Nos últimos meses, a dependência em apostas tem se tornado uma questão alarmante dentro das empresas brasileiras. O fácil acesso às plataformas de apostas online, combinado com a crescente popularidade das apostas esportivas, tem levado muitos trabalhadores a desenvolverem comportamentos compulsivos.
Este fenômeno está criando desafios significativos para as empresas, que estão lidando com pedidos frequentes de adiantamento salarial e a consequente queda na produtividade dos funcionários afetados conforme apontou a matéria veiculada na UOL,no último dia 26.
As casas de apostas online e físicas foram legalizadas no Brasil em 2018, quando o então presidente Michel Temer sancionou a Lei nº 13.756/18, tornou possível apostar legalmente no Brasil.
O site do escritório de advocacia Mattos Filho, comenta que o Presidente da República sancionou, em 30 de dezembro de 2023, a Lei nº 14.790, que altera a Lei nº 13.756, de 12 de dezembro de 2018 para regular a modalidade denominada “aposta de quota fixa”.
A lei passa a permitir a exploração de aposta em quota fixa em eventos esportivos e jogos online por empresas autorizadas pelo Ministério da Fazenda. Jogo online é definido como “canal eletrônico que viabiliza a aposta virtual em jogo no qual o resultado é determinado pelo desfecho de evento futuro aleatório, a partir de um gerador randômico de números, de símbolos, de figuras ou de objetos definido no sistema de regras”.
Saiba mais sobre o assunto com Antonio Chaves Filho, psicólogo do Hospital Santa Mônica.
A ascensão das apostas online
A popularidade das apostas online explodiu no Brasil, impulsionada pela ampla cobertura de eventos esportivos e pela facilidade de acesso a sites e aplicativos de apostas. Este crescimento tem sido acompanhado por um aumento na publicidade de apostas, que promove a atividade como uma forma emocionante e potencialmente lucrativa de entretenimento.
No entanto, para muitos, essa prática se transforma em um grande problema, com consequências devastadoras para suas vidas pessoais e profissionais.
Jogo compulsivo: entendendo o transtorno
O jogo compulsivo, também conhecido como transtorno do jogo ou ludopatia, é caracterizado por um desejo incontrolável de continuar jogando, apesar das consequências negativas. Este comportamento envolve o risco de algo valioso na esperança de obter um ganho ainda maior.
Antonio reforça que o jogo pode ativar o sistema de recompensa do cérebro de maneira semelhante ao álcool e às drogas, levando à dependência. Pessoas com esse transtorno frequentemente perseguem apostas, acumulam perdas, esgotam suas economias e contraem dívidas, sempre impulsionados pela esperança de que a “boa oportunidade” está por vir, o que na verdade é uma significativa baixa da dopamina em seu cérebro, após uma importante estimulação que acontece quando a aposta é feita. Muitas vezes, escondem seu comportamento, mentem para entes queridos e, em casos extremos, recorrem ao roubo ou fraude para sustentar a dependência.
A sensação de prazer e excitação gerada pelas vitórias, mesmo que esporádicas, reforça o comportamento, criando um ciclo vicioso difícil de quebrar.
Sintomas do jogo compulsivo
Os principais sinais de jogo compulsivo incluem:
Preocupação com o jogo: pensar constantemente em jogos de azar, planejar atividades de jogo e buscar formas de conseguir dinheiro para jogar.
Desestruturação de uma rotina funcional de vida: o jogador vai abrindo mão de atividades importantes na vida, como convívio familiar, social, religioso ou esportivo, para ter mais tempo de estudar e fazer apostas.
Aumento das apostas: necessidade de apostar quantias cada vez maiores para sentir a mesma emoção.
Fracasso em controlar o jogo: tentativas repetidas de reduzir ou parar de jogar, sem sucesso.
Sentimentos negativos: irritabilidade ou inquietação ao tentar reduzir o jogo.
Fuga emocional: usar o jogo para escapar de problemas ou aliviar sentimentos de desamparo, culpa, ansiedade ou depressão.
Perseguição de perdas: jogar mais para tentar recuperar o dinheiro perdido.
Mentiras: ocultar o verdadeiro grau de envolvimento com o jogo de familiares e amigos.
Riscos e perdas: colocar em risco ou perder relacionamentos importantes, empregos ou oportunidades acadêmicas e profissionais devido ao jogo.
Dependência financeira: pedir ajuda financeira a outros por ter perdido dinheiro no jogo.
Enquanto jogadores casuais costumam parar ao perder ou estabelecer limites claros, indivíduos com jogo compulsivo continuam a jogar na tentativa de recuperar perdas, criando um ciclo cada vez mais destrutivo. Esses comportamentos podem levar a graves consequências pessoais e profissionais.
Impacto nas empresas
O impacto do vício em apostas nas empresas é multifacetado. Em primeiro lugar, há um aumento significativo nos pedidos de adiantamento salarial. Funcionários que se tornaram dependentes químicos dos jogos, frequentemente esgotam seus recursos financeiros em apostas e recorrem ao adiantamento de salários como uma forma de manter suas finanças minimamente sob controle ou para comprometê-las ainda mais. Isso pode causar problemas de fluxo de caixa para as empresas e criar um ambiente de trabalho tenso e insustentável.
Além disso, a produtividade dos funcionários dependentes em apostas tende a cair. A ansiedade e o estresse associados às perdas financeiras e ao comportamento compulsivo podem levar a um aumento das faltas ao trabalho, menor concentração e qualidade do trabalho, além de possíveis desonestidades ou desvios de recursos para sustentar o vício.
O papel das empresas no combate a dependência
As empresas têm um papel crucial a desempenhar no enfrentamento deste problema. Em primeiro lugar, é importante que elas reconheçam a gravidade da dependência química em apostas e suas implicações.
A criação de programas de conscientização pode ajudar a educar os funcionários sobre os riscos associados às apostas e os sinais de alerta de uma possível dependência.
Além disso, oferecer suporte psicológico pode ser essencial para ajudar funcionários afetados a buscar tratamento. Parcerias com clínicas especializadas em dependência de jogos de azar e programas de apoio, como grupos de apoio e aconselhamento, podem fornecer os recursos necessários para que os funcionários lidem com o vício e suas consequências.
Tratamento do Jogo Compulsivo
O tratamento do jogo compulsivo pode ser desafiador, mas muitas pessoas encontram alívio e recuperação por meio de apoio profissional. As opções incluem terapia comportamental, aconselhamento financeiro e, em alguns casos, medicação. O suporte contínuo e a participação em grupos de apoio também são cruciais para a recuperação a longo prazo.
Casos reais e testemunhos
Relatos de funcionários que enfrentam o vício em apostas são alarmantes. Muitos descrevem uma espiral descendente de dívidas, ansiedade e problemas familiares, exacerbada pela necessidade constante de obter dinheiro para continuar apostando. Esses casos ilustram a urgência de intervenções eficazes por parte das empresas e da sociedade como um todo.
A dependência em apostas é um problema emergente e sério dentro das empresas brasileiras, que exige uma abordagem multifacetada para ser combatido. As empresas precisam estar atentas aos sinais de alerta e prontas para oferecer suporte aos funcionários afetados, promovendo um ambiente de trabalho saudável e produtivo. A conscientização e a educação são passos essenciais para prevenir que mais indivíduos caiam na armadilha do vício em apostas, protegendo tanto a saúde mental dos funcionários quanto a estabilidade financeira e operacional das empresas.
Chaves reforça que o jogo compulsivo é uma doença séria que pode devastar a vida de uma pessoa. Reconhecer os sinais e buscar ajuda são passos fundamentais para o tratamento e a recuperação. Com apoio adequado, muitas pessoas conseguem superar este transtorno e reconstruir suas vidas.
O Hospital Santa Mônica possui equipe especializada no tratamento de pacientes com dependência química em álcool, drogas e em apostas, entre em contato conosco e saiba mais.
