Consumidores endividados devem ficar atentos à saúde. O motivo é que o descontrole da vida financeira pode levar ao sofrimento psíquico, de acordo com especialistas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Dores de cabeça, de estômago, ansiedade, medo. Esses são apenas alguns sintomas, que podem ser vivenciados por parte dos 54 milhões de pessoas que começaram o ano inadimplentes, cerca de 40% da população adulta do país.
Poderíamos imaginar que uma injeção de capital é o remédio para curar as pessoas que se encontram nessa situação. Mas, na maioria dos casos, o alívio seria passageiro. Mesmo com as contas saneadas, o verdadeiro motivo que leva a pessoa a comprometer seu orçamento além da capacidade de pagamento, continuaria ali, inabalável. E, na primeira oportunidade, o ciclo de desorganização financeira recomeçaria.
Para ajudar o consumidor a identificar até que ponto as dívidas atrasadas estão contribuindo para perda de qualidade de vida e comprometendo seu estado emocional, a Serasa Experian – em parceria com o Ambulatório de Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo – apresenta um teste, que visa identificar e provocar a reflexão sobre os danos emocionais gerados pelo endividamento.
Este teste é um rastreio confiável para estresse emocional desenvolvido para estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi adaptado para o Brasil pelo médico psiquiatra e professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, Jair de Jesus Mari, e pelo professor sênior do Instituto de Psiquiatria de Londres, Paul Williams. “O teste não faz um diagnóstico, mas dá pistas para uma reflexão mais profunda e pode indicar a necessidade de o consumidor buscar tratamento psicológico para lidar com a questão”, alerta a psicóloga Tatiana Zambrano Filomensky, coordenadora do grupo de tratamento a compradores compulsivos do Ambulatório de Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Segundo Filomensky, independentemente dos motivos que levam à desorganização financeira, é comum que problemas dessa ordem gerem distúrbios emocionais, impactando as relações familiares, sociais e profissionais. “Dificuldade em se concentrar nas atividades, perda de apetite, transtornos do sono, ansiedade, irritação ou mesmo choro fácil também estão entre os problemas apresentados por quem vive a situação de gastar mais do que o orçamento permite”, diz a psicóloga. “Há quadros em que o consumidor inadimplente chega a ter ideias suicidas, tamanha a dimensão que o problema representa. Por isso, em alguns casos, o caminho mais indicado para quebrar o ciclo vicioso gerado por comprar além das possibilidades, ficar inadimplente e sofrer por isso é – paralelamente às renegociações das dívidas atrasadas – procurar ajuda profissional especializada de um psicólogo ou de um profissional de saúde mental”.
O superintendente do SerasaConsumidor, Júlio Leandro, concorda. Para ele, o teste ajuda os consumidores a reconhecerem que existem problemas sérios por detrás da inadimplência e que o dinheiro nem sempre é a única solução.“É evidente que as providências de ordem prática, como reconhecimento das dívidas atrasadas e a renegociação junto aos credores, devem ser a primeira ação de quem perdeu as rédeas das finanças. Mas o teste vai além e pode dar pistas sobre questões de bastidores que levam as pessoas a gastar mais do que ganham e – pior ainda – a sofrer física e mentalmente por isso”.
Outra questão gerada pela desorganização financeira afeta diretamente a qualidade das decisões dos endividados. De acordo com um estudo feito por psicólogos e economistas nas universidades de Princeton e Harvard (EUA), a falta de dinheiro compromete a capacidade de pensar e todas as demais decisões se tornam lentas e imprecisas.