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Dependência Química

Quais são os tipos de alcoólatras?

quais são os tipos de alcoólatras

O álcool faz parte da nossa cultura há muito tempo. Ele é consumido por pessoas de diferentes idades, em diversos tipos de situação e, às vezes, em quantidade exagerada ou em um padrão de consumo que causa sérios problemas de diversas naturezas. Quando isso acontece, os efeitos negativos prevalecem sobre os positivos e podem gerar consequências no longo prazo, como o alcoolismo ou dependência ao álcool. Para lidar com esse problema, é preciso, antes de tudo, identificar os tipos de alcoólatras.

Além disso, é preciso entender os riscos e tratamentos possíveis para esse grave problema de saúde pública. Para nos ajudar com o tema, convidamos o psiquiatra da unidade de dependência química do Hospital Santa Mônica, Dr. Cláudio Duarte, visando esclarecer várias dúvidas. Quer saber mais? Então, continue a leitura e confira este texto agora mesmo!

Quais são as estatísticas sobre alcoolismo no Brasil?

O alcoolismo é uma doença que se caracteriza pela incapacidade de controle sobre a ingestão de álcool devido à dependência física e emocional. Segundo dados do Ministério da Saúde, quase 19% da população brasileira é classificada como consumidora abusiva de álcool.

Uma pesquisa da OPAS/OMS ainda cita que, em todo o mundo, cerca de 3 milhões de mortes ao ano provêm do abuso de ingestão dessa substância, o que representa mais de 5% de todas as mortes.

Existem vários tipos de alcoolismo, que se diferenciam pelas características do paciente — idade atual, idade em que começou a abusar do álcool, idade em que se tornou dependente, histórico familiar e presença ou ausência de transtornos mentais ou abuso de outras drogas. 

Essa classificação foi criada com base em uma grande pesquisa desenvolvida por três instituições americanas: National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), National Institute of Health (NIH) e National Epidemiological Survey on Alcohol and Related Conditions (NESARC). A seguir, saiba mais sobre cada uma dessas classificações.

Quais os tipos de alcoólatras?

Antes de começarmos a explicar cada um dos tipos de alcoólatras, precisamos deixar claro que essa classificação não é usada como diagnóstico para determinar se um indivíduo sofre ou não de alcoolismo. Ela tem como objetivo facilitar os estudos sobre a doença e guiar pesquisas relacionadas ao tema e às formas de prevenção. 

Alcoólatra jovem adulto

O estudo americano sobre os tipos de alcoólatras indica que 31,5% dos dependentes se encaixam nessa categoria, que corresponde ao maior grupo. Os alcoólatras jovens adultos costumam começar a beber no final da adolescência, por volta dos 19 anos, e se tornam dependentes alguns anos depois, com idade em torno de 24 anos.

Não é comum que os indivíduos desse grupo tenham transtornos mentais nem abusem de outras substâncias químicas, apesar de ser possível. Também é incomum que tenham outros familiares alcoólatras. Muitos deles ainda estão na faculdade ou acabaram de sair da casa dos pais e estão experimentando a independência da vida adulta pela primeira vez.

O alcoólatra jovem adulto costuma beber com menos frequência do que os outros. No entanto, quando o faz, a tendência é que exagere na dose e pratique o binge drinking (nome dado a um padrão de consumo onde se bebe 6 ou mais doses por ocasião, levando a embriaguez rapidamente) . Este quadro é mais masculino, ainda que seja tendência contemporânea que isto venha a se igualar, mas o número de homens jovens adultos alcoólatras é cerca de 2,5 vezes maior que o de mulheres.

Alcoólatra jovem antissocial

Cerca de 21,1% dos alcoólatras são do tipo jovem antissocial, que representa aqueles que começam a beber ainda na adolescência, com cerca de 15 anos de idade, e desenvolvem dependência nos primeiros anos da vida adulta, muitas vezes antes dos 20, com importante associação de comportamentos disruptivos e antissociais, violência, criminalidade, pouca empatia pelo próximo.  

Mais da metade dos membros desse grupo apresenta traços de Transtorno da Personalidade Antissocial. Também é comum que essas pessoas tenham depressão, fobias, Transtorno Obsessivo-Compulsivo e abusem de outras substâncias, como cigarro, maconha, cocaína e opioides. 

Mais de 75% dos alcoólatras jovens antissociais são homens e tiveram pouco ou nenhum acesso à educação de qualidade — o mesmo acontece em relação ao mercado de trabalho. Essas pessoas têm o costume de beber grandes quantidades de álcool de uma só vez.

A probabilidade de que esse tipo de alcoólatra busque tratamento é maior do que a dos jovens adultos — 35% deles já procuraram ajuda em algum momento. Os membros desse grupo são os que têm mais chance de buscar tratamento em clínicas, mas muitos também recorrem a grupos de apoio.

Alcoólatra funcional

Os alcoólatras funcionais formam um grupo com idade um pouco mais avançada do que os mencionados anteriormente — eles têm cerca de 40 anos e se tornaram dependentes depois dos 30, apesar de terem começado a beber no início da vida adulta. 

Os membros desse grupo apresentam taxas moderadas de depressão, mas é raro que sofram com outros transtornos mentais. Muitos deles também fumam cigarros, mas não há muitos casos de abuso de outras drogas.

Cerca de 60% dos alcoólatras funcionais são do sexo masculino. De todas as classificações, esse é o grupo com menos chance de ter problemas legais decorrentes do alcoolismo. Aqui, prevalecem pessoas com bons níveis de educação e variados níveis de renda. 

Muitos dos alcoólatras funcionais são casados e sofrem por causa do vício. Menos de 20% deles já procuraram ajuda profissional para cuidar do problema — desses, a maioria recorre a grupos de apoio e a clínicas particulares. 

Alcoólatra crônico

O alcoólatra crônico é o tipo menos comum — segundo a pesquisa, apenas 9,2% dos dependentes de álcool estão nessa classificação. Os integrantes desse grupo começam a beber na adolescência e desenvolvem a dependência por volta dos 30 anos de idade. 77% dos alcoólatras crônicos têm parentes que também sofrem de alcoolismo, e 47% deles apresentam transtornos de personalidade. 

Esse tipo de alcoólatra também é o mais propenso a sofrer com depressão, ansiedade, transtorno bipolar, fobias e síndrome do pânico. Além disso, não é incomum que passe, com a evolução do quadro, a consumir outras drogas.

O alcoólatra crônico é o tipo que mais faz esforços para se curar, mas nem sempre tem sucesso. Além disso, é o que tem mais emergências de saúde como consequência do abuso de álcool.

Esse grupo também é o que mais sofre com problemas familiares por causa do vício — aqui, os números de divórcios e separações são os mais altos em relação às outras classificações. Os alcoólatras crônicos bebem com mais frequência, mas em menor quantidade em relação aos outros grupos. 

Alcoólatra familiar intermediário

Os membros desse grupo são aqueles que têm parentes próximos que sofrem de alcoolismo. Eles começam a beber no final da adolescência e desenvolvem dependência com cerca de 30 anos de idade. Os alcoólatras familiares intermediários também têm grandes chances de sofrer com transtornos de personalidade, depressão e ansiedade, além de fazer uso de outras substâncias, como cigarro, maconha e cocaína

Estima-se que 64% dos integrantes desse grupo são homens. Eles costumam ter boa educação e ser ativos no mercado de trabalho, mesmo que a renda não seja alta. O alcoólatra familiar intermediário não costuma buscar tratamento profissional, mas pode recorrer a grupos de apoio e, às vezes, buscar ajuda em clínicas de tratamento.

Quais os perigos do alcoolismo?

A pesquisa realizada pela OPAS/OMS ainda destaca uma série de perigos relacionados ao álcool que vão além do percentual elevado de mortes causadas pelo consumo nocivo dessa substância.

Por exemplo, o alcoolismo está relacionado a mais de 200 doenças e lesões, contribuindo para 5,1% da carga global de doenças, medida em Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade DALY  (Disability Adjusted Life Years).

Especialmente entre jovens de 20 a 39 anos, 13,5% das mortes são atribuídas ao álcool. O álcool também está associado a transtornos mentais, doenças crônicas e lesões. Ainda, aumenta o risco de doenças infecciosas, como tuberculose e HIV/AIDS.

Além dos problemas de saúde, o alcoolismo provoca grandes perdas sociais e econômicas. Trata-se de um problema grave que exige ações de prevenção e tratamento, demandando também o entendimento dos seus efeitos no corpo humano.

Quais os efeitos do álcool no corpo?

Agora que você já conhece os perigos do alcoolismo para a vida humana, que tal entender quais são os efeitos que essa substância pode gerar no funcionamento do nosso corpo? Continue a leitura e veja o que nosso especialista fala a respeito.

Efeitos no fígado

Dr. Claudio nos explica que o álcool não é uma substância interessante pela forma que ele é processado e usado como energia pelo nosso organismo. Ele explica que se trata de uma caloria vazia, sem outros elementos nutricionais e que ainda para ser usado como energia consome as vitaminas de outros alimentos e leva a estresse metabólico.

Nosso especialista ainda destaca que o álcool impõe uma sobrecarga significativa ao nosso organismo, especialmente ao fígado e aos rins, para ser metabolizado. Ele ressalta que, cada vez que o fígado precisa decompor o álcool para processá-lo em moléculas de etanol, acaba comprometendo sua eficiência em outras funções essenciais.

O álcool ainda interfere no metabolismo adequado dos lipídios, dificultando o funcionamento geral do organismo. Para remover as substâncias tóxicas, o corpo enfrenta obstáculos que prejudicam suas funções naturais e, consequentemente, o metabolismo.

“Quando uma pessoa consome uma quantidade grande de álcool, está forçando o fígado a processar a substância, impedindo-o de trabalhar corretamente no metabolismo dos lipídios”, explica o Dr. Claudio. Esse processo pode resultar no acúmulo de gordura no fígado, além de prejudicar outras funções importantes para o bom funcionamento do corpo, como por exemplo, os hormônios.

Efeitos no rim

“O rim também sofre bastante, porque para excretar os metabólitos do álcool, ele é obrigado, de alguma forma, a usar mais água”, explica Dr. Claudio. Então, a pessoa que bebe se desidrata, podendo causar danos a esse órgão.

Nesse sentido, nosso especialista explica que “temos uma alteração do ponto de vista do equilíbrio hidroeletrolítico, dos íons e da água no nosso sangue”. Esse cenário acaba gerando prejuízos à saúde.

Dr. Claudio ainda destaca que o pâncreas também pode sofrer com o consumo do álcool no longo prazoe também agudamente nos episódio de abuso mais intenso, levando a pancreatites agua e crônica, muito graves.

Ele explica que essa substância, o etanol, também pode ser cancerígena, pois as células são obrigadas a se transformar para se proteger da agressão que ela causa. Isto ocorre no sistema digestivo como um todo, “desde a boca, faringe, laringe, esôfago, estômago, fígado, intestino (cólon e reto) e até de mama, melanoma, próstata e bexiga.

Danos aos circuitos cerebrais

Segundo o especialista, o álcool é um depressor do sistema nervoso central e atua diminuindo as atividades neuronais. Ele explica que essa droga consegue atravessar a barreira hematoencefálica, que é uma proteção para que determinadas substâncias não cheguem ao nosso cérebro.

À medida que o álcool supera essa barreira, começa a inibir várias funções. É por isso que a coordenação motora diminui, a capacidade de avaliar perigos fica reduzida e o discernimento entre certo e errado é comprometido.

“A pessoa começa também a ter uma dificuldade de manter a atenção, a memória, a fixação e a destreza mental”, esclarece Dr. Claudio. Ou seja, o álcool prejudica nossa eficiência cognitiva.

Como identificar os primeiros sinais de dependência?

Existem vários sinais clássicos da dependência do álcool. Segundo Dr. Claudio, dois deles são muito interessantes e fáceis de perceber. O primeiro é o desenvolvimento da chamada tolerância, ou seja, a mesma quantidade não produz o mesmo efeito, e o sujeito tende a aumentar o volume de álcool para conseguir obter o mesmo resultado.

O segundo sintoma é a abstinência, o oposto da tolerância. “Quando a pessoa reduz ou interrompe o consumo, ela apresenta sintomas típicos da falta de álcool, resultando na síndrome de abstinência, que causa tremores, taquicardia, sudorese, convulsões, confusão mental, entre outros,” explica o especialista.

Outro sintoma típico da instalação de uma dependência é que, pouco a pouco, a pessoa abandona outras atividades da sua vida. Ela deixa de exercer os seus papéis e simplesmente privilegia o consumo da bebida.

É comum também que o indivíduo continue bebendo a despeito dos problemas que isso causa a ele. “Assim, começam as reclamações de todos ao seu redor: ele se atrasa, passa mal, precisa de atendimento médico, perde o emprego e gasta muito dinheiro,” destaca o Dr. Claudio.

Quais os tratamentos para o alcoolismo?

O tratamento para o alcoolismo deve ser iniciado quando for constatado que a bebida interfere negativamente no dia a dia do paciente. Após a identificação dos sintomas e do diagnóstico, é feita uma desintoxicação.

sse processo pode usar medicamentos para ajudar a diminuir a compulsão. Paralelamente, é indicado que o paciente seja acompanhado por um psicoterapeuta. “Muitas vezes, o álcool vem junto com algum problema ou é causado por ele, sendo comum que a pessoa se deprima e tente buscar nessa substância uma solução para o seu quadro”, esclarece Dr. Claudio. Em muitos casos existem medicações que ajudam muito a superar e controlar o problema, mas remédio nem sempre é necessário e maior parte das vezes não é o suficiente. O segredo é atacar o problema em todas as frentes indicadas: remédio, terapia, grupos, abordar a família, melhorar a qualidade de vida como um todo.

O especialista também ressalta a importância de os familiares buscarem suporte profissional para orientação sobre como agir. Esse auxílio pode ser fornecido por psiquiatras, psicólogos ou grupos de ajuda mútua.

Como o Hospital Santa Mônica pode ajudar?

Contar com o suporte de uma clínica de recuperação para alcoólatras é um passo importante para realizar o tratamento adequado do alcoolismo. Nesse sentido, o Hospital Santa Mônica conta com uma equipe multidisciplinar especializada no tratamento contra dependência química, com 55 anos de experiência.

O Hospital também oferece uma infraestrutura completa para internação hospitalar, caso seja necessário. Além disso, há a realização de atividades complementares ao tratamento.

Agora que você já sabe quais são os efeitos do álcool no corpo de um alcoólatra, entende os sinais desse problema e sabe como fazer o tratamento, fica mais fácil encontrar ajuda para lidar com esse cenário. Contar com especialistas e usar os conhecimentos repassados pelo Dr. Claudio Duarte também é fundamental para ajudar quem você ama.

Se depois de conhecer os tipos de alcoólatras, você acha que se encaixa em algum dos grupos ou pretende ajudar alguém, conheça o nosso hospital e a nossa unidade de tratamento para dependência química.

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