Os psicodélicos são substâncias que têm suscitado muita polêmica e curiosidade ao longo dos anos. Eles são conhecidos por seu potencial de alterar a percepção, a consciência e a experiência subjetiva, levando a efeitos intensos e, às vezes, transcendentais.
Neste artigo, a psiquiatra do Hospital Santa Mônica, Dra. Mayara de Sá Salvato, irá explorar o que realmente é essa classe de substâncias, o uso de psicodélicos no trabalho em benefício da saúde mental dos trabalhadores e a polêmica envolvida nessa alternativa de tratamento. Confira!
O que são psicodélicos?
Os psicodélicos, também conhecidos como enteógenos, são substâncias que induzem estados alterados de consciência. Isso porque atuam no sistema nervoso central, afetando os neurotransmissores e os receptores cerebrais, o que gera efeitos profundos na percepção, na cognição e na emoção. Eles podem ser naturais, como o peiote, a ayahuasca e os cogumelos psilocibínicos; ou sintéticos, como o LSD (ácido lisérgico) e o MDMA (ecstasy).
Essas substâncias têm sido utilizadas há séculos em rituais religiosos, xamânicos e terapêuticos por diversas culturas ao redor do mundo. Suas propriedades psicoativas podem levar a experiências espirituais, introspecção profunda, expansão da consciência e alteração da percepção do tempo e do espaço.
Além disso, pesquisas recentes têm sugerido que os psicodélicos podem ter potencial terapêutico no tratamento de distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e dependência química.
A polêmica em torno dos psicodélicos
Apesar dos potenciais benefícios terapêuticos e espirituais dos psicodélicos, eles também têm sido objeto de controvérsia e restrições legais em muitos países. A partir da década de 1960, com o surgimento da contracultura e do movimento hippie, seu uso recreativo ganhou destaque e atraiu a atenção das autoridades, levando à proibição de várias dessas substâncias.
A falta de compreensão e pesquisa científica adequada contribuiu para a disseminação de mitos e estigmas em torno dos psicodélicos. Relatos de experiências negativas ou de abuso dessas substâncias também reforçaram a visão negativa por parte de muitos setores da sociedade.
Nas últimas décadas, pesquisadores têm explorado seus potenciais terapêuticos e efeitos positivos com rigor científico. Estudos demonstraram resultados promissores no tratamento de transtornos mentais, além de novas percepções sobre a natureza da consciência e do cérebro humano.
Os psicodélicos podem proporcionar experiências únicas e profundas, com potenciais terapêuticos e espirituais significativos. Embora sua história tenha sido marcada por polêmicas e controvérsias, pesquisas científicas recentes estão ajudando a desmistificar essas substâncias e a lançar luz sobre seu potencial terapêutico.
Quais os benefícios dos psicodélicos no trabalho?
Os psicodélicos têm despertado um interesse crescente no campo da saúde mental, especialmente no contexto do tratamento de doenças comuns em ambientes de trabalho, como ansiedade, depressão e burnout.
Embora a pesquisa ainda esteja em estágios iniciais, os estudos preliminares sugerem que essas substâncias podem desempenhar um papel promissor na abordagem terapêutica dessas condições. Portanto, vamos entender mais sobre o uso de psicodélicos no trabalho.
Redução da ansiedade
Estudos mostram que psicodélicos, como a psilocibina (encontrada em certos cogumelos) e o MDMA, podem reduzir bastante os sintomas de ansiedade em pacientes com transtornos de ansiedade generalizada ou que enfrentam ansiedade relacionada ao trabalho. Essas substâncias podem facilitar uma mudança de perspectiva e promover a aceitação de pensamentos e emoções, o que contribui para a redução dos níveis de ansiedade.
Alívio da depressão
Os psicodélicos têm demonstrado potencial no tratamento da depressão resistente ao tratamento convencional. A psilocibina, por exemplo, tem sido estudada em ensaios clínicos como uma opção terapêutica para esse quadro.
O motivo é que essas substâncias parecem ter a capacidade de reestruturar padrões de pensamento negativos, promover a introspecção e aumentar a conexão emocional, o que pode resultar em uma melhora significativa dos sintomas depressivos.
Prevenção e recuperação do burnout
O burnout é uma condição comum em ambientes de trabalho de alta pressão e estresse crônico. Estudos sugerem que os psicodélicos podem ajudar na prevenção e na recuperação do burnout, principalmente por meio de seus efeitos na redução do estresse, na promoção da autocompaixão e na expansão da consciência. Essas substâncias podem fornecer uma perspectiva renovada, aumentar a criatividade e melhorar a capacidade de lidar com desafios profissionais.
É importante ressaltar que o uso de psicodélicos no contexto terapêutico é feito sob rigorosa supervisão médica e em um ambiente controlado. As sessões são conduzidas por profissionais experientes e treinados, com o objetivo de maximizar os benefícios terapêuticos e minimizar os riscos potenciais.
Os mecanismos de ação exatos pelos quais os psicodélicos proporcionam esses efeitos benéficos ainda estão sendo investigados. No entanto, os indicativos são de que eles podem atuar em áreas do cérebro relacionadas à regulação emocional, como o sistema límbico e a rede padrão do modo de funcionamento do cérebro.
Como é o tratamento com psicodélicos?
A depressão é uma das doenças que mais incapacita no mundo, afetando quase 300 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, estima-se que mais de 11% da população tenha diagnóstico da doença, com cerca de 36% desses casos sendo de depressão refratária, ou seja, não responsiva a medicamentos antidepressivos convencionais. É nesse contexto que a cetamina surge como uma possível solução.
Estudos médicos têm mostrado que a droga pode ser eficaz no tratamento desses casos, e o número de pacientes que recebem tratamento com cetamina nos EUA dobrou nos últimos anos, segundo a plataforma de dados Komodo Health. No entanto, acredita-se que mais pessoas usam essa terapia, já que muitos planos de saúde não cobrem o tratamento. Assim, os pacientes precisam arcar com altos custos financeiros para obterem acesso às sessões.
A cetamina se destaca por sua capacidade de agir prontamente na contenção da ideação suicida. Com o aumento dos óbitos por lesões autoprovocadas nos últimos anos, de acordo com o Datasus, a resposta rápida dessa droga torna-se ainda mais relevante e crucial.
Estudos indicam que a cetamina pode reduzir em até 60% a ideação suicida já na primeira sessão de infusão. Para pacientes em situações de emergência, a perspectiva de contar com um tratamento que traga alívio psicológico e uma opção eficaz pode melhorar significativamente a qualidade de vida.
O uso de psicodélicos no trabalho para tratamento de doenças mentais tem sido apontado por pesquisadores como uma abordagem promissora. Essas substâncias parecem estimular a neuroplasticidade, reestruturar padrões de pensamento negativos e facilitar novas percepções, o que proporciona uma abordagem terapêutica singular para pacientes que não obtêm uma resposta adequada aos tratamentos convencionais.
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O uso de psicodélicos para o tratamento de doenças psiquiátricas está revolucionando as pesquisas em Psiquiatria. Nos últimos anos, os cogumelos alucinógenos se tornaram uma promessa de benefícios para os tratamentos psiquiátricos.
Depois de investimentos significativos em estudos, patrocinados principalmente pela indústria farmacêutica, a Medicina está começando a compreender de que forma as drogas psicodélicas podem ser úteis para essa finalidade.
Em vista disso, a médica do Hospital Santa Mônica, Dra. Mayara de Sá Salvato, irá explicar como essas substâncias — extraídas a partir do cogumelo — podem ser empregadas para o tratamento e controle de transtornos mentais de grande importância clínica e epidemiológica. Continue lendo e saiba mais sobre o tema!
Afinal, o que são drogas psicodélicas?
Conceitualmente, esse tipo de droga apresenta a função de alterar as impressões sensoriais, a percepção e a consciência. Dependendo da quantidade consumida, elas ainda podem provocar alucinações. Devido a essa característica peculiar, essas substâncias são chamadas de psicoticomiméticas, já que mimetizam os efeitos psicóticos.
Um dos exemplos mais famosos é o LSD, quimicamente denominado de ácido lisérgico. O MDMA, substância química presente na formulação do ecstasy, e a psilocibina, extraída dos cogumelos alucinógenos, também integram esse grupo. Outros exemplos são a ketamina e a ayahuasca.
De modo muito semelhante, grande parte dessas substâncias de ação psicodélica atua na ativação do sistema cerebral responsável pela ação serotoninérgica. Em termos mais simples, os psicodélicos têm o potencial de atuar na maneira como as células cerebrais processam a função dos neurotransmissores que controlam as emoções e o comportamento.
Uso proibido nos anos 1960
Nos anos 1960, a geração de jovens começou a adotar estilos de vida mais ousados. Por influência da evolução dos processos de industrialização na Europa e nos EUA, começaram a chegar muitas novidades. Entre elas, o uso de psicodélicos cresceu muito, uma vez que essas drogas eram um dos principais componentes da tríade “sexo, drogas e rock ‘n’ roll”.
Porém, as entidades governamentais da época ficaram preocupadas com tamanha adesão ao uso de psicodélicos e outras substâncias entre jovens, adultos, e até mesmo entre pessoas de mais idade. Por isso, os Estados Unidos proibiram o uso de drogas psicodélicas em represália aos movimentos que sustentavam a contracultura que os jovens experimentavam na época.
Como a “Renascença Psicodélica” contribuiu para o tratamento da depressão?
Com a proibição do consumo dos psicodélicos, os produtos foram retirados do mercado, o que reduziu as pesquisas científicas sobre o tema. Muitos anos mais tarde, em meados da década de 2000, os estudos sobre uso medicinal de psicodélicos começaram a ganhar espaço, em um movimento que ficou conhecido como a “Renascença Psicodélica”.
Atualmente, cada vez mais pesquisas estão sendo feitas a fim de comprovar a potencialidade dos psicodélicos na Psiquiatria. Em 2023, a Medicina obteve uma importante conquista: a aprovação do uso da psilocibina na Austrália.
No Brasil, há um grande interesse na continuidade desse tipo de pesquisa e realização de testes. Inclusive, vale ressaltar que, na América Latina, o Brasil é país com maior prevalência de depressão, segundo a Organização Mundial da Saúde.
As pesquisas brasileiras sobre o uso de psicodélicos
Dada a relevância das pesquisas sobre o uso de psicodélicos para a reabilitação da saúde, o Brasil se tornou um protagonista importante dessa “Renascença Psicodélica”. No país, essas substâncias estão sendo testadas no tratamento da depressão, crises de ansiedade e outros transtornos.
Em uma matéria da Revista Galileu, o neurocientista Eduardo Schenberg afirma que o Brasil está marcando uma boa presença na pesquisa com psicodélicos no Brasil, junto com outros países, como os EUA.
Em outro estudo divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um dos maiores expoentes da pesquisa com psicodélicos no Brasil, o neurocientista Sidarta Ribeiro, vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), destaca a maleabilidade cerebral que os psicodélicos provocam. Esse é um mecanismo fundamental para estimular a plasticidade neuronal necessária para tornar o tratamento da depressão mais eficaz.
Como os psicodélicos funcionam no tratamento da depressão?
Mesmo que o processo de autorização de mais pesquisas sobre o uso de psicodélicos na Psiquiatria seja bastante burocrático, até agora, os resultados obtidos foram animadores. Isso porque essas substâncias podem auxiliar quem precisa de tratamentos inovadores.
Uma delas é o MDMA, com uma ação alucinógena que apresentou efeitos positivos no aumento da empatia e no humor de pacientes depressivos. Alguns cientistas que atuam nesse ramo estão apostando no MDMA devido ao potencial que a droga apresenta para reduzir, de forma significativa, os sintomas das crises depressivas e da ansiedade.
Algumas experiências com o uso dessa substância também foram satisfatórias no tratamento do estresse pós-traumático. Psiquiatras, psicoterapeutas e psicólogos estão apostando nessa alternativa para auxiliar na assistência terapêutica desse e de outros transtornos mentais.
Outro aspecto relevante em relação ao uso dos psicodélicos nos transtornos depressivos é que eles podem causar menos efeitos colaterais que os remédios tradicionalmente usados. Para os pacientes que dependem de medicação de uso contínuo, essa possibilidade reforça as vantagens do uso dessas drogas.
Como o Hospital Santa Mônica pode ajudar nesse processo?
Com mais de 50 anos de experiência em Psiquiatria, o Hospital Santa Mônica é uma das referências em reabilitação da saúde mental. Nossa equipe multidisciplinar é composta por médicos clínicos, psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais e outros profissionais tecnicamente treinados e capacitados para esse fim.
Além disso, o hospital oferece uma estrutura moderna e diferenciada, que proporciona mais qualidade no tratamento. Disponibilizamos assistência terapêutica completa para as pessoas que estão envolvidas com dependência química ou transtornos mentais, mesmo aquelas ligadas à dependência emocional. Também oferecemos terapias de controle cognitivo para as enfermidades que surgem no envelhecimento.
Oferecemos tratamento ambulatorial e internação, em que os familiares dos pacientes são integrados ativamente. A estrutura e o corpo clínico do HSM são bastantes favoráveis à recuperação da saúde, bem-estar e qualidade de vida dos pacientes.
Como você percebeu, o uso de psicodélicos no tratamento da depressão está em fase de estudo e se insere como um possível auxílio para os pacientes. Em vista disso, no Hospital Santa Mônica, acompanhamos de perto as novidades e nos atualizamos sobre as melhores práticas em Psiquiatria. Além disso, cada caso é avaliado criteriosamente a fim de que a escolha terapêutica seja a mais adequada para o controle e remissão do quadro apresentado.
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