Quem não sofre de vez em quando com uma chata dorzinha de cabeça? Para mais de 80% das mulheres e 60% dos homens, esse martírio ocorre ao menos uma vez por mês. Mas será que damos a devida atenção ao problema? Segundo o médico neurocirurgião formado pela Unifesp Paulo Porto de Melo, é fácil reconhecer uma série de erros na condução e abordagem das dores de cabeça em pessoas que as têm frequentemente. — Ajustes no dia a dia podem, se não trazer a cura, aliviar bastante a frequência e a intensidade do desconforto — explica o médico, que também é colaborador do Departamento de Neurocirurgia da Universidade de Saint Louis (Missouri- EUA) e introdutor e pioneiro da neurocirurgia robótica no Brasil.
O erro número um é ingerir remédios sem prescrição e orientação de um médico. A automedicação, fazendo uso indiscriminado de uma série de analgésicos comuns, leva a franca descompensação da frequência das crises. Algumas vezes, as dores que parecem mais resistentes aos medicamentos até conseguem ser combatidas com o exagero de remédios, mas isso traz alívio mínimo e estimula o retorno do problema. Por isso, o cirurgião alerta para que os pacientes sigam sempre as doses propostas pelo médico.
Por outro lado, demorar muito para tomar o remédio receitado também é muito comum. As pessoas esperam a dor ficar muito forte para só então tomar a medicação prescrita para alívio do sintoma. Melo afirma que isso, na maioria das vezes, só dificulta a ação da medicação, já que, no começo, as crises respondem muito melhor aos remédios.
Entenda a sua dor
Pessoas com dores de cabeça frequentes também precisam mapear a dor. Para isso, paciente e médico precisam conhecer intensamente a dinâmica do desconforto, ou seja, em que parte do dia ocorre, em que época do mês, a duração do sintoma, a resposta às medidas propostas, a relação com o sono e com o estresse, por exemplo. Sem essas informações, acaba sendo comum o atraso de diagnóstico, porque as pessoas atribuem-no a causas equivocadas, como miopia, hipertensão e sinusite crônica.
Algumas vezes, os pacientes também deixam passar alguns sinais clínicos que sugerem que o problema é de causa mais grave e urgente. É bom ficar atento, assim, a sinais como dores que aparecem subitamente, já com intensidade alta, relacionadas a exercícios físicos ou atividade sexual, febre associada a desconforto e sintomas neurológicos, como fraqueza, formigamentos, turvação visual e visão dupla.
No entanto, segundo o médico, o pior erro de todos é se acostumar com a dor. — As pessoas acabam jogando a toalha e desistindo de tratar adequadamente a doença. Vivem sem qualidade de vida, perdem rendimento no trabalho, escola e tem prejuízos na vida social. Para melhorar os sintomas, o especialista sugere a alteração de alguns hábitos, como iniciar atividade física aeróbica regular, dieta balanceada e fracionada, rotina de sono adequada e redução de estresse do dia a dia.