O consumo de drogas no Brasil é um verdadeiro problema de saúde pública. O seu uso indevido é capaz de aumentar as ocorrências sociais, como crises familiares, violências e internações em hospitais e clínicas. Infelizmente, a expansão do consumo de drogas também atinge as mulheres em idade fértil, ou seja, que estão propensas a engravidar.
A gestação é um período de transformações na vida feminina, visto que causa modificações significativas em seu corpo, no seu papel sociofamiliar e no seu estado psicoemocional. O uso ou a dependência de substâncias psicoativas são capazes de provocar consequências físicas e mentais potencialmente graves para a mãe, representando uma grande preocupação para as diversas Instituições e esferas da sociedade.
Além dos problemas para a mãe também há prejuízos para o bebê, uma vez que a maioria dessas substâncias ultrapassam a barreira placentária e chegam até a corrente sanguínea do feto. Essas drogas podem, ainda, ultrapassar a barreira hematoencefálica sem metabolização prévia, atingindo o sistema nervoso do bebê.
Devido a essas consequências, é ideal que a mãe interrompa o uso de drogas, sejam elas lícitas ou não lícitas, antes de engravidar. Se o comportamento está ocorrendo durante a gestação é fundamental interrompê-lo o quanto antes. Elaboramos este artigo com a ajuda do Dr. Marcel Vella Nunes, médico psiquiatra do Hospital Santa Mônica, a fim de elucidar tudo sobre uso de drogas na gravidez e qual é o tratamento adequado para esse quadro. Confira.
Quais as drogas mais utilizadas por mulheres na gravidez?
O comportamento frente ao uso de drogas lícitas e não lícitas é diferente entre mulheres e homens. Segundo o Relatório Mundial das Drogas de 2018, os indivíduos do sexo masculino são três vezes mais propensos a utilizar drogas do que os do sexo feminino. Ainda de acordo com esse documento, elas têm maior tendência para usar drogas lícitas. Além disso, os fatores de risco para mulheres também são diferentes.
Segundo o Dr. Marcel, as mulheres têm uma predileção para usar benzodiazepínicos, anorexígenos, opioides, tranquilizantes e analgésicos. Isso significa que elas tendem a fazer um abuso ou a ter uma dependência de drogas prescritas. No entanto, além dessas drogas, durante a gestação também encontra-se alta prevalência de mulheres que usam álcool e tabaco.
Ambas são drogas de fácil acesso para a gestante e, por serem lícitas, são associadas ao não comprometimento da gravidez. No entanto, o seu consumo pode causar inúmeros prejuízos para mãe e feto.
Quais os riscos dessas drogas?
No Brasil, o Dr. Marcel cita que há maior consumo de tabaco, álcool, cocaína, maconha, inalantes e solventes. Todas essas drogas têm o poder de atravessar a barreira placentária, ou seja, atingir os tecidos do feto, causando prejuízos. Muitos delas têm efeitos teratogênicos, ou seja, causam malformações, que podem ser físicas e cardíacas ou mesmo afetar o tecido cerebral.
A intensidade dos efeitos vão ser proporcionais à quantidade de substância que a gestante consumiu durante a gravidez. Quanto maior o uso, maiores são as chances de dar mais efeitos, e mais graves eles são. Além disso, é importante frisar que o início da formação e do desenvolvimento do sistema nervoso do bebê acontece no primeiro trimestre de gestação. Assim, o consumo anterior e desde o início da gestação pode ser mais grave.
Entre as principais alterações, podemos citar:
- ruptura precoce das membranas;
- trabalho de parto prematuro;
- aborto espontâneo;
- nascimento de baixo peso;
- maior predisposição para doenças e infecções das vias respiratórias;
- quadros de dependência — no bebê, esse quadro é traduzido em dificuldades para sucção, choro mais fácil e irritabilidade maior;
- atraso e/ou déficits do desenvolvimento intelectual;
- diminuição da circunferência craniana;
- deficit de atenção e hiperatividade;
- transtornos de conduta;
- síndrome alcoólica fetal (caso mais grave) — efeitos decorrem da interferência na formação cerebral.
Em alguns casos, esses efeitos podem ser imperceptíveis quando a criança nasce. No entanto, conforme o seu crescimento e desenvolvimento é possível notar os prejuízos. Além dos inúmeros efeitos deletérios já reconhecidos, existem muitas substâncias cujos efeitos não são conhecidos, como é o caso do crack.
Como é o tratamento para grávidas usuárias de drogas?
Como falamos, os homens fazem maior uso de drogas. Nessa população, o consumo de drogas é tido como recreativo, além de ter um fator de interação e afirmação social. Para as mulheres, esse quadro é diferente. Isso porque no público feminino as drogas produzem maiores índices de reações negativas, como mal-estar, sono e sintomas depressivos, comenta o Dr. Marcel.
Essa intolerância ao consumo de drogas pode ser considerado um “fator de proteção natural” da mulher. Porém, quando elas se tornam dependentes químicas, o tratamento, em geral, é mais difícil que o dos homens. Afinal, os mecanismos de proteção natural não funcionaram e foram vencidos. Esse é um desafio ainda maior durante a gestação, uma vez que a mulher está em uma fase de diversas mudanças, corporais e psíquicas, assim como alterações hormonais, o que pode aumentar o consumo de drogas e a sua dependência.
Por esse motivo, caso a gestante ou a sua família identifiquem algum problema, é imprescindível procurar ajuda o mais rapidamente possível. O mesmo é válido para mulheres que desejam engravidar no futuro. Nesse caso, deve-se procurar uma ajuda especializada. Atualmente, existem hospitais e centros prontos para receber esse tipo de caso.
É importante contar com um especialista em dependência química, a fim de ser instituída uma intervenção adequada para minimizar ou até acabar com todos os riscos para gestante e para o bebê. Os efeitos danosos para as crianças dependem do que a pessoa usa e da quantidade. Assim, conseguir suspender o uso ou diminuí-lo o quanto antes ajuda a prevenir os riscos para mãe e feto.
Em alguns casos, pode ser necessário procurar uma internação durante a gestação. Como mencionamos, as mulheres têm uma tendência a abusar de drogas lícitas, sendo muito mais fácil encontrá-las no mercado. Devido a esse acesso descomplicado, é interessante mantê-las sob vigilância constante, a fim de preservar a gestação durante todo o seu curso e a saúde da mulher e de seu filho.
É importante salientar que o uso de drogas na gestação é subestimado, uma vez que as mulheres geralmente escondem o fato de consumi-las, sejam lícitas ou ilícitas. O Hospital Santa Mônica conta uma estrutura e colaboradores preparados para receber esse tipo de paciente e oferecer toda a assistência necessária durante a gestação.
Se a sua companheira ou alguma familiar está enfrentando o uso de drogas na gravidez não hesite em pedir ajuda. Entre em contato conosco e, juntos, traçaremos a melhor abordagem para uma gestação tranquila e com o mínimo de riscos.