Muitos detalhes por trás do funcionamento do cérebro ainda são um mistério para diversos pesquisadores espalhados pelo mundo. De modo geral, o comportamento desse órgão humano é determinado pela configuração interna de seus elementos. Em caso de desequilíbrio, ficamos sujeitos a vivenciar certos distúrbios mentais, como o transtorno dissociativo de identidade.
Todo mundo pode apresentar alguns episódios vinculados à dissociação, fenômeno caracterizado pela ruptura das ligações entre nossas percepções e memórias. Chegar a um cômodo da sua casa sem se lembrar o que foi fazer ali é um ótimo exemplo. O problema, de fato, começa quando essas dissociações deixam de ser eventos isolados e passam a ocorrer com maior frequência e intensidade.
Existe mais de um tipo de distúrbios dissociativos. Hoje, o dr. Marcel Vella Nunes, psiquiatra do Hospital Santa Mônica irá falar especificamente sobre aquele ligado à identidade. Acompanhe!
O que é o transtorno dissociativo de identidade?
Durante anos, a nomenclatura usada como referência desse transtorno era a personalidade múltipla. Mesmo que esse nome não seja mais oficial, já ajuda a criar uma familiarização com a condição médica em questão, distanciando-a de outros distúrbios, como o transtorno de personalidade borderline.
No transtorno dissociativo de identidade, a pessoa atingida é submetida a um processo de fragmentação. Isso acontece em um grau acentuado, ao ponto de o indivíduo manifestar vários outros “eus”. Detalhe: quem sofre essa disfunção tende a esquecer o que cada uma de suas variantes fez.
Em um paralelo distante, poderíamos imaginar os famosos heterônimos criados por Fernando Pessoa. Afinal, todas essas personalidades têm uma história de vida particular, ao mesmo tempo em que guardam lembranças e preferências específicas.
Na prática, devemos observar que, diferentemente do caso do poeta português, as identidades do transtorno dissociativo não são meros recursos estilísticos ou artificiais. Em outras palavras, a pessoa afetada não interpreta papéis, como se estivesse em uma peça de teatro.
Na verdade, ela assume, de maneira incosciente, a personalidade real de outro alguém que, em sua cabeça, é único. Importante destacar também que as demais identidades não se restringem à determinada faixa etária ou mesmo gênero. Para se ter uma dimensão melhor, em certos quadros o indivíduo passa a necessitar de óculos de grau, por exemplo.
Quais são as principais causas do quadro?
Com relação às origens, normalmente elas estão atreladas a abusos em série sofridos ao longo da infância, vivência de traumas ou situações de negligência e privações. Assim como em outros tipos de espectro da histeria (conversivos, somatoformes e outros dissociativos), existe uma ruptura da psique da pessoa acometida por essa perturbação mental.
Entre as situações traumáticas consideradas estão não só as de ordem física e sexual, mas igualmente as categorizadas como emocionais. O raciocínio é simples: nos primeiros anos de vida, as mentes das crianças tentam encontrar saídas para driblar as experiências nocivas.
Conforme a gravidade e frequência dos traumas, novas personalidades são criadas — inclusive com certa facilidade e espontaneidade. Além disso, é importante lembrar que a formação do adulto que seremos em algum dia se inicia na infância.
Entre outras coisas, isso significa que os traumas comprometem o processo de integração de diferentes traços de identidade. O resultado é a fragmentação já comentada anteriormente, portanto, o desenvolvimento de quadros dissociativos graves.
Quais sintomas e síndromes podem estar relacionados a ele?
Dado o momento delicado pelo qual todos nós ainda estamos passando, era de se esperar que as preocupações associadas à saúde mental finalmente ganhassem a ênfase necessária. Além de crise de ansiedade e depressão, muitas pessoas passaram a se perguntar se tem algum outro distúrbio parecido.
A preocupação faz total sentido, pois, só no Brasil, 86% da população manifesta algum quadro vinculado a transtornos mentais. Os dados são de um levantamento realizado pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Diante desse cenário, é natural que você e muita gente se pergunte “como saber se eu tenho transtorno dissociativo de identidade?”
Como existem outras vertentes do problema, é fundamental conhecer os sintomas mais comuns atribuídos a cada uma delas. Vamos, então, àquelas geralmente presentes em pessoas com transtorno dissociativo de personalidade:
- dificuldade de se identificar com o próprio corpo ao se olhar para o espelho — às vezes, há uma forte impressão de que ele é de outra pessoa;
- memória enfraquecida até mesmo para se lembrar de atividades cotidianas simples;
- impasse na hora de tentar estabelecer uma rotina;
- sucessivas modificações comportamentais, as quais costumam se estender para mudanças contínuas acerca de dadas convicções;
- sensação de não pertencimento à própria residência em que vive ou ao mundo;
- episódios marcados por alucinações;
- manifestação de estresse agudo;
- angústia crônica;
- medo do futuro atrelado a pensamentos suicidas.
Uma ou mais dessas características também são mencionadas em outras síndromes ou distúrbios mentais, como aqueles derivados dos quadros de personalidades esquizoide, paranoica, esquizotípica ou antissocial.
Como o diagnóstico do problema é feito?
Justamente pela ocorrência de sintomas similares, o diagnóstico preciso do transtorno dissociativo de identidade é marcado por um processo desafiador para os especialistas. Por sinal, esse fator aumenta a importância de você se certificar que está ao lado de um com corpo médico qualificado para detectar o problema.
A depender das características de cada paciente, a conclusão do diagnóstico durante a infância se torna uma tarefa complexa. Contudo, seja em crianças, seja em adultos, os procedimentos usados em ambos os casos seguem as mesmas diretrizes do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais):
- identificação de duas ou mais personalidades com traços que as distinguem nitidamente;
- análise da capacidade de o indivíduo recordar eventos diários;
- avaliações voltadas a detalhar o grau de percepção, consciência (de si mesmo e do mundo) e cognição da pessoa em si;
- confirmação de que os episódios examinados não resultam do uso de substâncias alcoólicas, medicamentos ou drogas.
Como é realizado o tratamento de transtorno dissociativo de personalidade?
Basicamente, o tratamento se baseia em sessões de psicoterapia associadas à prescrição de remédios que amenizem os efeitos decorrentes de sentimentos depressivos e ansiosos. Dessa forma, é possível proporcionar ao paciente uma maneira de conviver em equilíbrio com suas diferentes personalidades.
Para tanto, coloca-se em prática uma análise minuciosa e isolada de cada identidade. O intuito é verificar as motivações particulares que levaram ao desenvolvimento delas e, assim, partir para uma abordagem mais customizada.
Caso haja conclusão de que a vítima do transtorno possa causar risco à sua integridade física e a de outras pessoas, a internação passa a ser uma necessidade.
Embora seja preocupante, como qualquer outro distúrbio mental, é importante salientar que o transtorno dissociativo de personalidade pode ser tratado. Você só precisa garantir a eficácia do diagnóstico, algo determinante para a aplicação de um tratamento apropriado e, de fato, efetivo.
Então, entre em contato conosco e busque o melhor atendimento psiquiátrico!