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Psiquiatria

Médica americana explica seu apoio à nova bíblia da psiquiatria

A nova versão do DSM (Manual de Estáticas de Diagnósticos) da Associação de Psiquiatria Americana, lançada no último sábado (18/5), conseguiu uma proeza: ser atacado tanto pela corrente de uma psiquiatria mais baseada na biologia quanto pelos defendem uma abordagem mais “humanizada” e psicológica das doenças mentais. Normalmente, as duas correntes discordam quanto às formas de diagnosticar e tratar distúrbios psiquiátricos.

Novo manual de psiquiatria é lançado nos EUA em meio a críticas. Os defensores da “ciência dura” criticam a classificação de doenças da quinta versão do manual por essa ser baseada nos sintomas (como era o DSM-IV), e não em marcadores biológicos, como substâncias que podem ser detectadas no sangue ou alterações anatômicas comprovadas por exames de imagem.

A crítica do outro lado, que envolve psicólogos e algumas linhas da psiquiatria, além de sociólogos, educadores e parte da opinião pública, é que o manual representa uma patologização excessiva dos comportamentos humanos. Um exemplo disso seria a classificação de depressão para pessoas em luto recente.

Entre os novos distúrbios criados pelo manual, um dos mais controversos é a chamada “desregulagem perturbadora do humor”. Os critérios, usados para diagnosticar pessoas entre seis e 18 anos, são “acessos de raiva com intensidade ou duração muito desproporcional à situação”.

Outra nova doença é a compulsão alimentar, que já era reconhecida como sintoma de transtornos alimentares, mas agora é um distúrbio por si só, segundo o manual.

Significa ter pelo menos 12 episódios de comilança em um período de três meses. Para os críticos, esses critérios têm o potencial de transformar crises de birra infantil, gulodice ou tristeza humana justificada e necessária em casos médicos que podem ser resolvidos com medicamentos.

Em um artigo publicado na revista eletrônica “Slate”, a psiquiatra e psicóloga americana Marla Deibler relativiza essa crítica e parte em apoio ao DSM-V. Seu argumento é que, ao criar novas categorias de distúrbios, o manual evita que as pessoas sejam diagnosticadas com alguma doença mais grave.

Por exemplo, a criança tão birrenta que faz com que os pais procurem ajuda psiquiátrica tem mais chances de ter “apenas” uma desregulagem perturbadora do humor e não ser precocemente diagnosticada como bipolar.

Outra vantagem do novo manual, ainda segundo Deibler, é ajudar os médicos a tratarem pessoas que os procuram porque alguns sintomas têm impactos negativos na sua vida. A categoria “compulsão alimentar”, então, seria útil para diagnosticar aqueles que estão sendo prejudicados pelo hábito, e não para enxergar uma patologia em qualquer frequentador de rodízios de carne.

Para Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, os novos critérios não vão influenciar a prática em consultórios de psiquiatria no Brasil. “O DSM-V não muda nada. Oficialmente, nem são os critérios seguidos aqui “, diz o psiquiatra.

O país usa a CID (Classificação Internacional de Doenças) da Organização Mundial da Saúde. A versão atual, CID 10, é muita parecida com o DSM anterior. “A CID 11 está sendo preparada, deve sair em 2015.

Mas não acredito que todos os critérios do novo manual da Associação Americana de Psiquiatria serão transpostos para essa versão”, diz Silva. Esse distanciamento que o psiquiatra prevê entre os manuais classificadores é algo que já está acontecendo nas instituições americanas relacionadas à psiquiatria.

Um pouco antes do lançamento do manual, o diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA declarou que não pretende usar os critérios do DSM-V na pesquisa básica em saúde mental.

O presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria afirma que, por trás de toda essa polêmica, estão os interesses de diferentes grupos. “Para a indústria dos exames, interessa defender a versão mais biológica, porque podem vender mais ressonâncias magnéticas, tomografias etc. Para a indústria farmacêutica, interessa vender remédios e para psicólogos, tratamentos não medicamentosos. E para a Associação Americana de Psiquiatria, interessa toda essa polêmica: vão vender mais exemplares do manual “, diz.

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