Entre a brisa e a tempestade – Elas já bebem tanto quanto eles, substituíram o cigarro pela maconha, vivenciam as sintéticas e ainda tem as anfetaminas.
Estatísticas sobre o aumento do consumo de álcool pelas mulheres não faltam. Uma feita pela Unifesp em 2013 mostra que o número das brasileiras que bebem com frequência saltou de 29% para 39% entre 2006 e 2012. O principal acréscimo se deu na faixa dos 15 aos 25 anos. Não bebem apenas. Bebem em “binge”, ou seja, quatro doses em duas horas, o suficiente para muito corpo feminino entortar. Homens costumam resistir a mais uma dose.
O psiquiatra Flávio Gikovate levanta outros números: “Se até 20 anos atrás apenas 3% das meninas até 15 anos tinham tomado um pileque, hoje elas chegam a 30%, mesma porcentagem dos garotos”. “Pileque” denuncia a experiência. Há mais de 50 anos Gikovate tem consultório físico, pelo qual já passaram uns 10 mil pacientes. E há quase 9 anos responde às angústias de ouvintes da Rádio CBN. Atende, portanto, a todas as classes, e vê esse consumo aumentar em todas. A quem diz que garotos e garotas fazem isso para se socializar, responde com moderação: “Quem bebe muito não quer socializar, quer monologar, fala até com poste. A droga, ao mesmo tempo que aumenta a sensibilidade, também faz o outro perder importância, porque o outro vira menos outro.”
Por aí segue o raciocínio de quem analisa os efeitos da maconha, cujo consumo cresceu a olhos e, especialmente, a narizes vistos. Pelas ruas, o cheiro da erva tem sido tão comum quanto o de tabaco. Há quem aposte que seguimos os sinais de fumaça dos EUA, onde os estudantes do ensino médio já fumam mais maconha do que cigarro. O 2.º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, da Unifesp, estima que 1,5 milhão de pessoas fumam maconha diariamente no Brasil, entre elas 300 mil adolescentes. Mais de 20% dos jovens obtiveram a Canabis na escola, e o índice de dependência entre os mais novos é de 10%.
“O pessoal, especialmente as meninas, está consumindo adoidado e achando que não faz mal”, diz o hebiatra Maurício de Souza Lima. Ele falava da maconha prensada, do haxixe e do shatter, este último com até 80% de THC (tetra-hidrocarbinol), responsável pelos efeitos alucinógenos. “Não é que faz mal pra todo mundo, mas, quanto mais cedo se usa, maior o risco de dependência, porque na adolescência é que se formam novas conexões cerebrais”, explica. Se toda droga psicoativa gera tolerância, continua, quem consome precisa de mais para ter o mesmo efeito.
Funciona assim com quem também está acostumado a consumir cocaína ou sintéticos como o MD, que virou trending topic nas baladas da classe alta.