Estudiosos da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, realizaram uma pesquisa acerca da relação entre esquizofrenia e uso de drogas na população nascida em 1955 e 1999. Foram mais de 3 milhões de pessoas avaliadas. Entre elas, 200 mil eram usuárias de drogas, e 21 mil apresentavam diagnósticos de esquizofrenia.
Diante desses índices, verificaram que quem tem problemas psiquiátricos são mais suscetíveis ao uso dos entorpecentes. Inclusive, os dois problemas podem se desenvolver juntamente. Sendo assim, continue a leitura deste artigo para entender melhor sobre o assunto com a Dra. Luciana Mancini Bari, coordenadora de práticas médicas do Hospital Santa Mônica!
Saiba o que é a esquizofrenia
Uma doença mental, a esquizofrenia muda a forma de sentir, pensar e de se comportar do paciente, provocando indiferenças afetivas, dificuldade de se relacionar com outras pessoas e pensamentos conturbados e abstratos.
Desse modo, é considerado um transtorno mental gravíssimo, estigmatizante e crônico, sendo multifatorial. Ele é classificado em diferentes tipos, os quais você conhecerá a seguir.
Esquizofrenia paranoide
É o mais encontrado, pois há predominância de delírios e alucinações, principalmente ouvir vozes e mudanças no comportamento, sobretudo agitação e inquietação.
Esquizofrenia catatônica
Nesse caso, a pessoa não reage corretamente ao ambiente, ficando letárgica, com paralisia do corpo por horas ou dias e sem falar, repetindo palavras ou movimentos estranhos. O paciente precisa de um acompanhamento mais intensivo já que os riscos de desnutrição ou autoagressão são muito maiores.
Esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada
Pensamentos conturbados, com frases sem sentido e fora do contexto. Também há desinteresse por tudo, isolamento social e dificuldade em realizar tarefas diárias.
Esquizofrenia residual
Um tipo de esquizofrenia crônica que acontece quando já houveram outros episódios, mas foram estabilizados. Há certos sintomas permanentes, como lentificação, isolamento social, falta de iniciativa ou afeição, expressão facial diminuída ou falta de autocuidado.
Esquizofrenia indiferenciada
É diferente das demais e não se encaixa em nenhum dos itens acima, portanto precisa ser muito bem diagnosticada. O paciente encontra obstáculos para identificar o que é realidade ou não, bem como elaborar respostas emocionais mais amplas. Inclusive, os sintomas são parecidos quando o indivíduo se encontra sob efeito de alguma droga.
Descubra qual é a relação entre a esquizofrenia e o uso de drogas
A relação entre a esquizofrenia e o uso de drogas é uma linha bem tênue, pois a dependência química leva ao transtorno mental e vice-versa, inclusive a doença pode ser agravada pelos entorpecentes. Afinal, tanto o problema mental quanto as drogas provocam mudanças no corpo, tais como:
- alucinações;
- delírios;
- distúrbios dos movimentos;
- desordem nos pensamentos;
- redução das sensações de prazer diário;
- falta de foco;
- redução da fala; e
- baixa da capacidade cognitiva.
Segundo estudo da Universidade de Copenhague, quem faz uso de maconha tem 5,2 vezes mais risco de desenvolver a esquizofrenia. Por outro lado, o álcool tem índice menor, de 3,4 vezes.
No entanto, o álcool em pessoas com a doença promove a evolução do problema e, consequentemente, desemprego, baixa escolaridade, sintomas exagerados, falta de capacidade de julgamento e do próprio tratamento de saúde. Já com outras substâncias químicas, as margens ocorrem em:
- drogas alucinógenas: 1,9 vezes;
- sedativos: 1,7 vezes;
- demais substâncias: 2,8 vezes.
Demais estudos demonstram que um dos motivos para o uso de drogas entre pessoas com esquizofrenia é porque ela oferece um alívio nos sintomas depressivos, de ansiedade e na manutenção da euforia, visto que esses usuários têm dificuldade de socializar com outras pessoas.
Logo, a utilização serve para a redução de estigmas e aceitação social. Todavia, quando a pessoa com predisposição à doença faz uso de drogas sintéticas, maconha, estimulantes, anfetaminas, cocaína e outras, pode apresentar sintomas psicóticos que somente médicos podem identificar.
Veja como é o tratamento de um dependente esquizofrênico
Não existe uma cura para o esquizofrênico nem para o dependente químico. Entretanto, para a dependência há tratamento em casa de recuperação, com psiquiatras ou mesmo internação para que a pessoa comece uma jornada nova em sua vida sem uso de drogas. Nesse caso, a presença da família é primordial para o restabelecimento do indivíduo.
Já o esquizofrênico deverá procurar um psiquiatra a fim de receber o diagnóstico correto e tomar as medicações, fazer terapia e acompanhamento. Inclusive, é recomendado procurar por uma clínica especializada com equipe multifuncional capacitada para obter bons resultados.
Aprenda a ajudar o dependente químico
Ao ver uma pessoa que gostamos muito utilizar substâncias químicas, dá a sensação de grande impotência, porém é possível ajudá-la seguindo os passos abaixo.
Tenha empatia
Não é uma tarefa fácil, mas é necessário ter empatia a fim de que a situação fique menos complicada. Assim, compreenda a pessoa, se colocando no lugar dela, e seja compassivo para que ela confie em alguém. Também é importante não realizar julgamentos. Pelo contrário: respeite a dor durante todo o processo de tratamento.
Seja bom ouvinte
Converse abertamente, sem preconceitos, mostrando que você se importa com o bem-estar dela. No começo, pode ser difícil, porém insista e ressalte que deseja fazer parte de cada momento, mesmo daqueles mais delicados.
Pesquise sobre o assunto
Você não se tornará um especialista, mas deve conhecer o assunto com mais detalhes a fim de que seu auxílio surta efeito. Na internet, há muitos artigos sérios, pesquisas de como proceder diante desse momento. Isso é importante até mesmo para apresentar detalhes sobre o paciente ao médico no momento da internação (caso ela seja necessária).
Esteja de braços abertos
Geralmente, os relacionamentos ficam balançados com o dependente químico, provocando inúmeros problemas. Todavia, deixe isso de lado e mostre seu amor pela pessoa para que a recuperação seja plena. Dê amparo e esteja sempre aberto a acolhê-la.
Incentive a participação em grupos de apoio
Grupos de apoio realizam um bom trabalho na recuperação dos dependentes químicos. Por isso, incentive sua ida a reuniões para compartilhar experiências e ouvir também.
Agora que você já sabe qual a relação entre esquizofrenia e uso de drogas, terá condições de apresentar uma ajuda mais qualificada tanto para o dependente químico quanto para a equipe médica que vai tratá-lo. Também poderá orientar melhor a pessoa a respeito das consequências que as atitudes trarão para a saúde física, emocional e mental.
Deseja se aprofundar mais sobre o tema? Leia outro artigo nosso e saiba como diferenciar esquizofrenia de transtorno bipolar!