O luto é um processo natural para nós diante da perda de um ente querido, já o luto por suicídio é um dilema que envolve questões delicadas, que nem sempre são fáceis contornar. Normalmente, surgem indagações e incertezas sobre como administrar a situação diante do suicídio de um adulto. De fato, um dos maiores desafios é superar essas circunstâncias sem que elas afetem a saúde mental.
Mas como cuidar da saúde mental da família em luto? Como lidar com o suicídio entre jovens? Como contar que o pai ou a mãe se suicidou? Quais são os passos para enfrentar a situação da perda de um filho, amigo ou cônjuge nessas situações?
Dada a complexidade desse tema — e a importância de um suporte profissional especializado nesses momentos, o psicólogo do Hospital Santa Mônica, Marcelo Padilla, irá apresentar algumas alternativas de como enfrentar o luto por suicídio. Acompanhe!
O que indica o panorama do suicídio no Brasil?
Em nosso país, os casos de ideações suicidas e de atos concretizados aumentaram bastante nas últimas décadas. Com isso, o suicídio se tornou um problema de saúde pública, já que o número de mortes por essa causa pode ser equiparado a algumas doenças crônicas de grande prevalência.
E isso segue uma tendência global, pois segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio apareceu entre as 20 principais causas de morte no mundo nos últimos anos. Outras informações retiradas dessa mesma fonte indicam que:
- os casos de suicídio foram registrados em pessoas de todas as idades;
- no mundo, esse ato leva mais de 800.000 pessoas à morte, o que equivale a 1 suicídio a cada 40 segundos;
- somente no Brasil, são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos;
- cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais, principalmente à depressão;
- o transtorno bipolar, o alcoolismo e o abuso de substâncias também são determinantes para o suicídio;
- o suicídio se encontra entre as três principais causas de óbito entre pessoas com idade de 15 e 29 anos;
- mesmo quando ocorrem com o adulto, as mortes por suicídio têm relação profunda com transtornos mentais na adolescência.
De que forma os lutos com o suicídio e pela morte natural de alguém se diferenciam?
O simples fato de os motivos que levaram à morte serem de razões diferentes muda a abordagem em relação ao enfrentamento. Quando alguém vai a óbito por causas naturais e em decorrência de doenças, a forma de lidar com a perda é bem diferente.
Nesse caso, mesmo que a família e os amigos se entristeçam, eles não foram surpreendidos pelo choque da notícia da morte como acontece no suicídio. Ou seja, o tempo em que o ente querido passou em tratamento ajuda a encarar a situação de outra maneira.
O mesmo acontece nas mortes por acidente. Embora seja uma notícia ruim e inesperada, o entendimento de que o fato que causou a morte não foi intencional também influencia essa visão.
Porém, nas mortes por suicídio, o maior desafio é compreender as razões pelas quais alguém toma essa decisão. Isso porque os sinais deixados pela pessoa em sofrimento nem sempre são percebidos. Nesse contexto, o cuidado com a saúde mental se torna essencial à proteção da vida e da integridade.
Qual é a melhor abordagem para contar se um parente, como pai ou mãe, se suicidou?
Independentemente da causa, passar uma notícia de morte é uma situação desafiadora. No caso de suicídio, isso se torna ainda mais complexo devido ao fator surpresa que envolve tais circunstâncias. Quando o caso envolve entes queridos como os pais, a tristeza e a frustração por não ter percebido a situação ainda é maior.
No entanto, a notícia precisa ser transmitida de maneira a não chocar quem a recebe. Quando o suicida é uma pessoa muito próxima, o ideal é chamar o parente para uma conversa, pessoalmente, e a sós. Tais fatos não devem ser comunicados por telefone ou redes sociais.
Igualmente relevante é assegurar que o ambiente em que se vai dar a notícia é propício e seguro. Isso porque não se sabe, ao certo, que tipo de reação a pessoa pode ter com o impacto da notícia. Por isso, esse é um momento delicado, que exige calma, paciência e muita habilidade de comunicação.
Como o suicídio impacta a saúde mental de uma família?
O suicídio é um comportamento com determinantes multifatoriais. Tanto a ideação suicida quanto o ato em si resultam de uma complexa interação de fatores psicológicos e biológicos. Há evidências de que essa prática esteja, inclusive, ligada à herança genética, cultural e socioambiental.
Dessa forma, as atitudes que levam ao suicídio podem ser vistas como a consequência final de um processo doloroso. Nesse contexto, os impactos sobre a saúde mental da família podem se tornar gatilhos para o desenvolvimento de problemas psiquiátricos.
Em linhas gerais, transtornos como a depressão figuram na lista dos mais prevalentes em familiares de quem perdeu um membro para o suicídio. Se não tratada, essa doença pode levar ao desenvolvimento de diversos males mentais e físicos.
Mesmo que o suicídio possa ocorrer em qualquer idade, convém ter atenção às mudanças de comportamento, sobretudo em adolescentes e jovens. Nessa fase da vida, há maior vulnerabilidade para as crises existenciais. Quando os pais ou responsáveis estão mais presentes, isso possibilita conhecer os sinais que indicam que eles estão precisando de ajuda.
Por isso, manter a proximidade e cultivar relações de confiança entre os familiares pode funcionar como suporte para enfrentar esses desafios. O carinho, a atenção e o diálogo aberto fortalecem os laços e podem fazer a diferença em relação às expectativas para a vida futura.
Como o Hospital Santa Mônica pode auxiliar nesse momento?
Nossa instituição tem mais de 50 anos de experiência em tratamentos centrados na reabilitação mental. Trabalhamos com uma equipe multidisciplinar formada por médicos clínicos, psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, recreadores e outros.
Assim, a nossa meta é oferecer um suporte especializado que ajude a família a superar os momentos de dor e de tristeza pela perda de seu ente querido. Para tanto, temos uma infraestrutura diferenciada e profissionais qualificados para prestar a assistência necessária à recuperação dos impactos causados pelo luto por suicídio.
Diante da perda, é importante fazer um acompanhamento multiprofissional com um psiquiatra e um psicólogo diante do sofrimento.
Saiba mais sobre o processo de luto e entenda como lidar com ele, acesse a matéria feita pela psicóloga especializada em suicidologia, Karina Okajima Fukumitsu.
Conhece alguém que precisa de ajuda nesse sentido? Entre em contato com o Hospital Santa Mônica e agende uma avaliação!