Mais da metade dos trabalhadores brasileiros usa medicamentos psiquiátricos para lidar com estresse, ansiedade e burnout, segundo levantamento divulgado pela Revista Forbes.
A nova face da saúde mental no trabalho
Uma pesquisa realizada em 2025 pela The School of Life, em parceria com a Robert Half, revelou um dado alarmante: 52% dos líderes e 59% dos liderados estão usando medicamentos para lidar com pressões e questões de saúde mental no ambiente corporativo.
O levantamento, divulgado pela Revista Forbes, reforça uma tendência que preocupa especialistas: a dependência de soluções rápidas para enfrentar estresse, ansiedade e esgotamento profissional.
Automedicação cresce entre profissionais
Segundo o psiquiatra Arthur Guerra, cresce o número de profissionais que chegam ao consultório já medicados, muitas vezes sem orientação médica.
“A pessoa vai ao Google ou ao ChatGPT, descreve o quadro, recebe um ‘diagnóstico’ e se automedica. Mas isso não dá certo”, alerta o especialista.
A automedicação pode gerar efeitos colaterais, dependência química e mascarar transtornos psicológicos que exigem tratamento especializado com acompanhamento psiquiátrico e psicoterápico.
Por que o trabalho adoece?
A pesquisa indica que o problema vai além da esfera individual. Entre os principais fatores que impulsionam o uso de medicamentos no trabalho estão:
- Metas excessivas e pressão por resultados.
- Falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
- Cultura corporativa que reprime vulnerabilidade.
- Ausência de programas de apoio à saúde mental.
Para o filósofo Alain de Botton, fundador da The School of Life, o erro está em acreditar que “apenas o medicamento é suficiente para resolver dores emocionais que nascem da forma como pensamos, sentimos e nos relacionamos”.
Como as empresas podem agir
Ignorar esse cenário pode gerar quedas de produtividade, absenteísmo, maior rotatividade de talentos e custos crescentes com saúde corporativa.
Por outro lado, organizações que investem em bem-estar mental colhem benefícios como:
- Engajamento mais alto dos times.
- Redução do turnover.
- Aumento da criatividade e inovação.
- Ambiente de trabalho mais humano e colaborativo.
O humor como estratégia de bem-estar no trabalho
Além das discussões sobre o uso de medicamentos e os riscos da automedicação, especialistas lembram que o bem-estar no ambiente corporativo também pode ser fortalecido por práticas simples e humanizadoras.
A humorologista Maryana com y argumenta que rir é uma habilidade socioemocional que pode (e deve) ser treinada dentro das organizações. Longe de ser uma fuga, o humor seria uma lente para lidar com complexidade, pressão e frustração, aumentando a inteligência emocional coletiva.
“O humor aproxima as pessoas, diminui tensões e cria um ambiente mais leve. Ele não elimina os problemas, mas ajuda a enfrentá-los com mais resiliência”, afirma Maryana.
De acordo com ela, empresas que valorizam o riso, a leveza e a descontração constroem times mais colaborativos, engajados e preparados para lidar com situações de pressão.
Esse olhar dialoga com iniciativas do Hospital Santa Mônica, que reforça a importância de políticas que vão além da medicalização, promovendo o acolhimento, a empatia e o bem-estar integral dos colaboradores.
A visão do Hospital Santa Mônica
O Hospital Santa Mônica, referência em saúde mental no Brasil, vem ampliando esse debate em seus podcasts do Programa Saúde Mental nas Corporações, onde especialistas do hospital conversam com líderes de Recursos Humanos de grandes empresas.
Nos episódios, são discutidos temas como:
- Prevenção ao burnout.
- Saúde Mental das Mulheres com as jornadas multiplas.
- A importância de políticas corporativas de apoio psicológico.
- Estratégias para formação de líderes empáticos.
- Exemplos de boas práticas no cuidado com equipes.
A iniciativa busca conscientizar gestores de que investir em saúde mental não é apenas uma questão de cuidado humano, mas também de sustentabilidade organizacional e produtividade.
A pesquisa da The School of Life em parceria com a Robert Half mostra que o uso de medicamentos se tornou uma realidade tanto entre líderes quanto entre liderados.
O desafio agora é transformar esse dado em ação: criar ambientes de trabalho mais saudáveis, reduzir a medicalização como resposta imediata ao sofrimento e ampliar o acolhimento psicológico dentro das empresas.
O exemplo do Hospital Santa Mônica, que promove diálogo aberto com líderes de RH, mostra que a transformação passa por informação, cultura e coragem para repensar a forma como trabalhamos.