Além de lidar com o sofrimento causado por doenças psiquiátricas, portadores desse tipo de transtorno têm outro problema a ser enfrentado: o preconceito. Chamada de psicofobia por especialistas, a discriminação contra esses pacientes atrasa a procura por ajuda médica e dificulta a progressão do tratamento. A síndrome do pânico e a depressão estão entre as doenças cujos portadores frequentemente são vítimas de atos de rejeição. -As pessoas têm medo de dizer que têm um problema desse tipo. Isso porque muitos consideram essas situações como preguiça ou desinteresse- explica o presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Antônio Geraldo da Silva.
Por falta de informação, é comum que o preconceito surja dentro de casa, justamente por quem deveria apoiar o familiar que passa por esse momento. -Cerca de 21% da população mundial têm algum tipo de transtorno mental, mas muitas famílias acham que é besteira, e, por isso, o tratamento é negligenciado- comenta o psiquiatra. A psicóloga Tânia Elena Bonfim, professora do curso de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, acrescenta que a psicofobia também é vivenciada por dependentes químicos. -É ainda pior, levando em consideração toda a contravenção que rodeia este tema- diz ela. A professora salienta que é comum o próprio paciente ter rejeição ao tratamento psiquátrico e, com isso, atrasar a procura. -O paciente fica muito assustado quando precisa ser consultado por um psiquiatra, pois ainda pode ser visto como um médico para louco. Pior ainda é quando há necessidade do uso de medicamento controlado. Mesmo assim, isso tem diminuído ao longo do tempo- reconhece Tânia.
A demora no início das terapias medicamentosas e comportamentais pode minimizar as chances de melhora significativa. -Quando a depressão não é tratada adequadamente, há a cronificação do quadro- alerta o presidente da ABP. Quando as doenças psiquiátrica são negligenciadas, há aumento no risco de problemas ainda mais graves, como o suicídio. -Aproximadamente 97% das pessoas que se suicidam, o fazem em decorrência de transtorno mental, sendo a depressão a maioria delas- adverte Silva. Os números referentes ao ato de tirar a própria vida são impressionantes, conforme o especialista: no Brasil, são registrados cerca de 11 mil suicídios por ano. No mundo, é quase um milhão de suicídios anuais, segundo a Organização Mundial de Saúde. Isso é mais do que é contabilizado em uma guerra- compara.
LEGISLAÇÃO
Em 2012, o senador Paulo Davim (PV-RN) apresentou proposta de emenda ao Código Penal que trata a psicofobia como crime. Para tanto, ela seria incluída no mesmo capítulo que trata das discriminações raciais, sexuais e de gênero, com pena prevista de dois a quatro anos de reclusão. O texto ainda não foi votado. -A despeito de suas consequências nefastas, a psicofobia faz-se presente com extrema frequência no Brasil. As atitudes psicofóbicas estão de tal forma entranhadas na sociedade que, muitas vezes, sequer nos damos conta de sua ocorrência- afirmou o senador, em sua justificativa do projeto. -Fui estigmatizada- diz cantora Marina Lima Estrela da MPB e conhecida pela voz forte, a cantora e compositora Marina Lima já sofreu com a depressão, assim como outras milhões de pessoas no Brasil. Apesar da fama e do sucesso, a artista também teve de enfrentar o preconceito. -Há 20 anos, uma mulher com depressão era o auge da frescura. Eu sofri preconceito e fui estigmatizada- disse Marina em depoimento dado na 32ª edição do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado no mês passado em Brasília pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). Por estar cercada de holofotes, a cantora teve ainda mais dificuldades para buscar soluções. -Tive isso no auge da minha carreira, e a exposição se tornou uma pressão. Não pude viver isso de forma discreta. O problema do sucesso é que você fica sempre exposto e a população sempre busca em um ídolo a perfeição. Talvez os artistas tenham dificuldade em quebrar essa barreira.