É natural as pessoas passarem por períodos em que se sentem infelizes ou apáticas, o que acontece até mesmo com as crianças. No entanto, se os sentimentos forem muito fortes ou persistirem por muito tempo nos pequenos, é importante investigar um possível quadro de depressão infantil.
A depressão maior, ou simplesmente “depressão”, é uma condição séria que pode dominar o humor e os pensamentos do seu filho. Ao longo de uma década, a incidência dessa doença em crianças de 6 a 12 anos aumentou de 4,5% parta 8%. Durante a crise sanitária, 36% dos casos de depressão foram causados pela pandemia. Ou seja, eventos externos também contribuem para a ocorrência ou aumento do problema.
A boa notícia é que a conscientização e a intervenção dos pais ou de outros adultos podem ajudar as crianças deprimidas a terem uma vida normal e feliz. Acompanhe este post e saiba mais sobre o assunto.
O que é depressão Infantil?
A depressão infantil é um distúrbio de saúde mental caracterizado por um humor triste que é prolongado e grave. Normalmente, as crianças com depressão podem apresentar:
- humor deprimido ou irritável durante a maior parte do dia, quase todos os dias;
- diminuição notável no interesse ou prazer em quase todas as atividades;
- problemas graves com alimentação, sono, energia e concentração;
- sentimentos de inutilidade ou culpa extrema e até mesmo pouco desejo de viver.
É importante entender que seu filho, ou qualquer pessoa com depressão, não pode simplesmente “sair dessa”. Sem tratamento, os sintomas podem durar meses ou até anos.
A depressão em crianças aumentou significativamente nos últimos anos, como você viu na introdução. Atualmente, ela afeta cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes ao redor do mundo.
A doença costuma se manifestar quando a criança sofre algum tipo de trauma, por exemplo, a separação dos pais, a morte de alguém próximo e querido ou até mesmo de um animal de estimação. Situações comuns da vida, como uma mudança de escola, também podem acabar desencadeando a depressão infantil.
Ana Maria Noyama, psiquiatra do Hospital Santa Mônica, traz mais um exemplo de situação que afeta a saúde mental dos pequenos. “Não por falta de atenção, mas por necessidade, a gente vai ter o casal que vai colocar um bebê em um berçário porque precisam trabalhar. Mas aí a gente pode ter uma incidência muito maior de ansiedade de separação.”
É interessante saber que esses fatos, inclusive, influenciam a vida adulta, aumentando os riscos de ter depressão nessa fase em decorrência de fatores de risco vivenciados na gestação e na primeira infância.
Quais são os sintomas da depressão?
Cada criança apresenta sintomas de maneira diferente. Além disso, pode acontecer de os sintomas de depressão infantil serem diferentes do quadro depressivo que se manifesta em adultos.
De toda forma, algumas das manifestações mais comuns são:
- sentimentos persistentes de tristeza;
- sentir-se sem esperança ou desamparado;
- ter baixa autoestima;
- sentir-se inadequado;
- culpa excessiva;
- perda de interesse em atividades habituais ou atividades antes apreciadas;
- dificuldade com relacionamentos;
- dormir muito ou pouco;
- alterações no apetite ou peso;
- energia diminuída;
- dificuldade de concentração;
- problemas para tomar decisões;
- pensamentos ou tentativas suicidas;
- queixas físicas frequentes, como dores de cabeça, dores de estômago ou fadiga;
- fugir ou ameaças de fugir de casa;
- hipersensibilidade ao fracasso ou rejeição;
- irritabilidade, hostilidade, agressividade.
O que causa a depressão?
A causa exata da depressão e outros transtornos de humor ainda não é conhecida pela ciência, mas fatores genéticos e ambientais têm sido associados à doença. Eles incluem:
- história familiar de depressão;
- divórcio dos pais;
- estresse excessivo;
- abuso ou negligência;
- trauma (físico e/ou emocional);
- perda de um pai, cuidador ou outro ente querido;
- perda de um relacionamento;
- falha em realizar tarefas como aprender a ler ou acompanhar os colegas em outras atividades;
- doenças crônicas, como diabetes;
- outros transtornos psiquiátricos;
- outros transtornos de desenvolvimento, aprendizagem ou conduta.
Existem fatores biológicos, psicológicos e sociais que podem contribuir para a depressão separadamente ou em combinação. Acredita-se que a depressão seja causada por uma diferença na estrutura e função do cérebro, que controla a intensidade do humor triste ou irritável.
Também pode haver um componente genético. Se outros membros da família tiveram depressão, é mais provável que seu filho também a desenvolva.
Ainda mais se combinado a um ambiente estressante em casa, na escola ou na comunidade, pois isso pode contribuir para a doença se manifestar. Afinal, as crianças podem sofrer de depressão se se sentirem descontentes com seu ambiente e impotentes para fazer qualquer mudança nele.
Contudo, problemas na tireoide, como níveis baixos de hormônio, podem causar fadiga e outros sintomas se parecem com os da depressão. Portanto, discuta o assunto com o pediatra para descartar possíveis problemas físicos.
Quais são os riscos da depressão?
Se você acha que seu filho pode estar deprimido, faça uma avaliação o quanto antes. Afinal, se não tratada, a depressão pode levar a:
- fracasso na escola;
- envolvimento em comportamentos de risco;
- dificuldades com empregos e relacionamentos na idade adulta;
- tentativa ou suicídio bem-sucedido.
Quais os tipos de depressão?
Os quadros depressivos podem apresentar diferentes intensidades, sendo leve, moderada ou severa. A depressão infantil é chamada dessa forma por acontecer em crianças, mas existem outros tipos da doença, classificados de acordo com suas características ou forma de manifestação.
Veja, a seguir, quais são eles.
Transtorno depressivo maior
É a chamada depressão clássica. Consiste nos quadros depressivos que desencadeiam episódios persistentes de perda de prazer ou do interesse pelas atividades que antes eram prazerosas. Além de humor deprimido, mudanças no padrão do sono, falta de energia, alterações no apetite, problemas de autoestima. entre outros.
Distimia
Também pode afetar pessoas de todas as idades. É chamada, ainda, de transtorno depressivo persistente. Isso porque os sintomas se mantêm por pelo menos dois anos. Por causa disso, às vezes, é difícil ser diagnosticado porque os sintomas costumam ser associados à personalidade do indivíduo.
Transtorno afetivo sazonal
É conhecido como depressão sazonal. Tem relação com eventos específicos, como as estações do ano ou as grandes festas, como Natal e Ano Novo. Nesse caso, a pessoa manifesta os sintomas da depressão durante essa época.
Depressão pós-parto
Afeta as mulheres durante o puerpério, ou seja, na fase de pós-parto, o que pode ocorrer entre seis a dezoito meses depois do nascimento do bebê. Ocorre uma tristeza profunda, cansaço, sentimento de culpa, insônia, ansiedade, além de a mãe não conseguir se conectar com o bebê.
Quais outros diagnósticos podem estar associados?
Existem outras condições e transtornos mentais que podem estar associados à depressão infantil. Também acontece de os pais ou responsáveis acreditarem que a criança está deprimida, quando na verdade se trata de outro quadro.
Existe, por exemplo, o Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor (TDDH). Ele afeta especialmente crianças e adolescentes causando explosões de raiva, dificuldades para lidar com frustrações, problemas de comportamento, irritabilidade crônica e dificuldade para se relacionar.
O transtorno bipolar é mais um distúrbio psiquiátrico que deve ser considerado. Uma das suas características mais marcantes é a alteração no humor e do comportamento da pessoa, o que acontece, muitas vezes, de repente. Assim, há momentos de euforia e outros de depressão.
Além das alterações no humor, o transtorno bipolar ainda dificulta o pensamento e o raciocínio claro, altera os padrões de sono e provoca dificuldade para realizar as atividades rotineiras.
Como você viu, as crianças também podem sofrer de distimia, e não apenas de depressão maior. Além disso, existe a possibilidade de o transtorno de ansiedade ocorrer ao mesmo tempo em que essa doença.
Porém, Ana alerta sobre o a importância de contar com um diagnóstico profissional, em especial no caso dos adolescentes, que “glamourizam” a doença, se identificam com determinados grupos e acabam se dando um diagnóstico.
“É aquele adolescente que passou por um momento difícil, como a separação dos pais, teve uma depressão reativa, entra em contato com certos conteúdos, seja na escola, na TV, na plataforma de streaming ou nas mídias sociais e percebe que existe um grupo partilhando sofrimento, se encontra nessa tribo e entra na apropriação do diagnóstico”.
A especialista continua:
“Eles não só se diagnosticam como geram seguidores. ‘Olha eu sou border, eu sou bipolar, eu sou opositivo desafiador, eu sou psicopata’. Eles se apropriam do diagnóstico e perdem a identidade”.
Como a depressão em crianças é tratada?
O Hospital Santa Mônica tem equipe especializada em tratamento de transtornos mentais infantojuvenis. Nossa abordagem aos cuidados de saúde mental é baseada em evidências – o que significa que nossos tratamentos foram testados e comprovados como eficazes por meio de estudos científicos, tanto em nosso hospital quanto por outras instituições líderes mundiais.
Para crianças que precisam de hospitalização, o HSM oferece avaliação e tratamento psiquiátrico orientado para a família, com o objetivo de devolver seu filho a um ambiente mais confortável para cuidados contínuos.
O primeiro passo no tratamento é formar um diagnóstico preciso e completo. Será preciso levantar:
- sintomas;
- história social;
- histórico médico;
- história acadêmica;
- história de família.
Às vezes, pode ser difícil distinguir entre tristeza e depressão maior. Para diagnosticar corretamente a depressão infantil, os médicos usam um conjunto padronizado de dois tipos de sintomas que devem estar presentes: sintomas principais e sintomas associados.
A depressão ocorre quando um ou ambos os sintomas principais persistem por pelo menos duas semanas, juntamente a cinco dos sintomas associados. Se os sintomas são devidos ao abuso de substâncias, uma doença médica ou luto por uma perda recente, geralmente não são sinais de depressão.
Quais são as opções de tratamento?
É possível adotar diferentes caminhos para trará a depressão infantil. Confira as opções.
Terapia
Conversar com um terapeuta pode ajudar seu filho a aprender a lidar com sentimentos tristes, desenvolvendo novas estratégias. A terapia inclui aprender a:
- identificar e falar sobre sentimentos;
- parar de pensar automaticamente em pensamentos negativos;
- encontrar atividades que sejam calmantes e reconfortantes;
- descobrir e apreciar coisas boas sobre si mesmo;
- construir esperança para o futuro.
A terapia também pode ajudar seu filho a:
- trabalhar por meio de relacionamentos e situações difíceis;
- identificar estressores e descobrir como evitá-los ou lidar com eles;
- melhorar a visão do ambiente.
Como em qualquer tratamento, pais e professores desempenham um papel vital e de apoio.
Medicamento
Se a depressão infantil não melhorar com a terapia, ou for muito grave, o médico pode prescrever antidepressivos. Isso não apenas ajuda a criança a se sentir melhor, como também auxilia na motivação e nas habilidades de enfrentamento na terapia.
Porém, nenhum medicamento é eficaz em todas as crianças. O período de teste pode durar semanas ou até meses para encontrar melhor tratamento. Ao considerar a medicação como uma opção, o clínico levará em conta:
- história de família;
- efeitos colaterais;
- como o medicamento será prescrito.
É importante lembrar que, para ter uma chance de funcionar, a medicação deve ser tomada conforme prescrito.
Se seu filho for diagnosticado com uma condição de saúde mental além da depressão infantil, como ansiedade, o tratamento deve abordar ambas as condições. Se o quadro for particularmente grave e debilitante, a hospitalização pode ser necessária e importante para a recuperação.
Ficou com alguma dúvida? Entre em contato conosco. Nossos especialistas poderão orientá-lo melhor ou venha para uma avaliação!