O cenário atual exige bastante habilidade para enfrentar certas questões relacionadas à pandemia e saúde mental. Além da insegurança que envolve essa fase, saber lidar com pessoa com demência durante o período de quarentena é essencial para minimizar os efeitos do isolamento social.
Diante das mudanças repentinas causadas pela necessidade de adequação às medidas de prevenção ao coronavírus, selecionamos ações que ajudam a minimizar os principais impactos gerados por essa situação. Dr. Marcel Vella Nunes, psiquiatra do Hospital Santa Mônica, apresenta dicas para reduzir os riscos de tais mudanças na rotina dos familiares e dos pacientes com demência, mas antes disso, saiba um pouco mais sobre a demência. Boa leitura!
Por que a demência pode surgir em qualquer idade?
Entende-se por demência o quadro clínico em que ocorre perda significativa da função cerebral. Essa condição está associada a sintomas que comprometem a qualidade de vida de seu portador.
As características mais comuns da demência são de ordem cognitiva, mas também afetam a linguagem e o comportamento, já que há redução da memória e da capacidade de aprendizado.
Ainda que a demência na terceira idade seja mais comum, esse quadro pode surgir em qualquer fase da vida e por diferentes razões. Grande parte das condições de demência apresenta relação direta com outras doenças, que se tornam causas ou agravantes para essa condição clínica.
As demências são divididas em duas classes.
Demências reversíveis
- Avitaminoses: associada à insuficiência de vitamina B12.
- Tumores cerebrais: pode acometer crianças, jovens e adultos.
- Demências metabólicas: relacionadas aos teores de cálcio, sódio e açúcar no sangue.
Demências degenerativas (e irreversíveis)
- Alzheimer: associada à degeneração típica do envelhecimento.
- Demência por doenças infecciosas.
- Demência vascular: resultante de pequenos acidentes vasculares cerebrais (AVC).
- Demência frontotemporal: degeneração cerebral que surge na área do lóbulo frontal e pode afetar o lóbulo temporal.
Quais são os impactos do isolamento social para pessoas com demência?
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que o número global de pessoas que desenvolvem demência é próximo de 10 milhões. Nesse período de isolamento social, seguir os protocolos impostos pelas entidades de saúde pode ser mais difícil para quem cuida de pessoas com demência. Os pacientes com esse problema podem apresentar mais ansiedade, estresse e ficar mais agitados, principalmente diante das atualizações de notícias.
Mesmo que eles não entendam o teor das informações divulgadas pela mídia, o ideal é mantê-los longe dos noticiários sensacionalistas, que aproveitam a ocasião para causar pânico desnecessário. Durante a quarentena, essas dificuldades são ainda maiores por causa da necessidade de evitar o contato pessoal e manter os cuidados com os hábitos de higiene, como a lavagem de mãos.
Independentemente da faixa etária do paciente, as condições de saúde que acompanham os quadros demenciais sugerem mais cuidado com esses indivíduos. Como a memória recente é a mais prejudicada, é preciso lembrar constantemente da higienização pessoal e da importância de ficar em casa para reduzir o risco de contaminação pelo coronavírus.
Por isso, familiares, cuidadores de idosos ou outros profissionais responsáveis por pacientes com demência necessitam de um preparo especial para aliviar a tensão típica da quarentena e superar os desafios intrínsecos a esse período. Esse trabalho exige habilidades especiais e um suporte emocional adequado, já que a demência impacta diretamente no comportamento dos pacientes com esse perfil.
Como lidar com uma pessoa com demência durante a quarentena?
Para os portadores de demência, a importância da luta contra a disseminação do coronavírus assume uma conotação ainda maior: eles não compreendem o que se passa, mas necessitam de atenção e cuidados em tempo integral. Esses pacientes exigem suporte especial, pois na eventualidade de uma contaminação, será mais difícil extrair alguma informação deles na hora de avaliar os sintomas da doença.
Vale lembrar que o paciente com suspeita de Covid-19 só deve ser levado a uma unidade de saúde se apresentar febre alta ou se você perceber dificuldades para respirar. Por segurança, é recomendável que ele seja levado a um hospital de referência em saúde mental.
Além disso, destacamos mais algumas dicas que podem ser úteis para lidar com pessoas com demência na quarentena. Observe quais são elas:
- coloque placas com desenhos de lavagem de mãos no banheiro e em outros lugares visíveis para lembrá-las dessa medida tão importante no combate ao coronavírus;
- demonstre frequentemente como é feita uma lavagem cuidadosa das mãos, explicando o passo a passo desse procedimento;
- reforce a importância do sabão ou da higienização com o álcool gel;
- crie uma rotina específica, com horários determinados para a higienização pessoal (banho e lavagem das mãos);
- mostre videos no celular para lembrar da importância de lavar as mãos;
- mantenha a pessoa ativa, com exercícios que podem ser feitos em casa;
- procure manter a conexão com outros familiares que fazem parte da rotina do paciente;
- promova atividades de entretenimento e criatividade para tornar a estada em casa mais agradável e tranquila;
- tenha o cuidado de utilizar luvas e máscaras durante o contato com o paciente ou entes queridos.
O que fazer se uma internação for necessária durante o período?
Cuidar de pessoas com dificuldades mentais como a doença de Alzheimer ou outro tipo de comprometimento psíquico costuma ser um processo desafiador. Durante a quarentena, essa responsabilidade se torna ainda maior, já que é preciso se proteger do contágio pelo coronavírus e garantir que os portadores de demências também sejam protegidos e tenham suas necessidades atendidas.
Muitos pacientes com esse quadro podem apresentar confusão mental e não conseguir expressar o que realmente sentem. O ideal é se atentar aos primeiros sinais da doença. Caso haja suspeita de contaminação pelo coronavírus, busque orientação médica imediatamente. Por precaução, esse contato inicial deve ser feito pela internet ou por telefone. Nos casos mais graves, a internação pode ser necessária.
É mais difícil manter a pessoa com demência em casa na quarentena. Mesmo no período de isolamento social, a internação pode ser uma excelente alternativa para garantir a proteção e o tratamento especializado em reabilitação da saúde mental. Vale destacar que o Hospital Santa Mônica segue as orientações da OMS para o cumprimento das normas de prevenção contra o Covid-19 e a promoção da saúde integral dos pacientes.