O Consumo do Álcool e a saúde mental
O álcool tem feito parte da nossa sociedade e da nossa cultura por muitos séculos.
No Brasil e em várias partes do mundo, pessoas de todas as idades bebem várias doses de álcool, com efeitos tanto positivos como negativos a curto e longo prazo.
Quais efeitos que o álcool exerce sobre nós?
A razão do porquê bebemos e as consequências do consumo excessivo de álcool estão ligados à nossa saúde mental. Problemas de saúde mental não são resultantes apenas do fato de beber muitas doses de bebidas alcoólicas, mas exagerar na bebida pode causar muito mal para nossa saúde.
Há evidências a que associam o consumo leve a moderado de álcool a um risco reduzido de apresentar problemas cardiovasculares (consumo médio de 1 a 2 doses de bebida por dia; vide o conceito de “dose” logo abaixo).
Existem evidências, com muitas controvérsias, de que o consumo leve de álcool pode estar associado a um melhor desempenho em testes cognitivos, mas certamente é bem mais estabelecido que o consumo de bebida conforme progride traz evidentes prejuízos às capacidades mentais.
Portanto, há muito mais evidências de que beber álcool em excesso leva a pessoa a desenvolver sérias doenças físicas e mentais. Simplificando, um dos principais motivos para o consumo de álcool é a intenção de mudar o nosso estado de humor – ou o nosso estado mental, para melhor. E de fato, o álcool pode, temporariamente, aliviar sentimentos de ansiedade e depressão e, muitas vezes, as pessoas usam bebida como uma forma de “automedicação”, na tentativa de se manter animado ou, por vezes, até para ajudar a dormir.
Mas comumente este hábito pode tornar os problemas de saúde mental já existentes muito piores, e o que inicialmente foi uma maneira de lidar com por exemplo a insônia eventual, pode torná-la mais grave ainda. Por outro lado, vir a ter problemas com uso de álcool pode ser algo mais provável entre as pessoas com problemas de saúde mental mais graves. Isto não significa, necessariamente, que o álcool causa a doença mental grave.
As evidências mostram que as pessoas que consomem grandes quantidades de álcool são vulneráveis ao aumento do risco de desenvolver problemas de saúde mental tanto quanto o consumo de álcool por alguém previamente saudável pode além de vir a seu um transtorno por si mesmo, se tornar também um fator que contribui para surgimento de outros diagnósticos em saúde mental, tais como a depressão e psicoses.
O consumo nocivo do álcool mantém relação causal com mais de 200 tipos de doenças e lesões físicas, isto é, no corpo. Câncer, cirrose, hepatite, pancreatite, anemias, gastrites e outras desordens são frequentemente associados ao uso do álcool. Além disto, o consumo de bebida também pode levar o sujeito a não se cuidar de outras doenças que ele tenha, como diabetes e pressão alta, contribuindo então, direta ou mesmo indiretamente para agrava-las.
Vale lembrar também que uma proporção importante da carga de doença atribuível ao álcool é decorrente de lesões não intencionais e intencionais, incluindo-se aquelas devidas a acidentes de trânsito, violências e suicídios.
Recentemente, o álcool também tem sido implicado na causalidade de doenças transmissíveis, como tuberculose, HIV/aids e pneumonias.
Reação Bifásica
É um termo que determina as duas fases da resposta ao consumo de bebidas alcoólicas. Conforme gráfico abaixo, na primeira fase, ocorrem os efeitos normalmente desejados por quem bebe, vivenciados como prazerosos.
A partir de um determinado ponto, quando o nível de álcool satura nossa capacidade de metaboliza-lo, ele passa a causar sensações negativas, desagradáveis, tanto maiores quanto mais rápido e mais elevada for a alcoolemia – concentração passageira de álcool etílico no sangue, resultante da ingestão de bebidas alcoólicas.
Quando há desenvolvimento de tolerância (ao se beber mais frequentemente e em maior quantidade), a segunda fase se inicia cada vez mais cedo durante cada episódio de consumo. O aumento do uso de etílicos reduz os efeitos de euforia e aumenta os efeitos ruins. Então há um mito no senso comum das pessoas que acham que quanto mais bebida, maior seria o prazer, porque na verdade, com o tempo, este já fugaz efeito eufórico se torna cada vez mais breve e só surge com doses cada vez maiores, o que leva por outro lado a que os efeitos negativos sejam cada vez maiores e mais prolongados.
Em suma, por mais a mente do bebedor deseje, o negócio de beber se torna cada vez menos vantajoso. Apesar do álcool funcionar como estimulante nas doses iniciais, ele será sempre um depressor do sistema nervoso central. Inicialmente há uma redução da capacidade de julgamento e análise crítica, e quem bebe se sente mais livre para falar e fazer o que desejar. Com o aumento da dose vêm os efeitos desagradáveis ou mesmo risco de intoxicação severa e morte.
Beber afeta nosso humor e saúde mental?
Beber diminui a inibição. Normalmente, o consumo excessivo de álcool significa que a pessoa ficará menos constrangida em uma determinada situação. Além disso, o álcool pode dificultar a capacidade do nosso corpo para descansar, resultando na necessidade de trabalhar mais para quebrar o efeito do álcool no corpo. Esta interferência do álcool com os padrões de sono pode levar a uma redução do nível de energia.
O álcool também deprime o sistema nervoso central, e isso pode fazer com que o humor se altere. Ele também pode ajudar a amortecer nossas emoções, fazendo com que talvez passamos a evitar o enfrentamento dos problemas difíceis na nossa vida. O álcool também pode revelar ou intensificar nossos sentimentos subjacentes, como evocando memórias do passado de trauma ou provocando quaisquer sentimentos reprimidos que estão associados com eventos dolorosos do passado ou presente.
Essas memórias podem ser tão poderosas que criam uma ansiedade esmagadora, depressão ou vergonha. Reviver essas memórias e sentimentos sombrios, enquanto está sob a influência de álcool, pode representar uma ameaça para a segurança pessoal, bem como a segurança dos outros.
E sobre os efeitos depois?
Um dos principais problemas associados com o uso de álcool para lidar com problemas de saúde mental é que o consumo regular de álcool altera a química do cérebro. Ela diminui os níveis de serotonina – uma substância química que interfere, dentre outros processos, com as famosas depressão e ansiedade.
Como resultado deste esgotamento, começa um processo cíclico, diante da depressão e ansiedade a pessoa bebe para aliviar, o que faz com que os níveis de serotonina no cérebro seja reduzido, levando a uma sensação ainda maior de depressão e ansiedade e, assim, necessitando de mais álcool. O correto seria buscar um tratamento mais eficaz e menos arriscado para esta depressão ou ansiedade.
Quanto é muito?
Os limites atuais recomendados para beber de forma sensata são três a quatro doses para homens e 2-3 doses para as mulheres, por dia. Há especialistas, como Dr. Claudio Duarte, que consideram isto já um padrão arriscado.
CONCEITO DE DOSE DE BEBIDA ALCOÓLICA
É a quantidade de bebida, independente do tipo, que contenha cerca de 12 gramas de etanol. E isto depende da concentração de etanol que cada bebida tipicamente apresente. Por exemplo: Influência da bebida nos comportamentos, conforme o nível de álcool no nosso sangue: Como faço para obter ajuda?
O Hospital Santa Mônica oferece uma Unidade voltada para Dependência Química e conta com profissionais especializados em ajudar as pessoas que têm ou pensam que podem ter problemas com o consumo desenfreado do álcool.
Fonte: Dr. Cláudio Duarte, médico psiquiatra, psicoterapeuta e Coordenador do Serviço de Dependência Química do Hospital Santa Mônica. Mental Health Foundation. Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras drogas