Uma das dificuldades em largar o fumo é a insegurança de não ter mais disponível a “bengala de apoio” que o cigarro representa, principalmente nos momentos de ansiedade, nervosismo e depressão.
Entretanto, investigações recente apontam que essa explicação pode ser uma falácia e o fumo torna a pessoa mais infeliz. — Investigações recentes apontam que essa explicação possa ser uma falácia e que, em geral, o fumo torna a pessoa mais infeliz que os demais — diz o pneumologista José Miguel Chatkin, coordenador do estudo. — Passada a turbulência inicial dos primeiros dias ou semanas logo após a cessação do tabagismo, o que se detectou é que o ex-fumante se torna mais feliz do que o que permanece fumando.
O uso não frequente até melhora o humor, mas a longo prazo leva à depressão — afirma Chatkin. Em um escore que mede o grau de depressão, o grupo de fumantes, em média, atinge 50% mais pontos do que quem nunca fumou ou largou o cigarro. Não houve diferenças significativas entre homens e mulheres. Mesmo mais suscetíveis à depressão, elas se recuperam da mesma forma que eles.
Os resultados da pesquisa são importantes para orientar os especialistas na conduta com os pacientes que querem deixar de fumar. — Alertamos sobre os benefícios emocionais da abstinência em longo prazo, ao invés de valorizarmos a ideia de que o cigarro funciona como antidepressivo, pois, em verdade, trata-se de um forte agente depressor do humor — explica o médico.
As dificuldades iniciais ao deixar o cigarro se relacionam à síndrome de abstinência, semelhante à que ocorre com qualquer usuário de álcool, crack, cocaína e outras drogas. — Nessa fase do processo de cessação, os sintomas podem ser perda de interesse por suas atividades, cansaço, falta de apetite e sentimento de inutilidade, sudorese, palpitações e insônia, que são variáveis em intensidade de paciente a paciente — diz o especialista.
Entre os pacientes estudados na pesquisa, os casos de depressão de maior intensidade foram mais frequentes entre os que fumavam mais cigarros por dia, por mais anos e os que tinham maior dependência à nicotina.
Chatkin admite que existe dúvida se a melhora no humor com a passagem do tempo e êxito na cessação do tabagismo se deva ao fato de a pessoa se sentir vitoriosa por ter vencido a batalha contra o fumo. — Também pode ser que o cérebro esteja funcionando melhor, com eventual liberação de substâncias que tenham essa ação.
O estudo, que fez parte da tese de doutorado da bióloga Vanessa dos Santos, foi publicado no British Journal of Psychiatry e apresentado, por convite, na International Conference on Drug Abuse, nos EUA.
O grupo fará agora pesquisa longitudinal, com acompanhamento de pacientes antes e depois de deixarem o cigarro. A anterior comparava ex-fumantes com fumantes atuais, quando outros fatores podem comprometer os resultados. As informações são da revista PUCRS Informação.