No restaurante, na cama, na fila do supermercado, no cinema, na igreja, no ônibus, no carro, na reunião. Os smartphones e outros dispositivos móveis se entranham nas cidades e na vida das pessoas e suas telas luminosas já chamam mais atenção do que o mundo que se descortina ao redor. A vontade de estar sempre conectado e por dentro das atualizações das redes sociais faz com que o bom senso e o convívio social sejam sacrificados em muitas situações cotidianas. Assim, a tecnologia atravessa a vida da sociedade contemporânea em um caminho de muitos avanços e benesses, mas em que a atenção ao uso precisa ser constante. Para algumas pessoas, no entanto, esse uso pode se tornar dependência e afetar a qualidade de vida.
No 33º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado no fim de outubro em Brasília, o tema da dependência da tecnologia foi debatido por profissionais já atentos à área ainda carente de pesquisas, mas que já desperta cuidados. O psiquiatra Daniel Spritzer, especializado na infância e adolescência e membro do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas (Geat), no Rio Grande do Sul, afirma que, na era hipermoderna em que vivemos, com características de rapidez, de narcisismo e de satisfação rápida do prazer, cada nova tecnologia que surge tem um impacto diferente no nosso jeito de ser, de nos relacionarmos com as outras pessoas e com a gente mesmo.
“A gente precisa começar a estudar bem diretamente o que a tecnologia traz de benefício e de malefício, em que pontos ela faz parte do desenvolvimento normal e em que ponto já é dependência, porque senão a gente fica muito no âmbito abstrato”, defendeu a psicóloga Aline Restano, também membro do Geat. Vulnerabilidade maior Como relatam os profissionais, o grupo das crianças e adolescentes acaba por ser o mais vulnerável quando se trata da dependência. Por diversos motivos, como a atração por novidade, pela relação forte com as tecnologias – gerações que já nasceram com o convívio com ferramentas multimídia –, o tempo disponível etc.
Os pesquisadores também apontam que os jovens do sexo masculino têm mais prevalência de casos de jogos online e as meninas, no uso das redes sociais. No entanto, antes que pais fiquem preocupados ao extremo com o comportamento de seus filhos, é importante ressaltar que o uso problemático acontecerá para uma minoria das pessoas. Pesquisas apontam, por exemplo, que 3 a 5% dos usuários vão apresentar comportamento de dependência. Apesar de muitos estudos ainda serem necessários e indefinições ainda marcarem o assunto, pesquisadores apontam semelhanças entre a dependência de jogos e Internet com aspectos da dependência química, assim como alguns aspectos das compulsões.