A depressão ainda é uma doença estigmatizada que envolve muitos mitos e tabus. De acordo com o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), os pacientes têm preconceito e medo de serem tachados de loucos ou doentes mentais, por isso demoram a procurar ajuda médica e, consequentemente, aderir ao tratamento. — Esta demora pode acarretar na cronificação do quadro, o que dificulta a remissão da doença. Por isso, o primeiro passo é vencer o medo do diagnóstico. Ultrapassada a primeira barreira, o segundo passo é avaliar o estágio da depressão. Segundo o psiquiatra Kalil Duailibi, coordenador do departamento de psiquiatria da Unisa (Universidade de Santo Amaro), nem todo diagnóstico exige uso de medicação. — No caso de uma depressão leve, a orientação é fazer psicoterapia, mudar hábitos e praticar atividade física, de preferência aeróbia, quatro vezes por semana.
O uso de antidepressivo geralmente é prescrito em quadros moderado e grave. Genética, personalidade e trauma podem levar à depressão, alerta especialista O especialista acrescenta que “os remédios não causam dependência e podem ser administrados com segurança por muito tempo”. — O tempo de uso pode variar de meses a anos e somente 10% das pessoas que sofrem de depressão vão precisar manter o tratamento para o resto da vida. Segundo o presidente da ABP, a interrupção do antidepressivo nunca deve ser feita de forma abrupta. A orientação é diminuir as doses de forma lenta e gradativa, com orientação médica, para evitar recaídas. Kalil acrescenta que “estar se sentindo bem não significa deixar o remédio de lado”. — Isso é um erro.
A meta do tratamento da depressão é contribuir para que a pessoa volte a ter uma vida normal, ou seja, sinta prazer nas atividades habitualmente agradáveis e seja reintegrada em todas as esferas de sua vida: social, afetiva e profissional. Segundo dados da ABP, mais de 80% das pessoas com depressão podem melhorar se receberem o tratamento correto. De fato, o medicamento pode levar até 15 dias para começar a ter boa ação antidepressiva. No entanto, os efeitos colaterais são imediatos, o que dificulta bastante a adesão ao tratamento e faz com que o paciente queira abandoná-lo precocemente, conforme explica Kalil. — A maioria dos pacientes interrompe o tratamento duas a três vezes até perceber que ficam mais vulneráveis a ter novas crises. A partir daí, costumam seguir as orientações médicas. Entre os efeitos desagradáveis, o médico cita boca seca, prisão de ventre, visão turva, diminuição da libido, insônia e ganho de peso. Mas, para Geraldo, estes não são motivos suficientes para suspender a medicação. — Apesar das desvantagens dos efeitos colaterais, a medicação promove uma melhora significativa da depressão.
Além disso, temos muitas classes de medicamentos, que conseguem atender cada perfil de paciente. O presidente da ABP alerta que pessoas que já tiveram um quadro de depressão têm 50% de chance de ter outro. Para quem já teve dois episódios, o risco aumenta para 70% e, para quem teve três, sobe para mais de 90%.
A depressão pode ocorrer em qualquer ciclo da vida, mas como o sexo feminino passa por vários processos hormonais, as mulheres estão mais vulneráveis para a depressão, alerta Kalil. — Entre 12 e 55 anos a depressão afeta quatro mulheres para cada homem, enquanto na infância e terceira idade a proporção é mais equilibrada, de uma mulher para cada homem.
A ex-BBB Fani Pacheco, de 30 anos, faz parte desta estatística. Em entrevistas a jornais e revistas, Fani já assumiu ter depressão desde os 22 anos e garantiu que ficar sem medicamento a faz se sentir desmotivada e sem vontade de fazer nada. Segundo Geraldo, a depressão não é tristeza, mas pode vir acompanhada deste sentimento, assim como melancolia, desânimo, falta de interesse por qualquer atividade, alterações do sono e do apetite, pensamentos negativos, desesperança e desamparo. — A depressão tira as forças da pessoa, mas com o tratamento adequado este quadro pode ser revertido.