Saúde mental de pessoas LGBTQIA+ é ruim? Pode ser, pois a sua orientação sexual ou identidade de gênero não define se você vai ter ou não algum transtorno mental, mas as pessoas desse grupo enfrentam mais riscos de sofrerem com isso, por causa das situações que vivem.
Logo, ela é afetada negativamente pelas suas condições sociais e culturais. Muitos na comunidade LGBTQ+ sofrem discriminação, preconceito, violação de direitos civis e humanos, assédio e rejeição familiar, o que pode causar ou piorar sintomas, principalmente para aqueles com identidades raciais ou socioeconômicas cruzadas.
Aqui, a psicóloga do Hospital Santa Mônica, Ayde Câmara, irá falar sobre os desafios que essas pessoas podem passar e como cuidar da sua saúde mental se você faz parte dessas comunidades.
Quais são os problemas enfrentados pelas pessoas LGBTQIA+?
Todas as pessoas requerem sua orientação sexual e identidade de gênero, porém aqueles que se identificam como membros da comunidade LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, questionadores, intersexuais, assexuais) enfrentam um maior risco de problemas de saúde mental em comparação com outros grupos.
De acordo com a National Alliance on Mental Illness (NAMI), adultos que se identificam como LGB têm mais que o dobro de chances de experimentar uma condição de saúde mental instável em comparação com adultos heterossexuais.
Indivíduos transgêneros têm 4 vezes mais chances de vivenciar uma condição de saúde mental ruim em comparação com indivíduos cisgêneros. Embora existam vários fatores envolvidos, isso se deve em grande parte à rejeição da sociedade, familiar, ao assédio e ao medo da violência que muitas pessoas LGBTQIA+ enfrentam. Em outra pesquisa da Mental Health America os dados apresentados foram:
- a maioria das pessoas LGBTQ+ diz que elas ou um amigo, ou membro da família LGBTQ+ foram ameaçados ou assediados não sexualmente (57 %), foram assediados sexualmente (51%) ou sofreram violência (51 ) por causa de sua sexualidade ou identidade de gênero;
- 59% das pessoas LGBTQ+ sentem que têm menos oportunidades de emprego e 50% acreditam que recebem menos do que as pessoas que não participam desse grupo;
- 38% das pessoas transgênero dizem ter sofrido calúnias e 28% sofreram comentários insensíveis ou ofensivos por causa de sua identidade de gênero, ou orientação sexual;
- 22% dos indivíduos transexuais comentaram que evitam médicos ou cuidados de saúde por causa da preocupação de serem discriminados.
De que forma eles afetam diretamente a saúde mental de pessoas LGBTQIA+?
Aqui existem multifatores para afetar a saúde mental das pessoas LGBTQIA+ entre eles estão a revelação da identidade, rejeição, trauma, uso de substâncias psicoativas e muitos outros. Confira em detalhes a seguir.
Revelação de identidade
Transformações positivas na aceitação social das pessoas LGBTQ+ desempenham um papel protetor em relação à saúde mental. No entanto, essa mudança na aceitação levou muitos jovens LGBTQ+ a “sair do armário” ou compartilhar sua orientação sexual e identidade de gênero em idades mais jovens, o que pode afetar suas experiências e relacionamentos sociais. Isso pode ter impactos negativos na saúde mental, especialmente para aqueles jovens que não contam com um ambiente de apoio.
Rejeição
Para muitos na comunidade LGBTQ+, o ato de se assumir pode ser uma experiência difícil e, em alguns casos, traumática. Lidar com a rejeição da própria identidade por parte da família, amigos próximos, ambiente de trabalho ou comunidade religiosa pode ser desafiador.
Visto que precisam enfrentar brincadeiras de familiares e amigos próximos, assédio e violência dentro das escolas e outras. Inclusive, são minorias os jovens que identificam suas casas como um ambiente de apoio à comunidade.
Trauma
A homofobia, bifobia, transfobia, bullying e o sentimento de vergonha com base na identidade são frequentemente traumáticos para pessoas LGBTQ+.
Essa comunidade enfrenta diversas formas de detecção, incluindo rótulos, estereótipos, negação de oportunidades e acesso, além de abuso verbal, psicológico e físico. Infelizmente, eles são frequentemente alvo de crimes de ódio.
Isso pode contribuir significativamente para o aumento do risco de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) entre indivíduos LGBTQ+ em comparação com aqueles que se identificam como heterossexuais e cisgêneros.
Uso de Substâncias
O uso abusivo ou excessivo de substâncias químicas, frequentemente utilizado como mecanismo de enfrentamento ou automedicação, é uma preocupação significativa para os membros dessa comunidade.
Adultos LGBTQ+ têm quase o dobro de chances de experimentar um transtorno relacionado ao uso de substâncias em comparação com adultos heterossexuais. Indivíduos transgêneros têm quase quatro vezes mais chances de enfrentar um transtorno relacionado ao uso de substâncias do que indivíduos cisgêneros. O uso de drogas ilícitas é particularmente prevalente entre jovens LGBTQ+ em idade escolar, em comparação com seus colegas heterossexuais.
Sem Teto
Estima-se que jovens LGBTQ+ tenham um risco 120% maior de ficar sem-teto, frequentemente como resultado de rejeição familiar ou rejeição baseada em sua identidade de gênero ou orientação sexual. Esse risco é especialmente elevado se a pessoa ainda for negra e indígena/nativa americana do Alasca.
Como a pandemia impactou negativamente dentro desse cenário?
Para compreender os desafios enfrentados pela comunidade LGBT+ durante o período de distanciamento social, o coletivo #VoteLGBT conduziu o estudo intitulado Avaliação da Realidade LGBT+ durante a Pandemia. A pesquisa ocorreu entre 28 de abril e 15 de maio de 2020 e obteve mais de 10 mil respostas de todas as regiões do país.
A maioria dos protegidos, cerca de 42,72%, permitiu que a saúde mental fosse a área mais afetada pela pandemia na comunidade LGBT+. Além disso, uma parcela significativa de 54% indicou que precisa de apoio psicológico.
As restrições impostas ao convívio social, a solidão e a convivência familiar foram mencionadas por 39,23% dos participantes como fatores associados à perda de redes de apoio que existiam antes da pandemia. Quanto às dificuldades com a ansiedade, 17,62% dos entrevistados apontaram que a falta de emprego ou recursos financeiros teve o maior impacto em suas vidas.
É de extrema importância que a saúde mental de pessoas LGBTQIA+ se sintam acolhidas e aceitas em sua jornada. É fundamental que elas encontrem uma rede de apoio que reforce que não há nada de errado em expressar seu amor e identificar-se com um gênero específico.
No caso de terem sido vítimas de violência ou terem vivenciado traumas, é essencial que busquem apoio psicológico ou psiquiátrico. Dessa forma, poderemos tratar possíveis quadros de depressão ou ansiedade, ensinar a contornar os problemas emocionais, a se aceitar e se amar, porque amor é amor. Assim, todos merecem ser homenageados e cuidados em sua jornada de autodescoberta e bem-estar emocional.
Caso não se sinta bem, recomendamos que entre em contato com o Hospital Santa Mônica para tirar suas dúvidas e receber as melhores orientações.