FERNANDA LABATE 29 DE JANEIRO DE 2020
Conforme artigo publicado no site Vix no último dia 29, Usando seu perfil no Instagram, a blogueira e empresária Shantal Abreu relatou recentemente ter sido diagnosticada com uma crise de estresse após sentir alterações na visão e dificuldades tanto para falar quanto para entender palavras – sintomas que a preocuparam pela semelhança com os sinais que o corpo dá durante um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Crise de estresse: famosa relata o que sentiu
Com a ferramenta Stories da rede social, Shantal publicou vídeos em que aparece deitada em uma cama de hospital contando como foram os sintomas de sua crise emocional. Segundo a blogueira, tudo começou em casa, quando ela subitamente passou a enxergar de forma estranha. “Sabe quando um flash vem no seu olho e aí você fica enxergando meio esquisito? Eu estava enxergando assim”, descreveu ela.
Perda da fala
Após comer algo e não notar uma melhora, ela decidiu se deitar para ficar de olhos fechados, mas, quando tentou avisar o marido, Mateus Verdelho, percebeu que não estava conseguindo falar normalmente. “Eu não conseguia formar as palavras para falar. […] Eu não lembrava das palavras, tentava falar qualquer coisa e não saía”, afirmou, ressaltando que, ao pegar o celular para tentar ler, tudo ficou mais confuso.
“Eu não conseguia ler! As palavras, para mim, pareciam uma imagem que não tinha significado nenhum”, explicou Shantal, que continuou tentando explicar a situação para o marido, com pouco sucesso. “[Ela] não falava nada com nada, umas palavras que não existiam”, relatou Mateus nos vídeos, e Shantal comentou que também não estava conseguindo entendê-lo.
“Eu falava palavras que não existiam, ele me falava umas palavras e eu não entendia o que ele estava falando, como se ele estivesse falando árabe”, relatou a empresária que, por ter trombofilia, pensou que podia estar tendo um AVC – algo que não se confirmou. “Fiz os exames e foi só um ‘nervous breakdown’. Foi um surto, Tive uma crise emocional”, explicou a empresária.
Segundo ela, seu dia anterior havia sido conturbado e cheio de situações estressantes, algo que pode ter motivado os sintomas. Ao deixar o médico, porém, ela relatou uma recomendação para buscar um neurologista para descartar outras possibilidades, como a enxaqueca com aura, que pode apresentar sintomas semelhantes em alguns casos.
Crise de estresse: o que é
Estresse recorrente e seus sintomas
O estresse é uma emoção natural do ser humano e, quando acontece repentinamente, gera reações fisiológicas também naturais no corpo – mas passar por este processo constantemente é algo que pode, a longo prazo, prejudicar o organismo como um todo.
De acordo com Marcel Vella Nunes, psiquiatra do Hospital Santa Mônica, o estresse afeta praticamente todas as áreas do corpo e tem reações bem características.
Conforme explica, o estresse eventual causa tensão muscular, respiração rápida e coração acelerado como forma de “preparar” o corpo para um eventual perigo. Se ocorrer de forma constante, no entanto, a pessoa pode desenvolver dores crônicas de cabeça, na lombar e nos membros superiores, pressão alta, queda da libido, alteração no ciclo menstrual nas mulheres e impotência sexual nos homens.
A partir do momento em que o corpo tem estas reações de “defesa” com frequência, porém, ele pode ficar exausto. “À medida que o sistema nervoso autônomo continua a desencadear reações físicas, [ele] causa um desgaste no corpo. Não é tanto o que o estresse crônico faz com o sistema nervoso, mas o que a ativação contínua do sistema nervoso faz com os outros sistemas corporais que se torna problemático”, diz ele.
O que ocorre durante a crise
O acúmulo disso ou a ocorrência de algo emocionalmente desgastante (como a perda de uma pessoa próxima ou até a mudança brusca gerada na vida com a chegada de um filho, por exemplo) pode então desencadear a crise. Com isso, é possível que a pessoa sinta um mal-estar geral marcado por sintomas mais simples, como náuseas e dores de cabeça, até mais agudos, como formigamento e dificuldades para falar.
Os sintomas relatados por Shantal, segundo o psiquiatra, têm caráter dissociativo, ou seja, fazem com que a pessoa tenha alterações da percepção do ambiente e controle do corpo em diversos sentidos. Além da dificuldade em se expressar e entender o que se vê, é possível que o paciente apresente também alterações na visão, perda de memória, crises de identidade e chegue até a convulsionar.
Ter estes sintomas com muita frequência, no entanto, pode indicar a presença de um distúrbio psicológico que não necessariamente tem relação com o estresse e precisa ser devidamente avaliado por um especialista.
Tratamento e prevenção
Segundo o especialista, uma crise de estresse pode, a curto prazo, ser manejada com medicamentos que estabilizam o paciente e seus sintomas, mas também é importante agir na raiz do problema, identificando as causas da instabilidade emocional e buscando resolvê-las (ocasionalmente com o uso de psicoterapia no processo). Já a prevenção está em um estilo de vida equilibrado e uma boa rede de apoio.
“Existem algumas estratégias benéficas para o estresse como manter uma rede de apoio social saudável, praticar exercícios físicos regulares e ter uma boa qualidade de sono”, afirma ele, ressaltando que é importante buscar um profissional de saúde mental devidamente licenciado para identificar e encontrar formas de solucionar obstáculos que estejam impedindo o paciente de ter esse estilo de vida saudável.
Crise de estresse x AVC x enxaqueca com aura
Apesar de tanto a crise de estresse quanto o AVC e a enxaqueca com aura poderem trazer dificuldade de fala e compreensão, estes problemas são diferentes. Em geral, enquanto a crise ocorre como descrito, a enxaqueca e o AVC se diferenciam pelos fatos de a primeira frequentemente trazer sensibilidade à luz e responder a medicações, e de o segundo causar uma dor incapacitante que não melhora com analgésicos administrados em casa e no hospital.
É importante lembrar, porém, que, a partir da manifestação destes conjuntos de sintomas, é importante buscar atendimento médico independentemente da interpretação pessoal sobre o quadro, mas entender as características de cada um desses males pode ajudar a tranquilizar o paciente.
Enxaqueca com aura: o que é, sintomas e como identificar
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a enxaqueca acomete cerca de 15% da população mundial – e, para algumas das pessoas que sofrem desse intenso tipo de cefaleia, ela aparece com a chamada aura. Nestes casos, a dor de cabeça é precedida por alguns sintomas que não costumam ser relacionados com a enxaqueca e, entre eles, está a dificuldade em falar.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC), a aura é um conjunto de sintomas que aparecem antes da dor de cabeça e são, em grande parte das vezes, visuais. Para 90% das pessoas que têm enxaqueca com aura, é comum enxergar pontos pretos ou brilhantes e imagens em zigue-zague que surgem em uma parte do campo visual e podem aumentar com o passar do tempo.
Além das alterações visuais, outro sintoma frequente são as alterações sensitivas, em que o paciente pode sentir formigamento ou dormência em um lado do corpo. Aqui, é comum que essa sensação comece nos braços, na face e até na língua, também se espalhando progressivamente. Já o terceiro tipo de aura é o que tem sintomas como os descritos por Shantal: ou seja, a disatria e a afasia de expressão.
Durante uma crise de enxaqueca com aura, o paciente pode apresentar tanto dificuldades para pronunciar algumas palavras (disatria) quanto a emissão de sons incompreensíveis ao tentar falar, mesmo conseguindo pensar normalmente nas palavras que quer falar (afasia de expressão). Após o término da aura, é possível que surja uma dor de cabeça intensa.
Enquanto a enxaqueca com aura se diferencia de outros tipos de cefaleia justamente pela presença destes sintomas sensoriais, a enxaqueca normal é diferente das demais dores de cabeça por apresentar dor latejante em apenas um dos lados da cabeça e ser, geralmente, acompanhada por sensibilidade à luz e a barulhos, náuseas e vômitos.
AVC: o que é, sintomas e como identificar
Segundo informações do Hospital do Coração (HCor), há dois tipos de AVC. O primeiro e mais comum é o isquêmico, caracterizado pela falta de sangue em uma área do cérebro causada pela obstrução de uma artéria, enquanto o segundo é o hemorrágico, que é um sangramento causado pelo rompimento de um vaso sanguíneo. Apesar de diferentes, ambos são perigosos e requerem atendimento de emergência.
Com o AVC, o paciente apresenta sintomas mais repentinos que os da enxaqueca com aura e mais agudos que os da crise emocional, que evoluem gradualmente e, geralmente, têm um gatilho. É comum, aqui, a pessoa sentir fraqueza, formigamento na face e em um lado do corpo, dor de cabeça intensa sem causa aparente, falta de equilíbrio, perda da fala, tontura, confusão, e alterações visuais.