Identificar os sintomas de demência em idosos pode ser um desafio, assim como, é comum que os familiares tenham dúvidas sobre qual é o momento ideal para procurar ajuda profissional.
O diagnóstico e a escolha da metodologia terapêutica mais adequada ao tratamento estão atreladas à análise de diversos fatores como o grau de comprometimento e a possibilidade ou não de reversão do quadro.
Tendo isso em vista, a proposta deste artigo, que contou com a colaboração do psicogeriatra e psiquiatra, dr. Marcel Vella Nunes, é apresentar valiosas informações e fatos sobre a demência na idade avançada.
Inicialmente, vamos oferecer um panorama sobre ela nessa fase da vida. Abordaremos, também, os principais sintomas ou sinais que sugerem a busca de ajuda profissional para conter o impacto desse problema na vida de seu ente querido. Boa leitura!
Qual é o panorama atual da demência na terceira idade?
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), devido ao envelhecimento da população, a estimativa é que o número de pessoas com demência chegue a mais de 150 milhões até o ano de 2050.
Como a expectativa de vida da população brasileira está aumentando, a tendência é que a prevalência desse tipo de doença ganhe novos contornos nas próximas décadas.
Em matéria publicada pelo Jornal da USP e baseada em dados da OMS e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2030, o Brasil deverá ter a quinta população mais idosa do planeta. Esse aumento da longevidade é o resultado das conquistas tecnológicas da ciência e dos avanços da medicina nos últimos anos.
A descoberta de novas vacinas, de antibióticos mais específicos, de inovações nos tratamentos quimioterápicos e de uma gama de exames complementares de diagnóstico propiciaram a adoção de medidas preventivas e curativas.
Possibilitaram, ainda, a remissão de muitos males dos aparelhos circulatório e respiratório, que antes figuravam na lista de enfermidades fatais. Ainda, houve a redução nos níveis de natalidade na nossa população e a remodelação da pirâmide etária.
Com menos jovens e mais idosos, a saúde pública reconhece a necessidade de buscar novas alternativas e estratégias para assegurar uma longevidade mais ativa e saudável.
Considerando que as demências são as enfermidades neuropsíquicas de grande prevalência no grupo da terceira idade, a orientação é observar os sintomas de demência em idosos e procurar ajuda profissional quanto antes.
Essa atitude possibilita o diagnóstico precoce e um acompanhamento profissional, o que ajuda a melhorar a qualidade de vida, diminuindo o avanço e comprometimento neuro-cognitivo do paciente.
O que causa a demência?
O envelhecimento é caracterizado por um declínio natural e progressivo que implica a diminuição funcional da maioria dos processos fisiológicos. Esses mecanismos de mudanças no corpo afetam, principalmente, a capacidade de regeneração celular e tecidual, que antes assegurava a manutenção das funções vitais.
A demência é uma síndrome — geralmente de natureza crônica ou progressiva — na qual há deterioração da função cognitiva (ou seja, a capacidade de processar o pensamento) além do que se pode esperar do envelhecimento normal.
Afeta a memória, o pensamento, a orientação, a compreensão, o cálculo, a capacidade de aprendizado, a linguagem e o julgamento. A consciência não é afetada.
O comprometimento da função cognitiva geralmente é acompanhado e, às vezes, precedido de deterioração do controle emocional, comportamento social ou motivação, levando assim a uma perda da qualidade de vida e funcionalidade.
Sabe-se, porém, que os quadros demenciais, principalmente o Alzheimer, resultam do acúmulo de duas proteínas no cérebro. Uma delas é a beta-amiloide, que forma placas de gordura nas áreas cerebrais. A outra é a proteína tau, que é identificada sob a forma de fibrilas que se parecem com as pequenas caudas dos girinos.
Além das causas metabólicas, os fatores genéticos também influenciam consideravelmente o desenvolvimento dos quadros demenciais. Por isso, incentive o seu familiar de mais idade a manter uma rotina de atividades que estimulem a mente e o corpo. Exercitá-los pode trazer excelentes resultados, já que essas medidas funcionam como fator de neuroproteção.
A idade avançada também precisa ser considerada. Não como causa, mas como um elemento que favorece a degeneração celular cerebral e, por conseguinte, prepara o terreno para o acúmulo das proteínas responsáveis pela demência.
Outro fator de influência é o gênero, já que um dos grandes desafios para os pesquisadores dessa área é entender por que as demências são mais comuns em mulheres que nos homens.
Especialistas estimam que 75 milhões de idosos viverão com demência em 2030, número que deve saltar para 131,5 milhões em 2050 — as mais afetadas serão as mulheres. Nos Estados Unidos, uma pesquisa revelou que as mulheres com idade superior a 60 anos, têm mais chances de desenvolver demência do que o câncer de mama.
Esses dados são relevantes porque apontam a necessidade de dar uma atenção especial às mulheres, que devem buscar ajuda ao primeiro sinal da doença. Isso significa, no entanto, que os homens não devem receber a devida atenção, pois eles também podem desenvolver o problema.
Quais os estágios da demência em idosos?
A progressão da demência é gradual e a transição de um estágio para o outro pode acontecer em marcos temporais longos, muitas vezes, o paciente demora anos para evoluir ao estágio seguinte.
Essa progressão varia muito de um paciente para o outro e pode estar associada a questões genéticas e ambientais. É possível encontrar várias divisões, a seguir, usamos uma das mais utilizadas, de sete estágios, confira!
1. Estágio inicial
Embora a demência já esteja presente, ela pode ser de difícil identificação já que os principais sintomas incluem pequenos lapsos de memória, dificuldade de encontrar as palavras certas e de lembrar nomes.
2. Estágio leve
Nesta fase, os familiares e o próprio paciente costumam ter mais atenção aos sintomas, já que ocorrem mudanças sutis no comportamento, dificuldade em realizar tarefas cotidianas e até uma eventual desorientação em ambientes que são familiares.
3. Estágio moderado
No terceiro estágio, os sintomas de demência em idosos costumam incluir a dificuldade de se expressar verbalmente, agravamento dos problemas de memória e a necessidade de ajuda de terceiros para realização de atividades rotineiras.
4. Estágio moderadamente avançado
Este é um momento em que se observa um avanço mais expressivo da doença, já que o paciente deverá precisar de ajuda em atividades básicas como vestir-se, comer e para realizar a higiene pessoal. Também se enfrentam desafios significativos na comunicação.
5. Estágio avançado
No estágio avançado, o paciente enfrenta uma deterioração contínua da memória e da comunicação e precisa de assistência constante para realizar as atividades de cuidados pessoais. Em alguns casos, observa-se a perda de mobilidade.
6. Estágio severamente avançado
A sexta fase é marcada por sintomas como o surgimento de problemas de deglutição e a perda da comunicação verbal. Neste momento, o paciente está totalmente dependente de cuidados de terceiros e já não é capaz de realizar nenhuma atividade sem ajuda.
7. Estágio terminal
Na fase terminal, a debilidade já está em grau avançado, o paciente sofre com grandes restrições físicas e cognitivas, é o momento em que se dá ênfase aos cuidados paliativos a fim de garantir conforto.
Quais os sintomas e sinais da demência na terceira idade?
De modo geral, as demências estão classificadas em dois tipos: as de caráter reversível e as que são irreversíveis. As reversíveis englobam as doenças causadas pelos distúrbios hormonais ou de ordem metabólica, como disfunção tireoidiana, deficiências vitamínicas e por efeitos colaterais de medicamentos de uso prolongado, por exemplo.
Por outro lado, as demências consideradas irreversíveis são relacionadas a processos neurodegenerativos do cérebro, como o Alzheimer e outras doenças similares. Para os males que se inserem nessa classificação, há alternativas de tratamento e cuidados paliativos que podem melhorar a rotina do idoso e proporcionar melhor qualidade de vida.
Para melhorar a compreensão do tema, listamos 20 sintomas que exigem atenção e sugerem a procura de um especialista para avaliar o caso. Observe:
- apatia;
- ansiedade;
- sinais de depressão;
- desorientação espacial;
- dificuldade de equilíbrio;
- dificuldade de deglutição;
- fazer perguntas repetitivas;
- mudanças de personalidade;
- incontinência fecal e urinária;
- mau humor e descontentamento geral;
- esquecimento de datas ou eventos importantes;
- não se recordar do local em que guardou objetos;
- declínio mental e confusão mental durante a noite;
- dificuldade para coordenar movimentos musculares;
- incapacidade de falar ou de entender o próprio idioma;
- muita dificuldade para adormecer ou distúrbios do sono;
- mudanças de humor ou ira, mesmo sem razão aparente;
- agressividade verbal, inquietação e irritabilidade constante;
- perda gradual de memória para informações recentemente aprendidas;
- invenção de acontecimentos ou fatos e incapacidade de reconhecer coisas comuns.
Como tratar a demência em idosos?
O tratamento e abordagens dependerão das características e particularidades de cada paciente. Em geral, o objetivo é ajudar a gerenciar os sintomas, melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus cuidadores, e retardar a progressão da doença em alguns casos.
O uso de medicamentos pode incluir fármacos para melhorar a cognição e para controlar sintomas como agitação, ansiedade, depressão e alucinações.
Também costumam ser indicadas terapias, como a terapia ocupacional, que ajuda a manter as habilidades e a independência por mais tempo, por meio de atividades adaptadas.
Ainda, é a fonoaudiologia que pode ajudar na comunicação e deglutição, a fisioterapia, promove a mobilidade, e, a terapia cognitiva que busca estimular as funções cognitivas do paciente.
Tão importante quanto esses tratamentos é criar um ambiente adequado para o idoso, adaptando o espaço onde ele vive para garantir a segurança do paciente. A rotina precisa ser organizada para reduzir a confusão.
Atividades como leitura, jogos e quebra-cabeças são importantes à medida que ajudam a manter a mente ativa. Por fim, a atividade física regular e a convivência com os familiares pode melhorar o humor, o sono e a função cognitiva.
Quando procurar ajuda?
A demência tem um início insidioso, não apresenta sintomas claros e, por isso, exige muita atenção para identificar os sinais sugestivos de perda cognitiva. Mas vale ressaltar que os quadros dessa síndrome vão muito mais além de uma perda de memória ou do comprometimento das funções cognitivas.
Ainda que apresentem diferentes sintomas, essa condição pode estar associada a outros fatores como estresse e crises depressivas, problemas que geram complicações que podem afetar a memória, a capacidade de raciocínio e levar à insônia, por exemplo.
Por isso, a identificação da demência nem sempre é simples, já que os sintomas iniciais são sutis e difíceis de serem reconhecidos. Dessa forma, é preciso que os familiares estejam atentos a qualquer alteração comportamental que cause um estranhamento.
Se você perceber que o seu familiar apresenta algum comprometimento, mesmo que seja leve, mas que representa perdas, este é o momento de buscar ajuda profissional.
Procure um hospital referência em saúde mental quanto antes para realização de uma avaliação e diagnóstico, iniciando o tratamento especializado precocemente e minimizando o avanço e efeitos negativos que a doença pode trazer.
Como você viu, os sintomas de demência em idosos são muitos e variam de acordo com o grau de avanço da doença. Por isso, a orientação é que você observe o seu familiar, mantenha uma convivência próxima, dialogue com ele, incentive a prática de atividades saudáveis e, sempre que notar comportamentos estranhos, agende uma avaliação com um profissional.
Você notou sintomas de demência em idosos em seu familiar? Se precisa de ajuda nesse sentido, não perca tempo: entre em contato com o Hospital Santa Mônica e agende uma avaliação!