Em um período da vida com vários problemas, Fernanda encontrou uma saída nas bebidas. O que, no começo, era apenas uma forma de relaxar, acabou se tornando uma dependência e um grande problema em sua vida, com o surgimento de doenças. É isso que o alcoolismo feminino faz — mesmo que essa história seja apenas um exemplo simples.
Esse termo é usado para designar o uso excessivo de bebidas alcoólicas. No entanto, ele traz uma dificuldade maior para as mulheres, já que a metabolização dessas substâncias é mais lenta no organismo feminino. Por isso, a progressão para uma dependência e o surgimento de outras consequências podem ser mais rápidos.
Para entender melhor esse cenário, vamos explicar melhor sobre o alcoolismo entre mulheres neste post. Continue lendo.
Dados sobre o alcoolismo feminino
O alcoolismo feminino vem crescendo no Brasil — e isso acontece desde antes da pandemia. A Pesquisa Nacional de Saúde 2019, divulgada em 2020 pelo IBGE, 17% das mulheres consomem bebidas alcoólicas no Brasil. Esse resultado representa 4,1 pontos percentuais acima do índice de 2013, que era de 12,9%.
O mesmo levantamento sinalizou o consumo abusivo de álcool nos 30 dias anteriores ao estudo. Considerando esse aspecto, o dado específico das mulheres chegou a 9,2%. No entanto, os dados aumentaram durante a pandemia.
Um estudo feito pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) indicou que 42% dos brasileiros disseram ter ingerido mais álcool durante a pandemia. O levantamento indicou que esse cenário foi ainda mais relevante entre as mulheres.
Vale a pena reforçar que, entre 2010 e 2018, o percentual de mulheres entre 18 e 24 anos que bebem acima do recomendado chega a 18%. Na faixa etária dos 35 aos 44 anos, chegou a 14%. Os dados são do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel), plataforma do Ministério da Saúde.
Portanto, o alcoolismo entre as mulheres é um problema significativo e que precisa ser considerado. Inclusive, porque nem sempre a pessoa percebe que está entrando em um estado de dependência. Por isso, é preciso oferecer a ajuda necessária.
Efeitos do alcoolismo no organismo feminino
Os efeitos do alcoolismo no organismo feminino tendem a ser mais fortes do que no masculino. Entre os problemas que podem surgir estão o surgimento de doenças cardíacas, cirrose e hepatite alcoólica. Também há uma chance maior de lapsos de memória e outros tipos de danos cerebrais.
Isso acontece porque a metabolização do álcool é diferente entre as mulheres. Com isso, os níveis da substância no sangue acabam sendo mais elevados. Isso acontece por alguns fatores, como:
- proporção de tecido gorduroso;
- concentração gástrica de desidrogenase alcoólica (enzima que realiza o processo do metabolismo do álcool no organismo);
- variações na absorção da substância durante o ciclo menstrual.
Isso faz com que as mulheres fiquem embriagadas mais rapidamente. Além disso, o álcool é socialmente aceito — e isso pode trazer dificuldades na identificação de um padrão de dependência.
Muitas vezes, entende-se que não existe problema se a pessoa consegue manter boas relações no trabalho e na família. No entanto, esse é o chamado alcoólatra funcional, que ainda traz riscos, especialmente para as mulheres.
Dentro desse cenário, várias doenças podem aparecer. Entre as principais estão as que listamos a seguir, com dados retirados do site do dr. Drauzio Varella.
Doenças hepáticas
As doenças do fígado são bastante comuns no alcoolismo feminino. As mulheres têm uma tendência maior a desenvolverem essas enfermidades. Inclusive, o risco de cirrose é três vezes mais elevado.
Doenças cardiovasculares
O consumo de um drinque por dia é positivo para a saúde cardíaca, segundo o mesmo levantamento apresentado no site. Porém, duas ou três doses por dia eleva a chance de hipertensão arterial em 40%. Além disso, há uma suscetibilidade maior para o derrame cerebral hemorrágico. Ainda há possibilidade de surgirem miocardiopatias.
Câncer de mama
As mulheres que consomem de 2,5 a 5 drinques diariamente aumentam a chance de desenvolverem câncer de mama em 40%. A cada dose extra, o risco se eleva em 9%.
Osteoporose
O álcool gera um efeito inibidor da remodelação óssea e isso contribui para o surgimento da osteoporose. Tanto é que as mulheres com menos de 60 anos e que ingerem de duas a seis doses diárias aumentam o risco de fratura de antebraço e colo de fêmur.
Distúrbios psiquiátricos
Os transtornos mentais também podem surgir como consequência do alcoolismo feminino. Para ter uma ideia:
- 30% e 40% das mulheres que abusam do álcool apresentam depressão. Muitas vezes, a bebida é utilizada como fuga em um quadro inicial do distúrbio;
- 15% a 32% têm anorexia e bulimia.
Além disso, mulheres que consomem álcool de forma exagerada tentam suicídio quatro vezes mais frequentemente.
Vale a pena observar que também há consequências para o feto, quando a mulher está grávida e ingere álcool. Essa é chamada de síndrome do alcoolismo fetal, que gera anormalidades físicas cognitivas e comportamentais.
Sem contar que também existem as consequências psicossociais, especialmente nas relações familiares. Isso aumenta a chance das mulheres sofrerem agressões físicas. Inclusive, porque a tendência é que os parceiros também abusem das bebidas alcoólicas.
Além desses efeitos, é importante destacar que existem dois principais padrões de consumo de álcool entre as mulheres. Eles são:
- jovens que bebem devido à interação social. Por isso, há uma busca por recreação;
- mulheres em transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. Nesse intervalo de tempo, conhecido por climatério, o consumo é isolado para enfrentar conflitos e relaxar das pressões sociais.
Opções de tratamento e quando buscar ajuda
Engana-se quem pensa que o tratamento para o alcoolismo feminino é somente parar de beber. É preciso adotar uma abordagem multiprofissional, que permita mudar o pensamento da pessoa com esse tipo de dependência.
O primeiro passo é buscar um profissional de saúde mental. Ele indicará um tratamento psicoterapêutico, a fim de que a pessoa consiga lidar melhor com os desafios enfrentados todos os dias e com as compulsões desenvolvidas.
Esse atendimento será feito por uma equipe multidisciplinar, formada por psiquiatras, médicos clínicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais etc. Dessa forma, consegue-se alcançar a estabilidade mental.
Ainda existe a possibilidade de serem prescritos medicamentos. Nesse caso, eles são complementares à terapia e servem para desintoxicar o organismo. No entanto, eles só devem ser tomados quando receitados por um médico a partir do diagnóstico correto.
Além disso, será verificado se é necessário fazer uma internação — alternativa indicada em casos mais graves. De toda forma, é fundamental contar com o apoio da família para aumentar a chance de sucesso do tratamento.
Assim, fica claro que o alcoolismo feminino é um problema e precisa ser combatido. Porém, isso depende das práticas certas, a fim de que a paciente enfrente os seus problemas e deixe de usar a bebida como fuga.
Nesse cenário, é fundamental contar com um hospital especializado em dependência química. Dessa forma, o tratamento correto para o alcoolismo feminino será ministrado e a mulher terá todo o apoio necessário, com ou sem internação, para superar essa dificuldade.
Se você conhece alguém que está nessa situação, entre em contato com o Hospital Santa Mônica. Converse com nossos especialistas e veja como nossa equipe especializada pode ajudar a superar esse momento.