O aumento constante de mortes por álcool é uma questão preocupante no contexto familiar e social. Isso porque as causas do uso abusivo de bebidas alcoólicas são diversas, e as consequências afetam significativamente a qualidade de vida dos indivíduos.
Além disso, fatores desencadeadores novos, como a pandemia do coronavírus, trouxeram muitos desafios, em especial o de lidar psicologicamente com essa situação vivida por todos.
A principal consequência, ainda vivenciada atualmente, é a necessidade de isolamento social como forma de conter o avanço da doença. Sendo assim, a nova rotina levou as pessoas a buscar alternativas para o entretenimento, já que os passeios e reuniões com amigos tiveram que ser deixados de lado.
No chamado novo normal, algumas das opções de lazer mais comuns são as lives musicais, as videoconferências com parentes e amigos e as noites de petiscos. Tudo isso é acompanhado, geralmente, por um drink, uma taça de vinho ou uma cerveja.
Mas será que esses novos hábitos são saudáveis? O uso abusivo de álcool traz consequências graves para a saúde, e o aumento no consumo durante a pandemia é um dado que preocupa os especialistas. Quer saber mais sobre isso? Continue a leitura!
O consumo de álcool durante o distanciamento social
Consumir bebidas alcoólicas em quantidades moderadas, com responsabilidade e em ocasiões sociais, é um hábito que tem riscos reduzidos, apesar de a Organização Mundial de Saúde considerar que não existe um limite mínimo e seguro para o consumo.
No entanto, beber com frequência, em grandes quantidades e em momentos de vulnerabilidade aumenta as chances do desenvolvimento de dependência química e outras consequências do uso abusivo de álcool.
Desde 24 de fevereiro de 2020, quando o Brasil teve o seu primeiro caso de Covid-19, até o início de maio, a venda de bebidas alcoólicas subiu 93,3% no país. O número é significativo e mostra que os brasileiros estão buscando na bebida alcoólica uma forma de relaxar diante de tantas incertezas.
As preocupações nesse momento são diversas. Elas envolvem o medo de se contaminar, de perder pessoas queridas e até em relação à economia do país. O álcool é encarado por alguns como uma válvula de escape para esses pensamentos — e isso é muito perigoso.
Nesse sentido, o desenvolvimento do alcoolismo, para alguns, pode ocorrer devido a essa percepção negativa dos acontecimentos, enquanto para outros pode se intensificar drasticamente a ponto de colocar a vida em risco.
A falta de uma rotina definida também contribuiu com o aumento do consumo de bebidas alcoólicas no período de distanciamento social. Com os dias muito parecidos, as pessoas até se esquecem em qual momento da semana estão. Assim, quem bebia apenas aos finais de semana já não segue mais essa regra.
Outro fator preocupante é o aumento do consumo de bebidas alcoólicas por jovens e idosos, que desenvolvem os mesmos sentimentos de angústia, apreensão e incerteza sobre a volta da normalidade.
Os sinais do uso abusivo de álcool
Como dissemos, o consumo moderado de álcool não oferece grandes riscos à saúde — o problema é quando ele se torna um hábito. Mas como saber a diferença entre o consumo responsável e o abusivo? Para ajudar você a identificar um provável problema, preparamos uma lista com alguns comportamentos que indicam que o consumo já passou dos limites:
- beber para aliviar o estresse;
- beber por tédio;
- beber no horário de trabalho;
- preocupar-se constantemente em ter álcool suficiente em casa;
- deixar de cumprir com algumas responsabilidades para beber ou porque bebeu demais;
- incomodar-se muito com críticas sobre a quantidade de bebida consumida;
- tomar más decisões quando está sob efeito do álcool;
- sentir ansiedade, tremer, ter batimentos acelerados ou alucinações quando bebe;
- não conseguir parar de beber.
Os sintomas relatados, principalmente os dois primeiros, são atos justificados pelas pessoas que não querem considerar a questão da dependência. Para aqueles que recebem críticas pelo consumo de bebidas, muitos começam a beber escondido para evitar esse questionamento.
Assim, quando uma pessoa apresenta um ou mais dos sintomas relatados, é importante alertá-la, mesmo que ela justifique que esse comportamento está acontecendo por causa do distanciamento social ou outros fatores.
Portanto, deve-se avaliar os motivos frequentes que as pessoas utilizam para consumir bebidas alcoólicas de forma desordenada. Outro ponto é não se deixar influenciar pelas publicações nas redes sociais e pelo eventual convencimento dos amigos de que o ato de consumir bebidas alcoólicas não traz prejuízos.
Os perigos do consumo excessivo de álcool
O consumo excessivo de álcool é prejudicial à saúde e apresenta diversos riscos para as pessoas.
Dependência química
O alcoolismo é uma doença psiquiátrica que se caracteriza pela dependência química do álcool. Ela pode surgir por diversos motivos, como o contato precoce com a bebida, o histórico familiar e o consumo excessivo, principalmente quando o álcool é associado à diversão ou glamourizado.
Normalmente, as pessoas não percebem como a influência da mídia e de amigos é determinante para o início e a manutenção desenfreada desse hábito. E quando o círculo social se dá conta, a pessoa já é dependente.
Existem alguns tipos de alcoólatras — a classificação leva em conta as características dos pacientes. Somados, eles chegam a mais de 4 milhões de pessoas, somente no Brasil, o que torna o alcoolismo um problema de saúde pública.
Quando se fala em dependência química, isso significa que o organismo já se acostumou com a presença contínua do álcool. Assim, em períodos sem a substância, aparecem diversos sintomas relacionados à abstinência.
Danos ao sistema nervoso central
A bebida afeta o sistema nervoso central, mesmo quando consumida em pequenas quantidades. A fala lenta e o desequilíbrio corporal são os primeiros sinais e podem ser observados após algumas doses.
A longo prazo, esses danos podem ser mais significativos. Tontura, formigamento, perda de memória e redução da absorção de vitaminas são algumas das consequências do uso abusivo de álcool.
Além dos danos cerebrais, é importante mencionar o prejuízo na função do fígado, órgão responsável pela metabolização do álcool. O alcoolismo pode inclusive levar à hepatite alcoólica irreversível.
Disfunção sexual
Algumas pessoas enxergam o álcool como uma forma de desinibição sexual. Mas, na verdade, o que acontece é bem diferente. Em um primeiro momento se observa dificuldade de ereção ou ejaculação precoce.
Com o uso prolongado de bebidas alcoólicas, homens podem sofrer com disfunção erétil e ter a produção de alguns hormônios sexuais prejudicada, afetando inclusive a fertilidade.
Para as mulheres, o uso abusivo e prolongado de álcool pode resultar em infertilidade, maior probabilidade de aborto e gravidez de alto risco, além de causar a Síndrome do Alcoolismo Fetal nos bebês.
Danos cerebrais
Os efeitos do álcool no cérebro podem ser sentidos rapidamente. Alguns deles são temporários, como a perda de memória e a falta de coordenação motora. Mas, assim como a maioria dos órgãos do sistema nervoso central, o cérebro sofrerá efeitos irreversíveis.
O uso abusivo de álcool prejudica definitivamente as funções cerebrais e as estruturas do sistema nervoso. As consequências são problemas de comunicação, falhas cognitivas e dificuldades de equilíbrio, por exemplo.
Além disso, o uso abusivo de álcool impede a formação de novos neurônios. Com isso, afeta a capacidade de o indivíduo aprender coisas novas ou lembrar de conhecimentos já consolidados em sua memória.
Problemas comportamentais
O álcool prejudica a capacidade do indivíduo de tomar decisões e, assim, altera alguns comportamentos. A agressividade é uma das consequências do consumo de álcool em excesso, e isso pode trazer sérios problemas tanto para quem bebe quanto para quem convive com essa pessoa.
Beber demais faz com que o indivíduo tome atitudes sem medir as consequências para si e aqueles ao seu redor. As pessoas podem, por exemplo dirigir alcoolizadas e realizar outras atividades perigosas, trazendo impactos para a sociedade.
Durante a pandemia, com o aumento do consumo de bebidas alcoólicas, cresceu também o número de casos de violência doméstica. Apenas em março e abril de 2020, o feminicídio cresceu 22,2% em 12 estados do país, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
O aumento no número de mortes por alcoolismo
A morte por álcool é uma das mais frequentes na população adulta, pois aumenta as chances de o indivíduo desenvolver disfunção hepática e distúrbios renais, piorando o quadro clínico geral. Nesse sentido, ocorrerá a falência de diversos órgãos de forma simultânea.
Além disso, o alcoolismo é um fator de risco quando o indivíduo já tem outras doenças, como aquelas que afetam o coração, o estômago e a circulação sanguínea. Problemas de saúde que impactam o sistema reprodutivo do homem e da mulher também são fatores de risco.
Segundo um estudo que associou dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), houve um aumento significativo de mortes por álcool a partir de 2020, ano em que se decretou a pandemia pelo novo coronavírus, trazendo mais de 7 mil óbitos nesse período.
Porém, o Ministério da Saúde alerta que os eventos fatais não podem ser atribuídos apenas a esse fator. Esse aumento foi maior para aqueles indivíduos que já eram considerados abusadores da bebida, antecipando assim a morte por álcool. Outros fatores foram considerados, com o isolamento social e familiar, o desemprego e a perda de renda financeira.
Outro estudo idealizado pela Organização Pan-Americana de Saúde, sobre o consumo de álcool durante a pandemia, demonstrou que a quarentena teve uma associação positiva com os eventos sociais realizados de forma virtual. Isso significa que o consumo de álcool aumentou durante o isolamento. Também foram descritos sintomas de ansiedade nos episódios de consumo excessivo de álcool, socialização online e uso de bebidas alcoólicas antes das 17 horas.
Casos de coma alcoólico
O coma alcoólico é uma reação de extrema exaustão do organismo, causada pela quantidade excessiva e em curto tempo de bebidas alcoólicas. Isso acontece porque o fígado não consegue processar rapidamente a quantidade de álcool ingerida; assim, a pessoa perde a consciência.
Nessa situação, o indivíduo fica inerte, sem reação motora ou consciente, e precisa ser levado urgentemente ao hospital para que se faça a desintoxicação por meio do aumento da excreção de álcool associada a outras medidas.
O coma alcoólico, está associado à grande ingestão de bebida alcoólica, porém é mais rápido naqueles indivíduos com dificuldade de metabolização, o que os torna mais sensíveis aos efeitos clínicos. Isso explica por que os efeitos são observados mais rapidamente e de forma mais intensa naqueles indivíduos que tiveram pouco contato com bebidas alcoólicas.
Outro ponto agravante é a pessoa ter diagnóstico de outros problemas de saúde, como de redução da circulação sanguínea e insuficiência renal. O uso de medicamentos psicotrópicos é outro fator de risco.
Nesses casos, a recuperação é mais demorada e podem surgir outros problemas como pancreatite e infecções de outros órgãos, principalmente se o paciente já tiver outras infecções.
As atitudes para lidar com o alcoolismo
A pandemia e o isolamento social são prejudiciais para quem luta contra o alcoolismo. Pessoas que fazem uso abusivo de álcool podem sofrer com ansiedade, solidão, diminuição da imunidade e crises de abstinência, caso o acesso às bebidas seja dificultado.
Nessas situações, algumas medidas podem ajudar. Meditação, terapia e encontros virtuais com grupos de apoio são alguns exemplos. No entanto, caso os problemas persistam, o mais indicado é buscar ajuda profissional.
O tratamento contra o alcoolismo envolve a desintoxicação, que pode ser feita com o apoio de medicamentos e psicoterapia. Para evitar complicações e recaídas, é muito importante que o diagnóstico e o tratamento sejam realizados por profissionais capacitados.
Outro ponto importante é apoiar as decisões daqueles indivíduos que queiram se tratar para reduzir a dependência química ao álcool. Nesses casos, o processo psicológico de aceitação por parte dos familiares e amigos é o primeiro passo para o sucesso.
O Hospital Santa Mônica é uma instituição especializada em Saúde Mental e reabilitação para alcoólatras. O estabelecimento conta com equipe multidisciplinar e infraestrutura completa para as consultas médicas e atividades terapêuticas.
A internação para tratamento do alcoolismo
A internação para tratamento de alcoolismo é recomendada quando existe risco de morte para o indivíduo, em função da desnutrição apresentada, do estado físico geral e das alterações neurológicas já presentes.
Nesse sentido, existe a internação emergencial para tratar o coma alcoólico, que pode perdurar por muito tempo se ocorrerem complicações clínicas durante a permanência no hospital.
Outro tratamento hospitalar é a hidratação endovenosa, suplementação vitamínica e medicamentos para reduzir a abstinência. A reabilitação é um processo contínuo que precisa da adesão do paciente e deve ser colaborativo com os demais integrantes da família para facilitar a assimilação de todos em prol de um acolhimento efetivo.
Somente com uma avaliação multiprofissional detalhada será possível determinar o esquema terapêutico. Por isso, quanto mais rápida for a intervenção, menores serão os prejuízos para a vida social e profissional do indivíduo.
A morte por álcool é uma das consequências pelo uso excessivo e prolongado de bebidas alcoólicas. Além dessa condição fatal, outros problemas podem ser descritos sobre o alcoolismo, como danos cerebrais, hepáticos, nutricionais assim como os impactos psicológicos e profissionais. Por isso, é fundamental buscar ajuda especializada para controlar a doença e evitar danos irreversíveis.
Se você acha que pode ter problemas com o uso abusivo de álcool ou quer ajudar alguém, entre em contato conosco e saiba como podemos auxiliar!