A gravidez indesejada é algo frequente entre as mulheres usuárias de drogas e causa problemas que se estendem ao feto, podendo acompanhá-lo pelo resto da vida. Tudo o que é consumido por uma gestante é transferido para o bebê, o que pode levá-lo à dependência química. Especialistas confirmam que o uso de drogas no período de gestação ainda ocasiona danos físicos e psicológicos na criança, além de colocar ainda mais em risco a saúde da mãe.
Segundo a enfermeira Maria Alves, especialista em ginecologia e obstetrícia, muitas substâncias contidas nas drogas reduzem a distribuição de nutrientes para bebê. “Isso gera uma série de problemas como baixo peso, déficit de crescimento e dificuldades no desenvolvimento corporal e mental”, explica. A assistente social da Maternidade Dona Evangelina Rosa, Josiana Braga, diz que alguns filhos de usuárias de drogas nascem com doenças como sífilis e até mesmo HIV, além de uma série de problemas que podem ser desenvolvidas a partir da dependência química da mãe.
“Quando a paciente chega para fazer o parto e é detectada como usuária de drogas, é feito um monitoramento de saúde e também o conselho tutelar é acionado para que faça uma análise situacional da família e veja se existem condições propícias para que a criança seja devidamente cuidada”, diz. O consumo de drogas indiretamente compartilhado com a mãe causa tremores, má formação corporal, atrofiamento cerebral, convulsões e déficit de atenção nas crianças. Segundo o psicopedagogo Francisco Fernandes, isso acontece porque as drogas afetam diretamente o sistema nervoso.
“A criança também contrai a dependência a partir do leite materno, devido às substâncias que são transferidas. Transtornos psicomotores são recorrentes nesses casos, o déficit de atenção é um risco eminente. É necessário um acompanhamento médico para diminuir os efeitos causados pelo consumo de drogas durante a gestação”, conta. A assistente social ainda destaca que o consumo de drogas pelas mães influencia diretamente na decisão dessas crianças e adolescentes se tornarem usuárias também. “Além delas já nascerem dependentes por consumirem a partir da mãe, há uma influência que compromete o desenvolvimento social desses filhos”, complementa Josiana Braga.
Crianças precisam de acompanhamento médico Segundo o médico psiquiatra Cristóvão Madeira, as crianças precisam de uma avaliação logo ao nascer para verificar se seu desenvolvimento será afetado. “A primeira coisa a se fazer é avaliar quais sistemas foram atingidos, porque a maioria dos problemas desencadeados pelo consumo de drogas do feto ainda em formação é crônico. As convulsões podem desencadear um retardo mental e outros problemas também. Em muitos casos, a utilização de medicamento é quase mínima, pois se deve a uma má formação corporal ou cerebral que não tem como reverter. Os medicamentos, no caso, seriam para diminuir as sequelas”, explica.
Durante a gravidez é recomendado que seja feito um acompanhamento pré-natal para que os riscos de parto antecipado sejam diminuídos. “As unidades básicas atendem a essas ocorrências. As usuárias de drogas devem ser monitoradas de forma que a gravidez seja o mais saudável possível e o feto não desenvolva tantos problemas. Isso também diminui a incidência de complicações durante o parto”, diz a enfermeira Maria Alves.