O que é Alcoolismo

A dependência alcoólica não é uma enfermidade considerada estática. Em termos absolutos, além do viés social, ela constitui um transtorno que pode trazer sérias consequências ao indivíduo e seus familiares ao longo da vida. Porém, esse fenômeno está atrelado à interação de variadas questões biológicas e culturais. Tanto social como culturalmente, há evidências da influência de outros fatores implícitos à correlação do indivíduo com a substância e a opção pelo uso. Mesmo cientes dos prejuízos que o álcool representa a diferentes esferas da vida, muitos escolhem manter o consumo. Nesse processo, a figura do profissional de saúde é fundamental no suporte adequado para a redução dos efeitos do alcoolismo sobre mente e corpo. No âmbito clínico, convém buscar a melhor compreensão desse fenômeno, a fim de oferecer uma intervenção de qualidade e que possa frear os impactos da dependência alcoólica.

Estatísticas sobre o o consumo de bebidas alcoólicas

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) apontam a importância de medidas de controle sobre os efeitos sociais e econômicos da dependência alcoólica.

No Brasil e no mundo, as estatísticas são extremamente preocupantes em relação à prevalência de consumo de bebidas alcoólicas entre adolescentes e jovens. Uma pesquisa divulgada pela Revista de Saúde Pública destacou que 75% dos entrevistados com idade entre 14 e 17 anos afirmaram já ter consumido álcool.

Em termos globais, alguns dados recentemente publicados pela OPAS alertam para uma realidade também preocupante. Observe:

  • 2,3 bilhões de pessoas no mundo consomem álcool regularmente;
  • 27% de todos os jovens entre 15 e 19 anos ingerem algum tipo de bebida alcoólica;
  • o uso nocivo das bebidas alcoólicas contribui para mais de 5% da carga global de doenças e matou mais de 3 milhões de pessoas apenas em 2016;
  • o consumo médio diário de álcool puro é cerca de 33 gramas, o equivalente a 300 ml de vinho, 750 ml de cerveja ou 80 ml de bebidas destiladas;
  • entre meninos e meninas, pesquisas escolares mostram que o consumo de álcool começa antes dos 15 anos;
  • em todo o planeta, 45% do total da produção de álcool é para fazer bebidas alcoólicas;
  • no mundo, estima-se que 237 milhões de homens e 46 milhões de mulheres sejam vítimas de transtornos relacionados ao alcoolismo;
  • dos óbitos atribuíveis ao álcool, 28% estão relacionados a acidentes de trânsito e violência interpessoal; 21% aos distúrbios digestivos e 19% a doenças do coração.

Mediante à simbologia que tais números representam em relação à dependência alcoólica, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, declarou:

Muitas pessoas, suas famílias e comunidades sofrem as consequências do uso nocivo do álcool por meio de violência, lesões, problemas de saúde mental e doenças como câncer e acidente vascular cerebral. Por isso, é hora de intensificar as ações para evitar os impactos dessa grave ameaça ao desenvolvimento de sociedades saudáveis.

Sintomas do Alcoolismo

O consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode provocar diferentes sintomas na mente e no corpo. Todavia, o nível dos desequilíbrios orgânicos expressos nessas condições dependem de distintos fatores. Por essa razão, é necessário considerar, minimamente, o grau alcoólico, os hábitos de consumo e as condições fisiológicas do indivíduo. Para facilitar a compreensão do tema, vamos apresentar os sintomas subdivididos em dois tópicos: os gerais e os relacionados à abstinência alcoólica. Compare!

Sintomas gerais

De modo geral, a embriaguez provoca alterações no estado comportamental, redução da sensação de timidez e de introversão e emotividade mais acentuada. Dependendo do teor alcoólico ingerido, pode haver tendência à euforia exagerada e à agressividade.

Além desses, também há sinais como:

  • desejo de beber isoladamente;
  • comportamento paranoico e evidência de alucinações;
  • tendência à agressividade ou intimidação quando são confrontados;
  • tentativas de esconder dos parentes ou dos amigos o vício;
  • manutenção do vício mesmo diante dos prejuízos pelo distanciamento da família e dos amigos próximos;
  • dificuldades para controlar o vício, mesmo percebendo os problemas relacionados a essa condição;
  • perda gradativa de memória, tremores das mãos, insônia e redução de apetite.

Outro problema que merece destaque é o aumento da tolerância ao álcool. Pessoas que consomem a bebida por longos anos tendem a aumentar progressivamente a dose para obter o efeito desejado. Alguns indivíduos conseguem até mesmo realizar atividades rotineiras mesmo com altas concentrações de álcool no sangue.

Sintomas de abstinência

A crise de abstinência acontece mediante a redução ou interrupção do consumo da bebida. Consequentemente, o organismo “estranha” a nova condição, assim surgem sintomas que podem apresentar intensidade variável. Nessas circunstâncias, as atividades profissionais ou acadêmicas são comprometidas, pois a pessoa é dominada por diferentes sensações de desânimo em relação à vida.

Inicialmente, os sinais são leves e não duram muito. Nas etapas mais severas da dependência alcoólica, ocorrem manifestações mais significativas e que podem resultar em graves prejuízos à saúde física e emocional.

Neste quadro mais avançado do alcoolismo pode-se perceber diferentes efeitos:

  • sintomas físicos: tremores de extremidades ou generalizados, sudorese, calafrios, náuseas, vômitos, cefaleia e tontura;
  • sintomas afetivos: irritabilidade, estresse excessivo, fraqueza mental, ansiedade e depressão;
  • sintomas sensoriais: pesadelos, perda do senso de realidade, alucinações, paranoia e confusão mental.

Sintomas físicos

Os impactos do álcool sobre o organismo devem ser considerados de acordo com os padrões de consumo da bebida. Algumas pessoas bebem esporadicamente e, por isso, não apresentam grandes problemas com o álcool. Porém, há aqueles que consomem álcool de forma abusiva e um terceiro grupo dependente do alcoolismo.

Um exemplo clássico são aqueles usuários de álcool que fazem uso nocivo da bebida, mas não integram o grupo dos dependentes alcoólicos. Apesar de terem problemas com a bebida em relação ao trabalho, à família ou mesmo em eventuais acidentes de trânsito, insistem em afirmar que bebem apenas socialmente.

Portanto, os efeitos no organismo são proporcionais à carga alcoólica recebida. De maneira geral, os homens são mais resistentes às consequências da bebida do que as mulheres. Logo, devido à maior sensibilidade aos danos biológicos do álcool, mesmo a ingestão de pequenas doses pode causar grandes prejuízos ao organismo feminino.

Resumidamente, os maiores problemas resultantes da dependência alcoólica sobre o organismo são:

  • hipertensão arterial;
  • comprometimento renal;
  • doenças gástricas e hepáticas;
  •  envelhecimento precoce da pele;
  • perda gradual da motricidade fina;
  • cansaço e indisposição mental e física;
  • prejuízos à memória a curto e médio prazo.

Quanto aos aspectos sociais e profissionais, a dependência alcoólica pode causar os seguintes impactos:

  • tendência ao isolamento social;
  • menor expectativa quanto ao futuro;
  • afastamento dos familiares e amigos;
  • maior risco de desemprego e de problemas financeiros;
  • dificuldade para manter relacionamentos afetivos estáveis;
  • maior probabilidade de envolvimento em conflitos familiares;
  • dificuldade para progressão na carreira acadêmica ou profissional.

Diagnóstico do Alcoolismo

Atenção: requer um diagnóstico de médico psiquiatra

A investigação diagnóstica de um paciente com dependência alcoólica é feita por meio de uma análise comportamental dos últimos três meses. São consideradas algumas questões, como a dificuldade para conter o desejo incontrolável de consumir bebida alcoólica e os impactos sobre a vida social e profissional.

Durante essa avaliação individual, o médico ou o psicólogo precisa verificar aspectos que definam se há dependência alcoólica ou somente o uso nocivo dessa substância. Tais observações são fundamentais à identificação do nível de gravidade do problema para adotar as condutas mais adequadas.

Os fatores mais relevantes para diagnóstico são:

  •     compulsão por bebidas alcoólicas;
  • afastamento total ou redução do convívio social;
  • características que apontam tolerância ao álcool;
  • sinais evidentes de abstinência física e mental ao cessar o consumo;
  • dificuldade para controlar a quantidade de bebida ou momento de parar de beber;
  • diminuição da expectativa quanto ao futuro ou desinteresse pelas atividades da rotina.

Tratamento do Alcoolismo

Atenção: requer um diagnóstico de médico psiquiatra

Segundo um artigo publicado no site Scielo, é preciso escolher as terapias conforme o nível de gravidade do quadro. Nessa perspectiva, listamos as melhores alternativas de tratamento para a reabilitação da saúde de quem enfrenta problemas com o alcoolismo. Veja quais são!

Tratamento Médico e Terapias

Tratamento Psicoterapêutico

É realizado por uma equipe multidisciplinar de saúde composta por médicos clínicos, psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e outros. O objetivo é auxiliar o paciente na recuperação da estabilidade mental para vencer o alcoolismo.

Medicamentos

Os medicamentos podem ser complementares às demais terapias e ajudam na desintoxicação do organismo. Por isso, o diagnóstico correto é determinante para a avaliação da necessidade ou não de remédios.

 

Internação para Pessoas Alcoólatras

Nos casos de maior gravidade, pode ser preciso optar pela internação para desintoxicar a pessoa. Essa medida deve ser adotada quando o paciente apresenta uma ameaça a si mesmo ou para as pessoas de seu convívio.

Internação voluntária - com consentimento paciente

Se o paciente está ciente de sua situação e dos problemas com os quais convive, além de sofrer pelos sintomas da depressão, capazes de impactar vida, autoestima, trabalho e, principalmente, relacionamentos, a internação voluntária a ajuda a estar em contato com uma equipe multidisciplinar apta a zelar por seu tratamento e a reabilitá-lo de modo que possa voltar a conviver bem com si mesmo e com aqueles que ama.

Internação compulsória - contra a vontade do paciente

§ Internação involuntária: de acordo com a lei (10.216/01), o familiar pode solicitar a internação involuntária, desde que o pedido seja feito por escrito e aceito pelo médico psiquiatra. A lei determina que, nesses casos, os responsáveis técnicos do estabelecimento de saúde têm prazo de 72 horas para informar ao Ministério Público da comarca sobre a internação e seus motivos. O objetivo é evitar a possibilidade de esse tipo de internação ser utilizado para a prática de cárcere privado.

§ Internação compulsória: neste caso não é necessária a autorização familiar. O artigo 9º da lei 10.216/01 estabelece a possibilidade da internação compulsória, sendo esta sempre determinada pelo juiz competente, depois de pedido formal, feito por um médico, atestando que a pessoa não tem domínio sobre a sua condição psicológica e física.

Sobre o Hospital Santa Mônica

O Hospital Santa Mônica zela pela saúde mental de crianças (a partir dos 8 anos), jovens e adultos, além de tratar dependência química. Em 2019, completa 50 anos que atua como referência de hospital psiquiátrico, auxiliando também pacientes com depressão, em todos os seus estágios. Possui dúvidas sobre esse conteúdo? Para saber mais, entre em contato conosco preenchendo nosso formulário de atendimento.