Como a espiritualidade pode fortalecer a saúde emocional e auxiliar no tratamento psiquiátrico, segundo especialistas da ABP
A relação entre espiritualidade e saúde mental ganhou destaque no Congresso Brasileiro de Psiquiatria 2025, principalmente após a conferência do Dr. Alexander Moreira Almeida, psiquiatra, pesquisador e referência internacional no tema.
Evidências científicas mostram que práticas espirituais — quando respeitosas, seguras e alinhadas à cultura do paciente — estão associadas a menor prevalência de depressão, redução do uso de álcool e drogas e recuperação mais rápida em diversos transtornos psiquiátricos.
A espiritualidade, segundo o especialista, não é um substituto para o tratamento médico, mas um componente humano fundamental que pode potencializar o cuidado.
Por que falar de espiritualidade na psiquiatria contemporânea?
Durante décadas, a saúde mental foi compreendida de forma estritamente técnica e biomédica. Entretanto, estudos das últimas duas décadas — conduzidos por instituições como Harvard, Duke University e OMS — vêm demonstrando que dimensões espirituais fazem parte da experiência humana e influenciam o bem-estar psicológico.
O Dr. Alexander Moreira Almeida, professor titular da UFJF e fundador da Seção de Espiritualidade da ABP, reforçou no CBP 2025 que mais de 3.000 estudos científicos já investigaram a relação entre religiosidade/espiritualidade e saúde mental. A maioria deles aponta resultados positivos, especialmente em quadros de ansiedade, depressão e comportamentos relacionados ao uso de substâncias.
“Ignorar a espiritualidade é ignorar uma parte importante da vida do paciente”, destacou o psiquiatra na conferência.
Evidências científicas: o que os estudos mostram?
Pesquisas internacionais revelam que pessoas com maior envolvimento religioso ou espiritual apresentam:
- 40% menor risco de desenvolver depressão, Harvard T.H. Chan School of Public Health, 2020.
- Até 60% menos chance de uso problemático de álcool e outras substâncias, Duke University, 2017.
- Maior resiliência em situações de estresse, luto e doenças graves.
- Melhor adesão ao tratamento médico, incluindo uso correto de medicações.
- Recuperação mais rápida após episódios psiquiátricos.
Esses benefícios não estão relacionados a uma religião específica, mas à vivência subjetiva de propósito, conexão, esperança e sentido de vida.
Como a espiritualidade auxilia no tratamento psiquiátrico?
A espiritualidade pode funcionar como um fator de proteção emocional, oferecendo ao paciente:
- senso de pertencimento (comunidade, apoio social);
- esperança e motivação para a recuperação;
- práticas que reduzem o estresse (orações, meditação, rituais simbólicos);
- valores que favorecem autocuidado, disciplina e resiliência.
Na prática clínica, psiquiatras e psicólogos são orientados — inclusive pela OMS e pela ABP — a perguntar sobre a espiritualidade dos pacientes como parte da avaliação integral, sempre com respeito e sem indução religiosa.
O papel do Hospital Santa Mônica
O Hospital Santa Mônica, referência em saúde mental e psiquiatria, integra essa visão ampliada do cuidado. A equipe multidisciplinar inclui psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e enfermeiros capacitados a:
- acolher a dimensão espiritual do paciente, se ele desejar;
- integrar práticas seguras, como grupos de apoio, meditação e rodas de reflexão;
- orientar sobre comportamentos relacionados ao uso de substâncias com abordagem humanizada;
- oferecer tratamento baseado em evidências, aliado ao respeito às crenças pessoais.
O modelo do hospital reforça que espiritualidade não substitui o tratamento médico, mas pode somar como estratégia de fortalecimento emocional e motivacional.
Espiritualidade não é religião: qual a diferença?
A espiritualidade é uma experiência interna de busca por sentido, conexão e propósito. Já a religião envolve doutrinas, rituais e comunidades organizadas. Ambas podem coexistir, mas a espiritualidade é mais ampla e pessoal.
Na saúde mental, o foco é compreender o que faz sentido para o paciente, e não promover qualquer crença.
Riscos e limites: quando a espiritualidade pode prejudicar?
Embora traga benefícios, a espiritualidade pode gerar impactos negativos quando:
- é utilizada como substituição do tratamento médico (“fé suficiente para curar”);
- envolve práticas abusivas, promessas de cura milagrosa ou exploração emocional;
- reforça culpa, medo ou sentimentos de inadequação.
Por isso, profissionais qualificados avaliam sempre o contexto e orientam com responsabilidade.
Exemplos práticos: espiritualidade no cotidiano do paciente
- Uma paciente com depressão que encontra motivação em participar de grupos comunitários religiosos — aumentando rede de apoio.
- Um jovem com transtorno por uso de substâncias que incorpora meditação guiada para controlar impulsos.
- Um paciente em luto que encontra na espiritualidade uma forma de ressignificar perda e reduzir sintomas ansiosos.
Essas práticas são complementares ao tratamento psiquiátrico e devem ser acompanhadas por profissionais.
FAQ – Perguntas e Respostas sobre Espiritualidade e Saúde Mental
- A espiritualidade substitui o tratamento psiquiátrico?
Não. A espiritualidade pode apoiar a recuperação, mas não substitui medicação, psicoterapia ou acompanhamento médico.
Fontes: OMS (https://www.who.int), Harvard (https://www.harvard.edu). - Qual a diferença entre espiritualidade e religião?
Espiritualidade é uma busca individual por sentido; religião é organizada, com rituais e doutrinas.
Fonte: APA – American Psychological Association (https://www.apa.org). - Espiritualidade realmente melhora a saúde mental?
Sim, estudos mostram redução de sintomas depressivos e maior bem-estar emocional.
Fonte: Duke University (https://duke.edu). - Pessoas religiosas usam menos álcool e outras substâncias?
Pesquisas indicam menor prevalência de comportamentos relacionados ao uso de substâncias entre pessoas com maior envolvimento religioso.
Fonte: Journal of Substance Abuse (https://www.sciencedirect.com). - Profissionais de saúde devem perguntar sobre espiritualidade?
Sim, a OMS recomenda incluir esse tema na avaliação integral do paciente.
Fonte: OMS (https://www.who.int). - Há riscos na prática espiritual?
Sim, quando envolve manipulação, culpa ou substituição do tratamento médico.
Fonte: ABP (https://www.abp.org.br). - Meditação é considerada prática espiritual?
Sim, e estudos mostram que pode reduzir ansiedade e estresse.
Fonte: NIH – National Institutes of Health (https://www.nih.gov). - O Hospital Santa Mônica integra a espiritualidade no cuidado?
Sim, respeitando sempre as crenças do paciente e sem substituir o tratamento psiquiátrico.