A tristeza é considerada um sentimento humano que expressa desânimo ou frustração. Muitas vezes acarretada pela perda de algo ou alguém, a tristeza também é considerada como um dos principais sintomas da depressão. No entanto, é possível ter depressão e não estar triste. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge atualmente mais de 350 milhões de pessoas em todo mundo e gera um grande impacto emocional, físico e funcional ao paciente.
O número crescente de doentes e os quadros clínicos heterogêneos mostram que a enfermidade pode se apresentar de várias formas distintas, com sintomas diferentes e que demandam tratamentos cada vez mais específicos. A depressão onde a tristeza se mostra pouco presente ou mesmo ausente em determinados períodos é conhecida como atípica. Esse tipo de depressão tem aumentado de forma significativa com a vida moderna.
O ritmo de trabalho, o estresse e a diminuição da qualidade de vida são fatores que contribuem para o aparecimento do problema. — A pessoa não apresenta um quadro de lamentação, mas os sintomas são direcionados para a parte física. Na depressão sem tristeza é o corpo que chora — explica o psiquiatra e professor do departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Santo Amaro (UNISA), Kalil Duailibi. Na ausência do principal sintoma atribuído a doença, o diagnóstico pode demorar e comprometer a recuperação. — O paciente sente muita dor física, agitação, inicia diversas atividades, mas não consegue concluí-las porque não sente prazer em executá-las, apresenta mudanças constantes de humor, irritabilidade e dificuldades para dormir e, por esses motivos, procura várias especialidades médicas antes de ser encaminhado para o tratamento correto — ressalta Duailibi.
Outra peculiaridade da depressão sem tristeza é que ela atinge, em sua maioria, o sexo masculino. — A incidência de homens adultos que apresentam a enfermidade é de aproximadamente o dobro das mulheres. Eles procuram o atendimento clínico com dores, insônia e abuso de álcool. As mulheres têm mais facilidade para identificar a insatisfação, por isso recorrem à ajuda médica precocemente. Já o homem, – por uma questão cultural, não identifica as manifestações que aparecem por meio do corpo e, geralmente, chega ao consultório com quadro clínico mais avançado — explica o psiquiatra.
O especialista alerta sobre a importância da descoberta da doença ainda na fase inicial: — Para que o quadro seja revertido, é preciso que o paciente seja diagnosticado corretamente e associe a psicoterapia de qualidade ao antidepressivo adequado. Além disso, também é muito importante incluir no tratamento atividades físicas, principalmente as aeróbicas, pelo menos quatro vezes por semana, que mostram bons resultados de recuperação nestes casos