Algumas das frases mais comuns entre os dependentes químicos são “eu não sou adicto” e “quando eu quiser eu paro”. A verdade é que, por si só, elas já podem ser um indicativo crucial de uma das fases da adicção — a de negação.
Se você vive essa realidade ou conhece alguém que está passando por essa etapa da dependência química, este post que contou com o psicólogo do Hospital Santa Mônica, Antonio Chaves Filho, é o que você precisa para entender todas as fases envolvidas durante a adicção. Você vai descobrir de que maneira é possível atravessar a negação e encarar a aceitação da dependência. Confira!
Quais são as fases da adicção em drogas?
Nem todo adicto em drogas começa dando sinais de dependência. O que caracteriza a adicção é a falta de controle sobre a utilização de substâncias ou sobre determinados comportamentos. Essa dependência pode ser tanto psicológica quanto química. É aí que os indícios começam a surgir, de acordo com cada fase.
Compulsão
A compulsão, geralmente, vem acompanhada de sintomas como o estresse e a ansiedade pelo uso de determinada substância, em busca da sensação de alívio momentâneo que ela proporciona. Normalmente eles precedem o consumo compulsivo e repetitivo da droga, que só cessa quando os sintomas são aliviados.
Diferentemente de um uso impulsivo, na compulsão, já não há prazer em fazê-lo. Pelo contrário, existe um enorme desconforto e uma urgência na utilização para amenizar sensações como taquicardia, sudorese, tremores e até palidez.
Abstinência
A abstinência é uma das fases mais importantes na percepção da adicção pelo dependente químico e também pela sua família. É nela que passa a ficar ainda mais clara a doença e a necessidade de procurar ajuda profissional especializada.
Essa fase vem acompanhada de indícios severos e bastante sofridos para o dependente químico. Muitas vezes, isso é o que dificulta abandonar a adicção em drogas, porque entre suportar a abstinência e silenciar os sintomas com mais do mesmo, o segundo caminho é sempre mais curto.
Preocupação
A constatação da doença é bastante delicada. Quando os sintomas ficam aparentes, inicia a chamada fase de preocupação, durante a qual os riscos e as consequências começam a surgir.
É aqui que iniciam os primeiros problemas atrelados à situação financeira do dependente e da sua família, à dificuldade em manter o emprego, à qualidade dos seus relacionamentos interpessoais, à sua saúde e integridade física.
O dependente químico passa a perceber os impactos das fases da adicção, que afetam sua qualidade de vida, o seu bem-estar e a forma como ele interage com as pessoas que ama. A solidão, a frustração e a tristeza são bastante frequentes nessa etapa.
Negação
Diante do eminente problema que se apresenta e da dependência pelo abuso de substâncias químicas, o paciente entra em uma das mais críticas fases da adicção: a de negação. Nesse momento, surge aquela famosa frase que diz: “eu não sou adicto; quando quiser, eu paro”.
Mas a realidade é outra. Além da negação em si, também tem a correlação entre raiva, negociação e depressão e o uso de drogas.
Na verdade, de acordo com dados apresentados, quem normalmente procura os serviços de apoio e tratamento são as famílias, não o usuário. Isso mostra que o dependente químico, na maioria dos casos, já não tem mais condições de assumir a doença ou mesmo procurar ajuda para se tratar. A negação atrapalha a assistência.
Aceitação
A aceitação é a fase mais desejada pelos familiares, amigos e pessoas próximas de um dependente químico. É nessa etapa que ele reconhece que o abuso de substâncias químicas é uma doença e concorda em procurar ajuda para iniciar um tratamento adequado, já que sozinho não consegue mais.
Apesar disso, não é fácil chegar a essa etapa. Ela é o início de um novo capítulo, que certamente exige muita resiliência, força de vontade e disciplina por parte do paciente. A partir da aceitação, será preciso encarar todos os sintomas, incluindo as causas psicológicas e emocionais que induziram à adicção.
Como passar da negação para a aceitação?
No início, a negação pode estar presente, até mesmo, para os familiares, que não aceitam ou se envergonham da condição do dependente químico. Na realidade, ambos acreditam que ainda têm controle sobre a situação — o dependente acha que pode parar quando bem entender e os familiares, que podem interferir quando quiserem. Só que não é tão simples assim.
Uma das principais dificuldades em passar da fase de negação para a de aceitação é concordar sobre a adicção e sobre a necessidade da abstinência para superá-la. Além disso, existem todos os fatores psicológicos e emocionais que levaram à dependência. Tudo isso precisará ser tratado para que o paciente não passe por recaídas.
O primeiro passo é conscientizar o dependente de que o abuso de drogas é um problema, uma doença, que pode prejudicar sua saúde física, mental, emocional, cognitiva, e assim por diante. É preciso que o adicto entenda o quanto isso impacta suas relações, os riscos que atribui à sua vida financeira, à sua relação familiar e ao seu próprio bem-estar.
A partir disso, é importante saber que existem alternativas e tratamentos que podem ajudá-lo a retomar o controle das próprias escolhas e, principalmente, reconquistar sua qualidade de vida. Então, é chegada a hora de procurar um acompanhamento especializado.
Qual é a importância do acompanhamento especializado?
O fim da relação com as drogas pode ser um processo bastante doloroso para o dependente químico. Ele afeta não apenas o seu corpo físico, com sintomas severos de abstinência, mas também, o seu emocional e mental. A dor e o sofrimento são inerentes a essa etapa, afinal, acontece uma espécie de luto pela perda de algo que foi muito importante durante determinado tempo — a droga.
Ao começar a enfrentar a nova realidade, com todos os sintomas que ela apresenta, é indispensável contar com um acompanhamento especializado, que preste suporte nos mais diferentes aspectos. Primeiramente, é necessário aceitar apoio terapêutico, que ajudará não apenas a encarar a situação de dependência, como também a superar certos traumas provocados antes e durante a doença.
Em muitos casos, é necessária a intervenção medicamentosa, seja para controlar determinadas reações de abstinência, seja para minimizar efeitos como tremores e ansiedade. Isso deve ser feito sob supervisão e acompanhamento médico.
Contar com uma equipe especializada é de suma importância para obter o apoio necessário em todas as etapas. Esses profissionais são preparados para lidar e orientar os pacientes em todas as suas dificuldades, prestando não apenas o suporte médico, mas proporcionando um ambiente seguro e acolhedor.
Quando recorrer à internação?
Em alguns casos, é necessário recorrer à internação e ao tratamento em hospitais. Geralmente, isso ocorre quando é preciso realizar o resgate e a desintoxicação do indivíduo, para que ele consiga dar início ao tratamento de longo prazo. O tempo de desintoxicação varia para cada pessoa, tendo como base o nível de toxicidade no organismo.
A partir de então, os cuidados são feitos sob orientação médica, com gestão de médio e longo prazo, visando sempre à recuperação do paciente. Entre as medidas adotadas estão as reuniões de grupo, os sistemas de apoio psicossociais, a supervisão médica e a psicoterapia.
A reabilitação pode ser bastante longa, por isso, é preciso ter paciência. Não são raros os casos em que ocorrem recaídas, o que pode retardar o processo, mas não devem ser motivo para desistência. Em algumas situações, os pacientes chegam a ser internados diversas vezes.
Em casos de dependência química, é impossível prever quando uma internação será necessária. Por isso, durante a pandemia, os centros de apoio especializado continuam funcionando normalmente, porém, com cuidado redobrado. Dessa forma, não espere suas férias ou o fim da pandemia para procurar ajuda.
Caso seja preciso recorrer ao recurso de internação para superar as fases da adicção, você pode contar com o auxílio do Hospital Santa Mônica, que dispõe de diversos recursos para apoiar você e as pessoas que você ama. Converse conosco e descubra como podemos auxiliar!