No Dia Internacional da Luta pela Saúde da Mulher, especialistas alertam para o aumento nos casos de estresse, depressão, burnout e consumo de álcool entre mulheres — reflexos de uma sociedade que exige demais e apoia de menos.
“As mulheres estão adoecendo em silêncio.” Essa frase, repetida por médicas, psicólogas e estudiosas da saúde pública, resume a crise que atinge a saúde mental feminina no Brasil e no mundo.
Celebrado em 28 de maio, o Dia Internacional da Luta pela Saúde da Mulher é um marco global criado para ampliar o debate sobre os desafios que afetam a saúde feminina — não apenas no âmbito reprodutivo, mas de forma integral. E nos últimos anos, um aspecto tem se destacado com urgência: o impacto da sobrecarga e do sofrimento psíquico na vida das mulheres.
Acompanhe essa matéria que contou com a colaboração do Dr. Fábio José Beites, psiquiatra do Hospital Santa Mônica e boa leitura!
Cresce o consumo de álcool entre mulheres
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o número de mulheres que consomem álcool em excesso quase dobrou nas últimas duas décadas. Um levantamento da Fiocruz de 2023 mostra que mulheres entre 18 e 34 anos são o grupo com maior crescimento no consumo de bebidas alcoólicas — muitas vezes como tentativa de alívio para a ansiedade, estresse ou solidão.
Especialistas alertam que esse fenômeno é reflexo direto do aumento da pressão social, da cobrança estética, das jornadas duplas (ou triplas) e da escassez de apoio emocional.
“O álcool é muitas vezes usado como forma de anestesia emocional. Mas a longo prazo, pode agravar quadros de depressão e ansiedade”, explica Dr. Fábio José Beites, psiquiatra do Hospital Santa Mônica.
Burnout, ansiedade e depressão em alta
Estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado em 2022 revelou que mulheres têm duas vezes mais chance de desenvolver depressão do que homens. Entre as causas estão os fatores hormonais, sociais e econômicos. Além disso, as mulheres relatam níveis mais altos de ansiedade e estresse crônico.
Um relatório da International Labor Organization (ILO) aponta que mulheres são mais afetadas por burnout — especialmente aquelas em profissões de cuidado (enfermagem, educação, assistência social).
A Associação Brasileira de Psiquiatria estima que, após a pandemia, os casos de esgotamento mental entre mulheres aumentaram em 30%.
Violência de gênero como fator de risco para transtornos mentais
Outro ponto alarmante é a ligação entre violência de gênero e saúde mental. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que uma em cada quatro mulheres sofreu algum tipo de violência no último ano no Brasil. A exposição contínua a traumas — físicos, sexuais, psicológicos — está entre os maiores fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos como TEPT, depressão e uso abusivo de substâncias.
“Não é possível falar de saúde mental da mulher sem considerar os contextos de violência e desigualdade”, afirma a psicóloga Fê Maidel, especialista em diversidade e saúde mental. “Tratar a mulher como um ser isolado de seu meio social é ignorar as raízes do sofrimento.”
O papel da prevenção e do acolhimento
Cuidar da saúde mental da mulher exige mais do que oferecer tratamento: requer acolhimento, políticas públicas efetivas, acesso à psicoterapia e psiquiatria de qualidade, e sobretudo, espaços de escuta e validação.
No Hospital Santa Mônica, o cuidado com a saúde mental feminina é parte central da assistência. Grupos terapêuticos, atendimento especializado em saúde da mulher, abordagem interdisciplinar e o respeito à individualidade fazem parte da jornada de cuidado.
Um chamado à empatia e à ação
Neste 28 de maio, o chamado é claro: a saúde da mulher precisa ser prioridade. E saúde não é apenas ausência de doença — é bem-estar físico, emocional e social.
Investir em saúde mental feminina é investir em famílias, comunidades e no futuro. É entender que cuidar da mulher é cuidar de todos.