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Ansiedade Juvenil: de que forma é feito o tratamento e como identificar?

A ansiedade é um sentimento comum na vida de qualquer pessoa, principalmente em situações de ameaça, de grandes mudanças, de medo ou de preocupação. No entanto, quando esse estado emocional é intenso, progressivo ou duradouro, atrapalhando o desempenho nas tarefas diárias e nas relações sociais, há a possibilidade de ser um problema de saúde mental.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em 2017, o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo — aproximadamente 9,3% dos brasileiros têm esse tipo de distúrbio.

De acordo com Erick Marangoni, psicólogo cognitivo comportamental, os transtornos de ansiedade normalmente são identificados “nos momentos de transição dos jovens, em que são submetidos a novas pessoas, lugares e situações não vivenciadas anteriormente”. Por isso, os pais de adolescentes devem ficar atentos aos sinais de ansiedade juvenil.

O profissional também aponta que não há um padrão nos pacientes que chegam ao seu consultório. Desse modo, cada caso deve ser diagnosticado e tratado de forma criteriosa e individualizada por uma equipe de especialistas, pois todos os aspectos do desenvolvimento do jovem devem ser investigados para que uma reação normal não seja confundida com um transtorno, e vice-versa.

Impacto da ansiedade no desenvolvimento do jovem

Para Marangoni, as novas tarefas e responsabilidades que os jovens devem assumir no período de transição da adolescência para a vida adulta podem deixá-los bastante inseguros e menos confiantes em relação ao modo como são vistos pela sociedade.

Essas situações podem ser ainda mais difíceis para pessoas muito tímidas, que acabam tendo dificuldades de enfrentar experiências sociais, apresentando sintomas de ansiedade e pensamentos negativos que chegam de forma inesperada.

O psicólogo dá como exemplos pensamentos como “estou demonstrando ser uma pessoa chata” ou “não vão me achar interessante”, que podem interferir no foco de atenção do jovem em uma situação e atrapalhar seu desempenho.

Além disso, filhos de pais ansiosos têm mais chances de apresentar ansiedade devido a fatores genéticos e ambientais, que podem interagir e influenciar o desenvolvimento desse transtorno.

Se não tratados, os transtornos de ansiedade juvenil podem prejudicar de maneira significativa a execução de atividades do cotidiano, o rendimento escolar e a vida social do adolescente. Os jovens com esse distúrbio tendem a ser muito perfeccionistas e podem perder a confiança em si mesmos.

Sintomas da ansiedade juvenil

Segundo Marangoni, há uma maior incidência de pacientes que apresentam “autocrítica intensa, dificuldade de concentração, timidez, pensamentos intrusivos, aumento do estado de alerta, aumento do estresse, aumento na forma de se assustar com as situações, ataques de pânico, entre outros sintomas observados”.

Alguns sintomas físicos recorrentes são sudorese, fadiga, tensão e dores musculares, distúrbios do sono, náusea, dor de cabeça, diarreia, intestino irritável, tremores, formigamento, palpitações e tontura.

Além disso, a ansiedade juvenil pode levar ao desenvolvimento ou à piora de outros problemas de saúde físicos e mentais, como depressão, insônia, distúrbios intestinais, abuso de substâncias químicas e doenças cardiovasculares.

Principais formas de tratamento

A orientação de um especialista é essencial no tratamento da ansiedade juvenil. “Se não for tratada de forma coerente, pode progredir e tornar a vida deste jovem improdutiva”, enfatiza Marangoni.

O psicólogo do Hospital Santa Mônica explica ainda que a melhora é “gradativa, de acordo com a aceitação e a interação do jovem e seus familiares no tratamento proposto”. Em muitos casos, o uso de medicamentos é necessário para estabilizar os sintomas e, gradativamente, são substituídos por “habilidades desenvolvidas junto aos profissionais que o acompanham”.

Para esclarecer melhor esse processo, separamos os tipos mais comuns de transtorno de ansiedade e as principais formas de tratamento. Confira abaixo:

Transtorno da ansiedade generalizada

O transtorno da ansiedade generalizada (TAG) é comum entre os adolescentes, sendo caracterizado por sintomas de ansiedade incontroláveis e que fogem à realidade. Um jovem com TAG tende a se preocupar de forma exagerada com a impressão que as outras pessoas têm a seu respeito e costuma ser pessimista em relação ao futuro.

“É imprescindível tomar muito cuidado ao definir ou escolher a melhor forma de tratamento, visto que cada caso precisa ser estudado individualmente. Todo transtorno possui fatores biopsicossociais, e por isso o tratamento multidisciplinar tem se mostrado bastante eficaz, — ou seja, psiquiatras, psicólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, entre outros profissionais, trabalhando juntos em prol do adolescente”, analisa Marangoni.

Transtorno da ansiedade social

Esse tipo de transtorno pode causar medo e desconforto no jovem em situações sociais, fazendo com que ele apresente tremores, sudorese intensa, gagueira, dificuldade de comunicação e até mesmo náusea.

O transtorno da ansiedade social pode levar o adolescente a consumir álcool ou outras drogas de forma exagerada para conseguir enfrentar esses momentos, além de ser um agravante para a depressão e pensamentos suicidas.

Jovens com esse tipo de transtorno costumam passar a maior parte do tempo sozinhos ou em companhia de poucos amigos. Também evitam eventos sociais e costumam apresentar baixo desempenho na escola. O tratamento psicoterapêutico com ênfase no desenvolvimento de habilidades sociais pode ser um grande aliado.

Transtorno obsessivo compulsivo

Mais conhecido como TOC, o transtorno obsessivo compulsivo afeta de 2% a 3% da população geral. Pessoas jovens com esse transtorno costumam ter pensamentos repetitivos angustiantes, que se configuram em obsessões, desencadeando rituais compulsivos.

Mais uma vez, a equipe multidisciplinar deve ser acionada inicialmente para mapear os aspectos mais intrínsecos do indivíduo e, posteriormente, manter o tratamento por meio do acompanhamento psicológico e psiquiátrico.

Transtorno do estresse pós-traumático

O transtorno do estresse pós-traumático normalmente se manifesta em jovens que testemunharam ou vivenciaram algum evento traumático. Os principais sintomas são estresse, sentimento de medo, desorientação e pesadelos ou lembranças relacionadas ao acontecimento.

Um estudo realizado por pesquisadores da Unifesp indica que esse tipo de transtorno pode acarretar em alterações cerebrais, levando a problemas futuros de concentração e memória. Em casos de transtorno do estresse pós-traumático, recomenda-se o acompanhamento psicológico e psiquiátrico.

Síndrome do pânico

A síndrome do pânico geralmente é diagnosticada quando o jovem apresenta um conjunto de sintomas, incluindo sensação súbita de medo, falta de ar, palpitações, agitação, sudorese intensa, tontura, náusea, formigamento nos dedos e perda de controle.

Os ataques de pânico podem ocorrer inesperadamente ou ser provocados por alguma situação específica. Inicialmente, a medicação se faz necessária para a estabilização do paciente. Depois, a manutenção do tratamento deve ser feita tanto pelo psicólogo quanto pelo psiquiatra.

Ansiedade de separação

Esse transtorno é caracterizado pela dificuldade do jovem em lidar com situações em que é separado dos pais ou de pessoas próximas, apresentando sofrimento intenso, agonia e mal-estar. O tratamento indicado é o acompanhamento psicológico.

Fobias gerais

As fobias geralmente se desenvolvem por causa de experiências traumáticas ou por influência dos pais na infância, resultando em medos particulares não proporcionais aos reais perigos que uma situação ou coisas específicas possam oferecer.

O adolescente com fobia sente muito medo e pode até mesmo desmaiar quando está diante daquilo que teme. Para tratar esse tipo de transtorno de ansiedade juvenil, é recomendado o acompanhamento psicológico.

Para saber mais sobre esse transtorno que afeta jovens e pessoas de todas as idades, leia o artigo “Crise de ansiedade: o que fazer e como identificar?”.

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