Um estudo publicado pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, de Portugal, alerta que não há evidências científicas que comprovem a eficácia terapêutica da Ibogaína no tratamento da dependência química. Ou seja, ainda que essa alternativa esteja em discussão, pouco se sabe sobre o real efeito de tal substância no organismo.
Tendo isso em vista, o psicólogo Antonio Chaves Filho, irá explicar o que é a Ibogaína, sua origem e os principais efeitos da planta sobre o cérebro. Veja também o que a literatura diz sobre o tema, como a Ibogaína se relaciona com o tratamento contra a dependência química e os riscos que o seu consumo representa para a saúde.
Aproveite a leitura!
O que é a Ibogaína?
É um alcalóide, do grupo indol, psicoativo e alucinógeno, e se origina das raízes de plantas arbustivas, originárias da floresta tropical de diferentes regiões do continente africano. O uso da Ibogaína é uma tradição milenar usada pelos nativos indígenas em preparações da casca, principalmente na África Centro Ocidental.
Segundo os indígenas, a Ibogaína tem altos poderes e proporciona certas experiências visuais típicas das festas comunitárias e rituais noturnos de iniciação religiosa. Porém, a partir dos anos de 1950, a planta começou a ser empregada como opção para tratamento contra algumas doenças.
Além disso, a Ibogaína já foi usada experimentalmente, em conjunto com a psicoterapia, no combate à dependência de drogas mais viciantes. Entretanto, apesar de alguns profissionais defenderem essa conduta, os benefícios dela não foram confirmados pela ciência. O que se sabe é que a planta provoca fortes alucinações e, por isso, não deve ser aplicada com finalidade terapêutica.
Quais são os efeitos da Ibogaína no cérebro?
A hipótese mais provável é que a ação dessa planta se dê nas áreas cerebrais responsáveis pela coordenação das emoções e do bem-estar. Entretanto, por ser classificada como alucinógena, seus efeitos não têm um padrão definido. Logo, o resultado do seu consumo é imprevisível, já que a pessoa passa a construir uma imagem irreal de si mesma.
Além disso, especula-se que a Ibogaína apresente um grande potencial para desregular a produção de dopamina e serotonina. Os neurotransmissores são responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar. Entretanto, ainda não é possível afirmar os riscos existentes entre as alucinações e as alterações das taxas dessas substâncias produzidas pelo cérebro.
Por ser alucinógena, a Ibogaína provoca desequilíbrios mentais muito fortes. Esses efeitos costumam surgir entre três e quatro horas após o seu consumo. Independentemente da intenção do uso, as pessoas ficam em um estado muito parecido com um sonho. Alguns usuários relataram que, às vezes, a planta desperta sensações muito estranhas.
Para outros, a experiência com a Ibogaína pode possibilitar a abertura de novos horizontes. Com isso, o usuário pode ser induzido a uma melhor reflexão sobre os efeitos das drogas no corpo e, desse modo, passa a ter consciência dos danos causados por elas.
Mas não há nenhuma garantia de que esse efeito seja alcançado por todos que utilizam a Ibogaína. Assim como acontece em rituais com chás de ervas e plantas medicinais — como a ayahuasca —, tais episódios estão mais associados a sensações espiritualizadas do que às fisiológicas, de fato.
Quais são os prós e contras do uso da Ibogaína?
Como vimos, o consumo da raiz da Ibogaína é mais utilizado por costumes e tradições milenares — em rituais indígenas e entre povos africanos. Contudo, vamos apresentar alguns pontos favoráveis e não favoráveis ao uso dela como finalidade terapêutica para o tratamento de vício. Confira!
Prós
Nos rituais que utilizam a planta Ibogaína, alguns indivíduos obtêm experiências positivas e relaxam a mente durante o efeito da substância. Porém, mesmo que seu consumo pareça benéfico, é necessário ter cuidado com a quantidade utilizada. A atenção a esse detalhe é uma forma de prevenir efeitos indesejados e riscos à saúde.
Há casos em que a Ibogaína pode ser empregada para o controle da adicção de drogas. Para alguns adictos, ela pode funcionar como alternativa de redução da abstinência após o abandono dos tóxicos. No entanto, tal conduta não se configura como a melhor alternativa para tratamento.
Contras
O uso terapêutico da Ibogaína no tratamento para dependentes químicos não é recomendado. Vale destacar, também, que a comercialização da planta — ou de seus derivados — não é permitida no Brasil. Ela ainda é proibida em diversos países, visto que não há comprovações científicas da sua eficiência medicamentosa para o uso seguro em humanos.
Além da não aprovação pelas entidades normativas do país, a planta é altamente tóxica. Essa toxicidade afeta diretamente órgãos vitais como o fígado, rim e coração. Somado aos impactos negativos sobre o corpo, o efeito alucinógeno da Ibogaína pode levar a comportamentos perigosos e colocar a vida em risco.
Outro fator negativo do consumo de Ibogaína é a maior propensão ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas, já que ela age diretamente no sistema nervoso central. Como as áreas cerebrais impactadas pela planta são, especificamente, as que coordenam o equilíbrio, memória e concentração, há consequências muito ruins para a saúde.
Além disso, o Governo Federal, por intermédio da Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (SENAPRED) do Ministério da Cidadania, declarou que:
- Até o presente momento, não há comprovação científica consistente que respalde o uso de ibogaína para o tratamento da dependência química;
- Não há evidências científicas que garantam a segurança do uso de ibogaína de forma terapêutica, tratando-se de uma substância com riscos graves reportados, incluindo morte súbita;
- Não há regulamentação da ANVISA para o comércio da ibogaína como medicamento, sendo sua oferta e comercialização proibidas e passíveis de denúncias, por meio da Central de Atendimento ANVISA Atende, pelo telefone 0800 642 9782, ou pelo e-mail: ouvidoria@anvisa.gov.br.
Por fim, a SENAPRED é absolutamente contrária à utilização da ibogaína para tratamento da dependência química, em qualquer contexto clínico e terapêutico, devido aos graves riscos reportados, até que evidências científicas robustas comprovem a eficácia e a segurança desta droga para esta finalidade. Para além disso, se fazem necessárias as devidas regulamentações pelos órgãos brasileiros competentes, conforme recomendação explícita na Nota Técnica nº 64/2020 SENAPRED/SEDS/MC.
Quais são os tratamentos seguros para a dependência química?
Por enquanto, não existem evidências na literatura que assegurem a efetividade e segurança da Ibogaína para o controle de transtornos psíquicos. Por conta disso, o ideal é buscar estratégias mais eficazes e contar com a expertise do Hospital Santa Mônica em relação à segurança e eficiência na reabilitação de dependentes químicos.
Oferecemos uma infraestrutura diferenciada e o suporte necessário para vencer o desafio da adicção em drogas. Além disso, nossa equipe multidisciplinar é composta por profissionais experientes, a fim de promover a reabilitação mental e física de quem precisa de apoio nesse sentido.
Portanto, se você conhece alguém que necessita de ajuda para se libertar das drogas, o uso de Ibogaína não é a melhor opção. Para isso, conheça as alternativas de tratamento do Hospital Santa Mônica: disponibilizamos uma assistência completa, com acompanhamento psicológico e psiquiátrico, desde o atendimento ambulatorial até a internação hospitalar.
Precisa de auxílio para superar a dependência química? Entre em contato conosco e fale com os nossos colaboradores!