Lidar com a dependência química é um desafio em muito sentidos. Antes de tudo, é necessário enfrentar a própria negação: mesmo que, ao redor, muitas pessoas ofereçam ajuda, é bem comum o adicto achar que não necessita dela.
A fase de aceitação na reabilitação do dependente químico também não é nada fácil: é preciso lidar com todos os efeitos físicos e psicológicos da abstinência e encontrar forças para continuar lutando. Quando juntamos tais sintomas a um histórico de depressão, as dificuldades crescem, pois, além do vício, existe a dor que precisa ser ressignificada.
No entanto, histórias de superação existem. Uma delas é a de Rodrigo Ramalho, 36 anos, técnico em enfermagem, que nos contou, com detalhes, sua trajetória. Continue a leitura e se inspire!
Como a história de Rodrigo Ramalho começou
Rodrigo relata que tudo começou com uma depressão que, inicialmente, não foi levada a sério. A primeira pessoa a notar algo diferente foi sua professora da faculdade, em 2010. “Ela percebeu alguns traços de depressão e me aconselhou a procurar ajuda, mas, na hora, eu brinquei.”
Então, os anos passaram sem Rodrigo ir atrás de apoio. “Em 2014, eu já apresentava todos os sinais de que algo não ia bem. Meus familiares já chamavam minha atenção, dizendo que eu estava mudado. As pessoas viam os sintomas, só eu que não.”
O estopim que fez Rodrigo se dar conta de sua condição chegou após um problema conjugal: “Tive uma série de dificuldades depois disso. Não conseguia mais dormir bem, mas me forcei a continuar trabalhando. Com o tempo, todos no serviço perceberam que eu não estava legal e fui encaminhado a um psiquiatra”.
Durante esse período de forte depressão, Rodrigo recorda que chegou a tentar suicídio e recorreu à cocaína. No começo, usava em dias alternados, depois, aumentou a frequência. No entanto, apesar de perceber que não estava legal, não cedeu ao tratamento: “tive uma consulta longa, o médico me afastou do serviço e receitou medicamentos, mas não tomei. Na minha cabeça, depressão era frescura ou coisa de gente rica”.
O primeiro passo: ajuda
As dificuldades cresciam, mas Rodrigo não cedia. Então, a internação hospitalar precisou ser compulsória. “Saí de casa e fiquei fora por uns dias. Recebi uma mensagem da minha mãe, pedindo para eu voltar. Voltei e, pouco tempo depois, chegou uma pessoa para me levar para o hospital psiquiátrico. Foi um momento muito difícil.”
Assim como aconteceu com Rodrigo, esse primeiro passo costuma surgir da família, já que o dependente nem sempre tem a iniciativa. Essa sensibilidade dos familiares quanto à decisão pode fazer a diferença na recuperação.
O processo de reabilitação do dependente químico
A reabilitação é um processo longo, e a paciência é fundamental. O paciente passa por uma desintoxicação, cujo tempo varia de acordo com o nível de toxicidade no organismo.
O uso de medicamentos é necessário e a ajuda psicológica também faz parte, principalmente, quando se nota uma relação entre depressão e uso de drogas. Costuma haver recaídas, que precisam ser encaradas como parte do processo.
Assim, mesmo quando o paciente demonstra vontade de deixar o vício, é possível que ele precise passar mais de uma vez pela internação. “Na minha história, fui internado dez vezes. Só a primeira foi compulsória, nas outras, eu mesmo consenti. Já conhecia o tratamento e concordei que era o melhor para mim”, explica Rodrigo.
A participação da família na reabilitação do dependente químico
Dentro do hospital psiquiátrico, os profissionais fazem sua parte, ajudando o paciente na reabilitação. No entanto, a família tem um papel fundamental para que o dependente se sinta acolhido e supra suas necessidades de amor.
“Eu não recebia visitas da minha família nas minhas internações. Todos entendiam que eu precisava da clínica, mas não me davam o suporte emocional. É muito difícil fazer um tratamento, ter ideias suicidas e, quando chega o dia de visita, você ver todos os seus colegas tendo os familiares por perto, e você não. Isso pesou muito para mim, me fez sentir sozinho. Na minha visão, a família precisa ter participação no tratamento”, avalia Rodrigo.
O papel da clínica de reabilitação no sucesso do tratamento
Os profissionais que atuam na unidade de dependência química são capacitados para enfrentar a reabilitação e ajudar o paciente a lidar com todas as dificuldades existentes no caminho. Uma boa clínica de reabilitação para dependentes químicos deve contar com ambientes adequados, inspirar segurança e paz.
Áreas verdes são importantes para momentos de relaxamento. A estrutura, com salas e dormitórios, por exemplo, também precisa oferecer qualidade e conforto.
Rodrigo recorda, com carinho, da atenção recebida dos funcionários do hospital, quando sentia falta da sua família. Os profissionais — psiquiatras e psicólogos — também têm um espaço em seu coração. “Lembro de um momento, próximo da minha alta, em que estive com Chaves, psicólogo do hospital, e ele me disse algo que marcou: ‘existem coisas que acontecem na nossa vida que mudam toda nossa trajetória’. Levo essa frase comigo.”
Além desse momento, Rodrigo conta outro fato marcante na sua história e que foi determinante para ele buscar ajuda. “Eu não sou religioso, mas um dia eu cheguei e fiz um apelo a Deus, eu falei ‘senhor, eu não aguento mais’. Depois desse apelo, eu nunca mais senti prazer em usar droga. Esse momento mudou a minha história”, relembra emocionado.
A importância da reabilitação para a retomada da rotina
O processo de internação para reabilitação de dependentes químicos pode ter altos e baixos, mas, com apoio, são superados. Depois, a alta da clínica é o início de uma nova jornada, que ainda contará com lutas diárias.
“Depois de ter saído do Hospital Santa Mônica, meu psiquiatra sugeriu minha volta ao trabalho. Aceitei, mesmo sentindo dificuldades nos primeiros dias. Me falaram, ainda, que minha estabilidade seria de apenas 30 dias. Mas quando entrei no setor, eu dizia para mim mesmo: ‘hoje, serei o melhor funcionário dessa empresa’. No segundo dia, disse a mesma coisa. Foi assim durante os 30 dias. Eu me destaquei em tudo o que fiz.”
“Passado esse tempo, fiquei esperando minha demissão. Uma semana depois do prazo vencido, fui chamado pela minha gerente. Tinha chegado o dia da demissão. Então, entrei na sala, ela quis saber sobre o meu estado e me ofereceu a vaga que eu tinha antes de tudo acontecer. Ela me disse que queria ter o funcionário top que ela tinha de volta. Isso para foi muito importante”, relembra Rodrigo.
“Em uma semana, eu já estava ensinando meus colegas e me destacando como nunca. Em dois meses, eu consegui voltar para a mesma vaga que eu tinha antes da minha depressão e das drogas”, conta Rodrigo.
Enfim, a reabilitação do dependente químico, como você viu, pode não ser fácil, mas é possível e abre muitas portas. Rodrigo, agora, está de alta, sem medicamentos e escrevendo uma história difícil, mas inspiradora. “Para mim, é só por hoje, todos os dias. Em um ano que eu levei a sério meu tratamento, consegui recuperar tudo o perdi. Estou casado de novo e, em 36 anos, nunca estive em uma fase tão boa. Levar a sério o tratamento é muito importante”, reflete.
O que achou dessa história? Caso precise de informações sobre nossas internações, entre em contato conosco!