problemas com drogas ou quer ajudar alguém que esteja passando por isso, entre em contato com o Hospital Santa Mônica e conheça melhor os serviços de reabilitação oferecidos pela instituição!