Um programa de “adoção” implementado em uma entidade que abriga idosos em Marília, interior de São Paulo, está ajudando a melhorar a qualidade de vida e reduzir os casos de depressão entre os idosos. Elaborado pelo geriatra Valdeci Rigolin, professor de residência médica em geriatria da Faculdade de Medicina de Marília, o projeto busca levar voluntários a visitar idosos que vivem num lar naquele local.
O geriatra explica que trata-se de uma “adoção” afetiva, com objetivo de que o visitante estabeleça vínculos de amizade e afeto com o idoso. As visitas são semanais e o voluntário adotante mantém o contato sempre com o mesmo idoso. A entidade abriga atualmente 59 idosos e a maioria não recebe visitas frequentes.
O Programa de Adoção de Idosos moradores foi implementado na entidade há dois meses e 10 idosos já foram adotados. “É importante deixar claro que não é uma adoção financeira e a pessoa adotante não vai substituir o parente. Trata-se da criação de um vínculo afetivo e esse é um processo mais demorado e que é muito importante para os idosos que vivem em instituições”, disse o geriatra.
Rigolin afirma que com o aumento da população idosa, as instituições que prestam assistência devem constantemente buscar novos modelos institucionais para melhorar as condições de saúde física e mental do idoso. O geriatra explica que os idosos que vivem em sistema de internação têm um perfil diferenciado, com altos índices de sedentarismo, distúrbios de afeto, depressão, perda de autonomia e ausência de familiares. O médico cita a relação entre a saúde física e mental dos idosos com os vínculos de amizade, emoções positivas e o bom uso do tempo.
Para Renata Sandrim Estevo, técnica de enfermagem que trabalha no Lar, já é possível observar a mudança no comportamento dos idosos “adotados” por voluntários. “No início eles ficavam um pouco receosos, eles se sentem muito sozinhos. Depois foram se acostumando e já estão seguros. Ficam ansiosos esperando a visita toda semana. Um deles tem uma personalidade mais fechada, é sério; depois da visita ele fica mais alegre e até canta”, disse.
O geriatra Valdeci Rigolin afirma que o maior benefício aos idosos é psicológico. Eles mantém um vínculo de amizade com o voluntário adotante e com isso podem conversar sobre assuntos diversos, se distrair e relembrar histórias da vida. Rigolin mantém total acompanhamento do programa. Todos os voluntários interessados são cadastrados e se comprometem a manter as visitas periódicas ininterruptas por seis meses. Após esse período o geriatra fará uma avaliação dos resultados do programa mas as adoções podem ser feitas por período indeterminado.
Para a voluntária Maria Candelária Beato, que “adotou” um dos idosos do lar, a proposta é muito bonita e importante tanto para os idosos como para os voluntários. “É um aprendizado pra todos. Eles precisam de contato, conversar, são muito fechados e temos que respeitar o tempo deles, criar o vínculo. O Sr. João que eu visito era arredio no começo mas hoje já está mais próximo, conversando”, disse.
A dona de casa Maria Benedicta de Lima Betarele tem 77 anos e também dedica um momento do dia uma vez por semana para visitar um idoso no Lar São Vicente de Paulo. Ela diz que já cuidou da mãe e de outros parentes idosos e sabe da importância da atenção nessa fase da vida. “Quando soube do projeto do Dr.Rigolin eu vim participar, é muito bom mesmo”.
Os idosos que recebem as visitas não são de falar muito, mas expressam carinho quando se referem às visitas dos voluntários. “Gosto muito da visita. É muito bom”, disse ‘seu’ José Paulino, de 81 anos.