Psiquiatra Thiago Marques Fidalgo alerta sobre a importância da abordagem a respeito do consumo de álcool e outras drogas em pacientes com câncer durante e depois do tratamento
Desde os anos 1990, o tabaco recebe grande atenção dos oncologistas devido ao seu grande impacto como fator de risco de inúmeros cânceres. Já foi comprovado cientificamente que o tabaco é o principal fator de risco modificável para neoplasias malignas. Recentemente, a mesma atenção tem recebido o álcool. Cânceres de cabeça e pescoço, de esôfago, estômago, fígado, cólon, entre outros, são alguns dos que tem a bebida entre seus fatores de risco. Novos estudos agora colocam o álcool como o segundo fator de risco modificável para as neoplasias malignas.
Para o coordenador do Setor de Adultos do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (PROAD), do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo, Thiago Marques Fidalgo, isso ganha especial importância ao se considerar que diversos estudos têm apontado que a questão do alcoolismo normalmente não é abordada pelo oncologista durante sua avaliação. Uma pesquisa de 2011, encontrou que somente 13% dos pacientes com problemas pelo uso de álcool foram identificados por seus oncologistas e encaminhados para correto acompanhamento. Além disso, nesse mesmo estudo, foi constatado que pacientes com o teste CAGE positivo apresentaram necessidade de doses maiores de opióides ao longo de seu tratamento, aumentando seu tempo de internação e seu número de intercorrências clínicas”, explica. “Discutir a questão do uso de álcool, tabaco e drogas no momento do diagnóstico de câncer também é fundamental para o tratamento subsequente da dependência, pois aumenta a aderência ao tratamento psiquiátrico e consequentemente os índices de sucesso desse tratamento”, completa Fidalgo.
Segundo o psiquiatra, uma metanálise de 2012 (“Alcohol drinking and all cancer mortality”) confirmou os benefícios do beber em pequenas quantidades (menos do que 12,5g de álcool por dia – sendo que uma lata de cerveja apresenta 17g de álcool; enquanto uma taça de vinho apresenta 10g de álcool), mas também reforçou os malefícios do beber em grandes dosagens (mais de 50g por dia), padrão que é apresentado por 29% da população brasileira. “Esses dados são significativos e não podem ser ignorados pelos profissionais. A abordagem do consumo de álcool e tabaco no doente com câncer é hoje parte integrante do tratamento oncológico e os oncologistas devem estar preparados para intervir e encaminhar esses pacientes para tratamento especializado sempre que necessário”, finaliza Thiago Marques Fidalgo.