Quando estão com depressão, 70% das mulheres perdem o desejo sexual. Entre os homens, o índice é de 40%. Enquanto elas admitem que a doença tem causas internas, eles tendem a creditar a tristeza a situações externas, como o clima ou problemas no trabalho.
Um estudo recém publicado pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) mostra que a forma de manifestação da depressão muda conforme o sexo, o que aponta para possibilidades de tratamentos específicos para homens e mulheres. Isso abre precedente para que os profissionais se questionem com relação ao método a ser adotado de acordo com o sexo do paciente.
A hipótese da melhora diferenciada entrou pela primeira vez na bíblia dos psicólogos e psiquiatras – o guia de doenças mentais, chamado Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5) – só na última edição, em junho deste ano. E mesmo lá não há respostas concretas – apenas um indicativo de que a questão tem que ser melhor estudada daqui para frente. Já a tese de doutorado em saúde e comportamento da psicóloga Mariane Lopez Molina indica alguns caminhos.
O perfil traçado por ela com base na comparação dos sintomas revela que as mulheres choram mais, se deprimem mais e têm mais dificuldades para tomar decisões. Mas os dois itens que mais chamam a atenção são o da perda de libido e o fato de os homens apontarem fatores externos como causa da depressão até 12 vezes mais do que elas. Ou seja, eles se enganam com os próprios sintomas, dizendo que o problema não é com eles, mas tudo culpa daquele chefe que pega no pé, da previsão do tempo horrorosa ou do excesso de trabalho.
— As mulheres tendem a ser mais abertas e, por isso, assumem mais facilmente a doença. Por causa da característica de falar mais, também identificamos que um certo tipo de tratamento era mais apropriado – afirma Mariane. Foram testados dois tipos de métodos. Um se chama “psicoterapia cognitiva narrativa”, em que o paciente elege quatro episódios da vida que ele acredita serem responsáveis pela depressão e faz uma conversa com o psicólogo para aprender a lidar com eles. Esse foi considerado mais propício para mulheres, justamente pela característica de conseguir se expressar melhor.
O segundo é a “psicoterapia cognitivo comportamental”, em que o psicólogo ajuda o paciente a identificar comportamentos disfuncionais e ensina a readequá-los ao seu contexto. Esse tipo, em que muitas vezes se utiliza um diário para que o paciente se dê conta de sua realidade, foi melhor recebido pelos homens. Também estudioso do assunto, o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), aponta que há outras terapias eficazes como a psicanálise, que é de longa duração. Porém as psicoterapias estudadas foram analisadas justamente por serem de curta duração (sete sessões) para serem indicadas ao uso no Sistema Único de Saúde.
No entanto, Dunker reconhece a lógica do estudo. — A diferença apontada ainda faz algum sentido pois no caso do homem é de fato importante transformar os esquemas interpretativos da realidade enquanto no caso da mulher a recuperação do déficit narrativo é muito importante – explica.
A tese de Mariane, que faz parte da Equipe de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em saúde e comportamento da UCPel, foi composta por duas pesquisas, realizadas entre 2007 e 2012. O trabalho contou com 1560 entrevistados. Durante os trabalhos, 137 pacientes realizaram a psicoterapia proposta.