A ortorexia é um transtorno alimentar que se caracteriza por uma preocupação excessiva e exagerada com a alimentação saudável. Essa condição se manifesta por meio de um comportamento obsessivo em relação à qualidade e à composição dos alimentos consumidos, resultando em restrições alimentares extremas e rigidez nas escolhas alimentares.
Neste artigo, a psiquiatra do Hospital Santa Mônica, Dra. Ana Luiza Molina, aborda o que é ortorexia, seus sintomas característicos e as opções de tratamento disponíveis para lidar com esse transtorno alimentar. Acompanhe!
O que é ortorexia?
A ortorexia surge como uma busca desenfreada por uma alimentação considerada perfeita e saudável. A pessoa fica obcecada em consumir apenas alimentos que considera “puros”, evitando qualquer coisa que veja como “impura”. É o caso de alimentos processados, produtos com aditivos, açúcar, gorduras e até opções consideradas saudáveis pelos padrões convencionais.
Essa obsessão pela alimentação saudável acaba dominando a vida da pessoa. A busca pela perfeição alimentar pode se tornar uma prioridade, afetando todas as esferas da vida, desde as interações sociais até a saúde física e emocional. A pessoa pode gastar um tempo excessivo pesquisando sobre alimentação, lendo rótulos e ingredientes, além de evitar situações sociais que envolvam refeições fora do seu controle.
Diferença entre ortorexia e vigorexia
Enquanto a ortorexia está relacionada à preocupação obsessiva com a qualidade dos alimentos, a vigorexia é uma obsessão pela aparência física e pela busca incessante por um corpo musculoso. Esta última tem a ver com uma imagem corporal distorcida e com a necessidade compulsiva de se exercitar para atingir padrões inalcançáveis de perfeição física.
Ambos os transtornos, ortorexia e vigorexia, podem ter um impacto significativo na vida da pessoa e na saúde geral. Embora as preocupações iniciais pareçam positivas — buscar uma alimentação saudável ou um corpo atlético —, elas se tornam extremas e prejudiciais quando afetam negativamente a qualidade de vida, a saúde mental e física.
Quais os principais sintomas?
Esse transtorno alimentar tem uma série de sintomas característicos. Saiba mais!
Preocupação excessiva com a qualidade dos alimentos
A pessoa com ortorexia está constantemente preocupada com a qualidade e a procedência dos alimentos que consome. Ela se esforça para encontrar e consumir apenas produtos considerados “puros”, “naturais” ou “orgânicos”. Essa preocupação pode se tornar uma obsessão, consumindo grande parte dos pensamentos e do tempo do indivíduo.
Sentimento de culpa ao comer algo considerado pouco saudável
Quem sofre de ortorexia experimenta um intenso sentimento de culpa e ansiedade ao consumir alimentos que considere “impuros” ou não saudáveis. Mesmo que ocasionalmente ela se permita comer algo fora dos seus padrões alimentares restritos, a culpa pode dominar seus pensamentos e suas emoções.
Restrição alimentar extrema
A restrição alimentar é uma característica marcante da ortorexia. A pessoa tende a eliminar grupos inteiros de alimentos da dieta, mesmo que sejam considerados saudáveis ou essenciais para uma alimentação equilibrada. Por exemplo, ela pode excluir carboidratos, gorduras, glúten ou laticínios da sua alimentação sem nenhuma razão médica.
Obsessão por ler rótulos e ingredientes
Dedicar muito tempo à leitura minuciosa de rótulos e à pesquisa sobre os ingredientes presentes nos alimentos é outro sintoma de ortorexia. A pessoa busca evitar qualquer substância considerada prejudicial à saúde, como aditivos, conservantes, corantes ou ingredientes artificiais. Essa obsessão pode comprometer ua capacidade de socializar e aproveitar momentos de refeição fora de casa.
Exclusão de alimentos “impuros” de forma absoluta
A pessoa com ortorexia tem uma visão dicotômica dos alimentos, classificando-os rigidamente em “bons” ou “ruins”. Ela evita completamente os alimentos considerados “impuros” e acredita que qualquer desvio dessa alimentação restrita comprometerá sua saúde.
Distorção da percepção de saúde e bem-estar
Outro traço de ortorexia é acreditar que a alimentação restritiva é o único caminho para uma saúde perfeita e bem-estar. O indivíduo atribui uma importância exagerada à alimentação, negligenciando outros aspectos fundamentais da saúde, como o equilíbrio emocional e a atividade física.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da ortorexia pode ser desafiador, mas os profissionais de saúde têm critérios para identificar esse transtorno alimentar. Por exemplo, observam uma preocupação excessiva com a qualidade dos alimentos e uma alimentação saudável, além de restrições alimentares extremas e a exclusão de grupos inteiros de alimentos considerados “ruins”.
Também são investigados o tempo de leitura de rótulos, as pesquisas sobre alimentação saudável, a obsessão por ingredientes, a presença de culpa e ansiedade intensas ao comer algo considerado inadequado. Porém, é importante ressaltar que apenas esses critérios não são suficientes para realizar um diagnóstico preciso da ortorexia.
É fundamental que um profissional de saúde qualificado, como médico, psicólogo ou nutricionista, avalie o histórico do paciente, conduza entrevistas detalhadas e, se necessário, solicite exames complementares para descartar outras condições médicas que apresentem sintomas semelhantes.
Quais as complicações associadas à ortorexia?
As complicações associadas à ortorexia podem variar de leves a graves e afetar tanto a saúde física quanto a mental. Confira, a seguir, alguns exemplos desses problemas.
Desnutrição
A restrição alimentar extrema e a exclusão de grupos inteiros de alimentos podem levar à deficiência de nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais e macronutrientes. A desnutrição pode ter efeitos negativos no funcionamento adequado do organismo e afetar vários sistemas, incluindo o cardiovascular, o digestivo e o imunológico.
Problemas gastrointestinais
A exclusão de grupos inteiros de alimentos, como carboidratos, gorduras ou laticínios, pode levar a distúrbios digestivos, como constipação, diarreia, distensão abdominal e desequilíbrios na microbiota intestinal.
Distúrbios hormonais
A restrição alimentar e a desnutrição podem interferir no equilíbrio hormonal do corpo, levando a problemas menstruais, redução da libido, alterações de humor e desregulação do metabolismo.
Complicações psicológicas
A ortorexia está associada a uma alta carga emocional, incluindo ansiedade, culpa, estresse e obsessões relacionadas à alimentação. Esses sintomas podem levar a transtornos de ansiedade, depressão e isolamento social.
Impacto na qualidade de vida
A ortorexia pode levar ao isolamento social e ao afastamento de atividades sociais que envolvam alimentação, como encontros com amigos, festas ou jantares em família. Isso pode prejudicar significativamente a qualidade de vida e a saúde emocional.
Vale reforçar que as complicações da ortorexia podem variar de pessoa para pessoa e dependem da gravidade do transtorno, da duração e do contexto individual. Portanto, é essencial buscar tratamento adequado assim que os sintomas forem identificados para minimizar o impacto negativo na saúde e no bem-estar global.
Qual o tratamento para ortorexia?
O tratamento da ortorexia envolve uma abordagem multidisciplinar que abrange os aspectos físicos e psicológicos dessa condição. A terapia cognitivo-comportamental (TCC), por exemplo, é usada para identificar e modificar padrões de pensamento distorcidos relacionados à alimentação. Esse modelo incentiva a pessoa a enfrentar medos alimentares e a reintroduzir gradualmente alimentos evitados.
Por sua vez, o aconselhamento nutricional fornece orientações sobre uma alimentação saudável e equilibrada, de modo a auxiliar a pessoa a diversificar sua dieta e a reintroduzir aos poucos os alimentos que havia excluído.
Além disso, o suporte emocional e o apoio familiar e social são imprescindíveis. A participação ativa da família e dos amigos ajuda a pessoa a enfrentar os desafios da alimentação e fornece um ambiente de apoio e compreensão durante o tratamento.
Cada caso de ortorexia é único, e o tratamento deve ser adaptado às necessidades individuais. Então, a intervenção profissional de uma equipe multidisciplinar é decisiva para garantir uma abordagem abrangente e adequada ao tratamento desse transtorno alimentar. Com o suporte adequado, é possível superar a condição e desenvolver uma relação saudável e equilibrada com a comida.
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