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Dependência química: a batalha de Carla e Juliano contra a Cocaína

História Carla e Juliano

Carla* e Juliano* estavam nervosos, em breve a ambulância chegaria para os levar ao hospital, mas também logo chegaria o traficante com a última dose de cocaína deles antes da internação. A cada batida do relógio, eles olhavam pela janela, agitados e ansiosos para que a entrega chegasse antes dos médicos. 

O casal havia decidido se internar depois que Carla ficou grávida, mas será que eles conseguiriam? Havia vida para eles longe das drogas? O que aconteceria com eles? E se os separassem de novo? O traficante chegou, a ambulância ainda não. 

Carla e Juliano é um casal que ficou internado no Hospital Santa Mônica entre janeiro e abril de 2018. Ambos com dependência química, eles perderam tudo, mas encontraram no filho uma nova esperança. E é por isso, que temos tanto orgulho de contar a história de superação deles. Acompanhe!

O começo da história de Carla e Juliano

O casamento de Carla já estava desgastado quando ela foi internada na clínica, usuária de drogas e com um gênio forte, sua família viu na internação uma forma de mantê-la longe da cocaína. Foi nos corredores do hospital que ela o viu pela primeira vez.

Juliano nunca havia sido internado em um lugar como aquele. Ele chegará um pouco antes de Júlia. Os dois logo ficaram amigos, afinal eles compartilhavam das mesmas ideias e tinham o mesmo vício. Da amizade nasceu uma paixão, mas presos naquele hospital não poderiam viver como eles gostariam. Foi quando decidiram pedir alta e morar juntos. 

Enquanto Juliano recebeu sua alta, Carla foi obrigada a continuar o tratamento. Para ela foi um momento trágico.“Fiquei totalmente fora de mim, eu “causava” dentro da clínica, era uma paciente que dava muito trabalho”, conta Júlia.

Para poder sair da clínica, Carla começou a aceitar o tratamento, pois assim ela seria liberada em 120 dias. Quando chegou o dia de ir embora, sua mãe a deixou na casa do Juliano, onde os dois passaram a viver juntos. Do primeiro dia até a chegada da ambulância, o casal passou a usar drogas todos os dias juntos. 

“Quando um usava mais que o outro a gente brigava, e às vezes essas brigas iam tão longe que a gente acabava se agredindo, era uma agressão mútua, ele brigava comigo e eu ameaçava ele”, completa Carla. 

A vida dos dois se transformou, todo o dinheiro que eles conseguiam era para as drogas, venderam tudo o que tinham dentro de casa. “O nosso uso de drogas era muito forte, muito mesmo. A gente ficava dias sem dormir, sem comer”, explica Juliano. 

Carla começou a ficar deprimida com aquela situação toda em que eles estavam. Segundo ela, foi quando pensou em engravidar para fugir do vício. No entanto, mesmo depois de grávida ela não conseguia largar as drogas. Até que um dia Juliano não aguentando mais, decidiu que era hora deles procurarem ajuda, não conseguiriam sair daquela situação, sozinhos.

A chegada do casal ao Hospital Santa Mônica

Quando o Juliano propôs que eles se internassem Carla ficou nervosa, mas sabia que eles precisavam de ajuda. Mas nenhum dos dois queriam voltar para aquela clínica onde se conheceram. “Foi quando eu lembrei do Hospital Santa Mônica, como eu já tinha sido internada nele antes, eu lembrei que era uma clínica de 12 passos, era uma clínica que tinha cuidados médicos”, recorda Carla.

tratamento de dependência química do Hospital Santa Mônica é focado em fornecer aos pacientes novos mecanismos de enfrentamento. Para isso, o período de internação é composto por 12 passos que preparam os internos para a vida após a alta.

Naquela noite, o Juliano ligou para o Hospital Santa Mônica e a equipe de plantão conseguiu que uma ambulância fosse buscá-lo às 12 horas do dia seguinte. “Eu lembro que ele ficava contando as horas, porque a gente tinha combinado o horário com a ambulância e com o traficante”, relata Carla. 

“O traficante chegou um pouco antes da ambulância. Depois no caminho toda hora a gente pedia para a ambulância parar para gente ir ao banheiro e usar, do tanto que a gente estava louco”, acrescenta Juliano.

No hospital Carla e Juliano receberam toda a atenção e foram encaminhados primeiro para o bloco superior. Em seguida, cada um recebeu um quarto, pois homens e mulheres não ficam no mesmo aposento. “A gente se via o pouquinho todo dia, eram só 2 horas por dia, mas a gente foi se acostumando e deu certo”, conta Juliano.

O tratamento para dependência química

Durante o tratamento Carla e Juliano participaram das atividades propostas pelo Hospital Santa Mônica, fizeram amigos e aprenderam a confiar nos médicos. Também foi na internação que eles conheceram os Narcóticos Anônimos, por meio de uma simulação que o hospital faz para preparar os pacientes para a vida após a alta. 

“Na minha opinião os Narcóticos Anônimos ajudam você a lidar com as frustrações, a não cair em tentação e a aprender lidar com os seus defeitos. A gente tem que agradecer muito ao Santa Mônica por apresentado caminho do NA para gente”, agradece Juliano. 

Contar com o apoio de um grupo de pessoas na mesma situação é fundamental para controlar o desejo pela droga e buscar apoio. Essa é a ideia dos Narcóticos Anônimos, que tem com objetivo principal fazer com que o indivíduo volte ao convívio social livre das drogas. 

O diálogo é essencial para conscientizar o usuário sobre a sua situação e estimular a continuação do tratamento. Esse contato é determinante para uma recuperação eficaz, duradoura e para a qualidade de vida do paciente. 

Carla e Juliano passaram pelo tratamento do Hospital Santa Mônica de janeiro a abril de 2018. Foi no hospital que Carla fez todos o seu pré-natal e recebeu todos os cuidados para manter sua gestação saudável. Com o apoio da equipe médica e dos nutricionistas ambos recuperaram o peso e começaram uma vida com mais saúde. 

O final feliz da batalha de Carla e Juliano contra a cocaína

Apesar de todo o tratamento, o momento em que o casal realmente percebeu a importância de todos os ensinamentos passados durante a internação foi quando eles receberam alta. “Foi quando a gente entendeu de verdade tudo o que eles nos diziam sobre aqui fora ser de um jeito e lá dentro de outro. A gente começou a perceber, principalmente, no que diz respeito ao preconceito”, relata Carla. 

Depois que saíram do hospital, Juliano e Carla perderam o emprego, devido aos constantes pedidos de licença médica por conta do vício. Desempregados eles não tinham como pagar o seu aluguel, e foi nesse momento que eles entenderam a importância do apoio familiar. Para eles não voltarem a morar na antiga casa em que viviam no período do vício, a mãe de Carla decidiu pagar o aluguel deles. 

O casal, no entanto, não aceitou o dinheiro de graça. “O tratamento me ensinou que eu tenho que batalhar pelas coisas. Então eu fiz uma proposta para minha mãe de eu limpar a casa da minha vó. Eu troco o meu aluguel pela faxina, para não ficar de graça e está funcionando”. 

Poucos meses após saírem do hospital nasceu o filho do casal, Cássio*. No entanto, foi um parto complicado e logo após dar à luz Carla foi separada do filho. O hospital entendendo que se tratava de uma dependente química decidiu que os pais apresentavam riscos ao recém-nascido. 

Entretanto, limpos e frequentando os Narcóticos Anônimos, eles conseguiram provar para a conselheira tutelar que tudo o que queria era dar amor e cuidar do seu filho. “Ele me ensina todos os dias. É o meu treinamento de que as coisas não são conforme a minha vontade. Eu vivo em função dele, porque eu sou muito grata pela vida dele”, declara Carla.

Para Juliano a vida hoje está maravilhosa, com o apoio do NA e ao lado da sua família ele aprendeu a superar o vício e desde que saiu do hospital nunca mais usou droga nenhuma. Feliz, ele conta que não sente mais desejo pela cocaína e que acaba de conseguir um emprego. 

Assim, apesar de todas as dificuldades devido à dependência química Carla e Juliano aprenderam a reconstruir a sua vida com o apoio do Hospital Santa Mônica. Atualmente, os dois estão limpos de cocaína e não pensam mais em voltar a usar drogas, tudo o que querem é recomeçar a sua vida e dar um futuro melhor para o filho. 

*Carla, Juliano e Cássio, foram os nomes fictícios adotados para não expor os pacientes e seu filho.

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