Autoestima e autocuidado são atributos significativos para uma vida de bem-estar. No entanto, o equilíbrio é sempre bem-vindo. Dependendo do nível de exigência com a autoimagem, a busca pelo corpo perfeito pode trazer prejuízos e sofrimento.
Nunca se falou tanto em saúde mental infantil e do adolescente como nos últimos tempos. Isso é positivo, pois abre portas para que as pessoas possam refletir sobre assuntos relevantes, tendo a oportunidade de mudar comportamentos e pensamentos inadequados.
A seguir, a Dra. Luciana Mancini Bari, médica com foco em saúde mental, irá explicar até que ponto a busca pelo corpo perfeito é prejudicial e como ajudar adolescentes com esse sentimento. Continue!
O que está por trás da busca pelo corpo perfeito?
A adolescência é um momento sensível. A fase marca a despedida da infância e a entrada para um mundo cheio de obrigações e cobranças.
É nesse estágio que as pessoas dão mais importância para o social, buscando aceitação dos pares e identificação com grupos específicos. É também a época em que despertam os interesses sexuais, aumentando a preocupação com a aparência e o julgamento.
O uso exagerado de filtros do Instagram é um bom exemplo nesse sentido, já que a motivação por trás é se mostrar interessante para alcançar a aceitação social. No fundo, o jovem altera a própria imagem na tentativa de esconder o “eu real” a fim de se transformar em um “eu idealizado” para os outros.
Como a busca pelo corpo sem defeitos pode impactar a saúde mental dos jovens?
A perfeição é impossível de ser atingida. Buscar algo inviável gera frustração, aumento da insatisfação, sofrimento e prejuízos afetivos, sociais e profissionais.
Um filtro de fotos, por exemplo, não altera as características que se refletem no espelho real. Dietas alimentares e atividades físicas de alto impacto necessitam de acompanhamento específico, além de não apresentarem resultados rápidos. Já os procedimentos estéticos, muitas vezes, são invasivos e arriscados.
Entre os possíveis impactos, os jovens podem apresentar os seguintes.
Transtorno alimentar
O transtorno alimentar na adolescência é definido por uma perturbação persistente no comportamento relacionado a se alimentar. Dentro dessa categoria, existem diversos subtipos do transtorno.
A anorexia nervosa, por exemplo, resulta da restrição da ingestão calórica, decorrente do medo de ganhar peso. Pode comprometer a saúde se a pessoa apresentar um IMC igual ou inferior a 17, o que, além de prejudicar o funcionamento do organismo, leva a deficiências de nutrientes importantes.
Já a bulimia nervosa se faz presente quando existem sintomas de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios, para eliminar as calorias ingeridas, como a purgação.
Transtorno Dismórfico Corporal
O Transtorno Dismórfico Corporal pertence ao grupo dos Transtornos Obsessivos-Compulsivos. Caracteriza-se pela preocupação excessiva com a aparência física, geralmente resultante de pequenas falhas percebidas somente pela própria pessoa.
Ao contrário dos transtornos alimentares, aqui a angústia não tem foco apenas na gordura corporal, podendo se fazer presente também em demais aspectos, como sobrancelha, pernas e nariz. Além disso, indivíduos que se identificam com o gênero masculino costumam focar na estrutura muscular.
Depressão e ansiedade
A depressão e a ansiedade vêm afetando a saúde mental da geração Alpha, que, entre as dificuldades evidentes, apresenta grande tendência à compulsão por internet, além de dificuldade em lidar com as próprias emoções. O uso demasiado das redes sociais, por exemplo, pode criar uma noção utópica de perfeição, beleza e felicidade, levando a criança e o adolescente a comparações e ao desenvolvimento de comportamentos perfeccionistas.
Suicídio
O suicídio é apontado como risco de diversos transtornos mentais. A taxa tende a ser mais alta no grupo de adolescentes e jovens. Dessa forma, é importante levar a sério qualquer manifestação de sofrimento.
Qual é a relação da busca pelo corpo perfeito e o narcisismo?
Bem, depende da visão do conceito de narcisismo. Na linguagem popular, narcisista é aquela pessoa com profunda admiração pela própria imagem. No entanto, saiba que, na linguagem técnica, o sentido é diferente. É conhecido como Transtorno de Personalidade Narcisista e conta com características mais críticas, repercutindo nas ações do indivíduo, como:
- falta de empatia;
- sensação grandiosa da própria importância;
- sentimento de ter direitos especiais e de ser tratado com superioridade;
- atitudes arrogantes;
- fantasias de sucesso ilimitado (poder, amor ideal ou beleza).
Quais são os sinais de que a busca pelo corpo perfeito merece atenção?
Tendo essas informações em mente, quando procurar ajuda para o adolescente? Confira alguns critérios:
- restrição alimentar baseada no medo de engordar, mas que não necessariamente tem a ver com valores pessoais, como religião e veganismo;
- uso de meios, de forma exagerada, para eliminar calorias, como muita atividade física, vômitos, laxantes, diuréticos;
- comportamento de conferir e medir (com fita métrica, por exemplo) o corpo;
- uso de roupas largas e que disfarçam o corpo, mesmo no calor;
- IMC igual ou abaixo de 17;
- episódios de dietas restritivas, que prejudicam a saúde;
- busca incessante de modificação corporal, com realização de cirurgias e outros procedimentos;
- medo intenso de ganhar peso;
- preocupações intrusivas sobre a aparência, que tomam tempo e causam sofrimento.
Como ajudar o adolescente que busca pelo corpo perfeito?
Diante da existência de alguns comportamentos por parte do adolescente, tente praticar o seguinte.
Crie um bom diálogo
Algumas vezes, ações como escutá-lo, entender a forma como ele se enxerga e se cobra e criar um diálogo empático, com troca de ideias e informações, ajudam a gerar reflexão sobre o próprio comportamento. Por isso, busque compreender o que está acontecendo.
Não invalide emoções e pensamentos
Mesmo ao considerar que o adolescente tenha pensamentos distorcidos e emoções exageradas, não os invalide. O julgamento e o pouco-caso com o sofrimento dele não farão com que ele se sinta melhor. Pelo contrário, pode gerar ainda mais desconforto e sensação de inapropriação.
Verifique a existência de bullying
A rejeição é um dos piores sentimentos. Passar por isso na infância e adolescência pode provocar danos sérios na saúde mental, levando, inclusive, ao suicídio. Se houver bullying na escola, é importante conversar com a direção e tomar uma providência.
Procure um tratamento
Um transtorno mental demanda tratamento com profissionais sérios, incluindo psicólogo e psiquiatra. Não arrisque a vida de quem é importante para você. Procurar ajuda é uma forma de demonstrar amor. E o Hospital Santa Mônica é especialista em cuidado com a saúde mental.
Enfim, como você viu, a busca pelo corpo perfeito pode significar a existência de um sofrimento, causando prejuízos na vida do adolescente. Apesar de a boa autoestima ser fundamental, tenha atenção se perceber que esse tipo de preocupação foge do normal.
O Hospital Santa Mônica está preparado para ajudar em diversas questões de saúde mental. Entre em contato conosco e saiba mais sobre nossos tratamentos!