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Retaguarda Clínica

Cuidados mais que especiais

Dra. Ana Luiza Molina Corrêa Poliseli

Um dia você olha no espelho e percebe que o tempo passou. O corpo e a pele já não são os mesmos, a disposição vai dando espaço ao cansaço e a insegurança das primeiras experiências se transformou em sabedoria.

Muitos idosos lidam bem com esta situação e até fazem da Terceira Idade, a melhor fase de suas vidas, saindo para dançar, participando de grupos de atividades e curtindo tudo o que a vida pode lhes oferecer sem dar espaço para a solidão, porém, boa parte deles não consegue superar a sensação de inutilidade e vazio decorrentes das mudanças no corpo e na rotina e acaba se isolando de seu ciclo social, seja por vergonha de estar parado, seja por se sentir descartado: “muita gente acha que os problemas de saúde dos idosos são decorrentes da saúde fragilizada. De fato, nosso organismo fica mais vulnerável com o passar dos anos e, assim como toda máquina, vai perdendo suas reservas, mas manter a autoestima em alta e receber afeto ajuda a fortalecer o sistema imunológico nesta fase da vida”, explica o psicofisiologista da Unifesp, Ricardo Moneze.

Um estudo da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos comprova o poder das emoções na saúde dos idosos. Depois de avaliar 229 pessoas, com idade entre 50 e 68 anos, os pesquisadores descobriram que idosos solitários têm pressão sanguínea até 30% mais elevada do que os mais ativos. Além disso, constataram também, que estes pacientes são mais propensos a apresentar doenças cardíacas.

Mas eu nem comecei a viver ainda!

Um dos grandes dilemas dos idosos é assumir para si mesmos que a idade chegou e conseguir manter o ânimo mesmo depois de perceber que o corpo e a vida já não seguem no mesmo ritmo da época da juventude:

“alguns sofrem e teimam em aceitar que a idade chegou. Em geral, isso acontece porque se criou uma ideia falsa de que a terceira idade é ruim. Estar velho não é um problema ou uma doença e pode representar o começo e não o fim, como muitos pensam. Você pode até não conseguir mais dançar salsa como gostava, mas pode começar uma aula de tango ou uma valsa e descobrir o prazer destas outras danças”, explica Moneze. “Ser idoso significa acumular experiências e não deixar de vivê-las”,continua.

Aposentado?

Que nada! Outra situação que leva os idosos ao isolamento, é a sensação de inutilidade diante da aposentadoria. Para eles, principalmente para os homens, deixar de trabalhar significa deixar de ser útil e capaz de comandar sua própria vida e o isolamento funciona como válvula de escape nestes casos: “é uma questão social. Desde sempre o trabalho dignifica o homem, porém, não ter uma ocupação formal não significa que a pessoa é inútil, ela apenas já cumpriu suas obrigações quanto a isso e está na fase de aproveitar e descansar”, explica.

Se a sensação de ficar parado incomoda, que tal fazer uma aula de dança ou um curso de artesanato? Participar de grupos da Terceira Idade também pode ajudar a manter a mente saudável.

Lidando com as perdas

Se no começo da vida reunimos amigos, aumentamos a família e vemos a prosperidade como sinônimo de ganhos, na velhice, uma das coisas mais desagradáveis e dolorosas é lidar com as perdas. É o melhor amigo que se foi, o filho que mudou de cidade, a aposentadoria, a beleza que dá lugar as rugas.

Sem dúvida, lidar com tantas perdas é muito difícil e doloroso e exige maturidade e preparo emocional para não causar medos, traumas e depressão, mas não adianta encará-las como algo negativo, elas são naturais na vida de qualquer pessoa e devem ser vistas como tal: “não dá para achar que a vida se resume em perdas. Elas doem, a saudade bate na porta, mas a vida é assim e não há nada que se possa fazer para mudar isso. O melhor é encarar e seguir em frente pensando não no que se perdeu, mas no que ainda é possível ganhar”, diz.

Descartável por quê?

Muitas vezes, não é o idoso que se isola, é a família que o deixa de escanteio por não ter paciência ou por falta de tempo para conversar e dar a atenção necessária.

Nestes casos, é preciso que todos os que convivem com o idoso se sensibilize e perceba que deixá-lo de lado pode trazer consequências graves em função da sensação de abandono:

“para se ter uma ideia da gravidade do problema, mais da metade dos idosos atendidos no consultório apresentam doenças típicas de quem está sofrendo emocionalmente. São quadros clínicos diversos, como psoríase e hipertensão, mas que em geral, são motivados por solidão e tristeza”, explica Ricardo.

Algumas doenças motivadas pelo estresse emocional, bastante comuns na velhice:

-Fribromialgia: “o idoso passa a sentir dores e incômodos e acha que tem a ver com a fraqueza dos ossos, mas muitas vezes elas são decorrentes da apatia e não da debilidade do sistema imunológico”, explica Ricardo.

-Psoríase: “as doenças de pele são mais comumente relacionadas a saúde emocional do paciente. Nos idosos, tem havido um crescimento considerável do número de casos deste tipo de patologia em função da dor emocional”, continua. -Hipertensão: a falta de ocupação e a tristeza provocam um quadro de estresse emocional nos idosos e por isso a pressão arterial sobe.

-Falta de vitamina D: como têm a mobilidade comprometida pelos aspectos típicos da idade e tendem a se isolar em decorrência da depressão, os idosos não pegam sol, uma das principais fontes de absorção de vitamina D o que ocasiona uma deficiência deste nutriente no organismo. Os baixos níveis de vitamina D estão relacionados à depressão, incontinência urinária e até câncer de mama.

Uma balança com saldo positivo

Uma das melhores alternativas para melhorar a qualidade de vida dos idosos, segundo o especialista é mudar a concepção negativa de velhice e fazer uma avaliação dos aspectos negativos e positivos da vida até ali. É só comparar para ver qual lado da balança pesa mais: “não tem como dar saldo negativo. Por pior que tenha sido sua vida, você pode aprender com ela, conheceu pessoas, amou, riu, chorou, isso é viver e a sabedoria dos mais velhos ajuda a compreender a vida desta maneira, basta tentar”, sugere.

De bem com a vida

Se o assunto é qualidade de vida na terceira idade, a dica é relaxar e curtir o momento: “a melhor maneira de afastar os pensamentos ruins é ocupar a cabeça e o tempo com atividades prazerosas, assim, mente e corpo entram em harmonia sem sofrimentos e frustrações”, explica Ricardo.

Quer curtir a terceira idade longe da solidão? Preste atenção nas dicas do especialista:

-Pratique exercícios físicos. Eles trazem saúde, bem-estar e favorecem o contato social.

-Mantenha uma alimentação equilibrada, sem muita gordura, sal e açúcar. Mas não se torture, a hora da refeição tem que ser prazerosa.

-Evite cigarros e bebidas alcoólicas. “Os vícios fazem mal a saúde em qualquer fase da vida, mas quando acumulados, na velhice podem trazer consequências maiores”, afirma Ricardo.

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