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Saúde Mental

Bebês Reborn: entre o consolo emocional e os limites da realidade

O que são Bebês Reborn?

Os bebês reborn são bonecas hiper-realistas, confeccionadas artesanalmente com materiais como vinil e silicone, pintadas à mão e, muitas vezes, pesadas para simular o peso de um bebê real. Algumas versões incluem detalhes como veias, marcas de nascença, batimentos cardíacos simulados e até mecanismos de respiração.

O processo de criação dessas bonecas, conhecido como “renascimento”, envolve múltiplas etapas para alcançar o máximo de realismo possível. Inicialmente, esse hobby surgiu nos Estados Unidos na década de 1990, mas rapidamente ganhou adeptos em diversos países.

A psiquiatra do Hospital Santa Mônica, Dra. Carla Mendes, comenta sobre o assunto, boa leitura!

Por que pessoas adotam Bebês Reborn?

A atração por bebês reborn vai além do colecionismo. Para muitos, essas bonecas representam uma presença emocional concreta, sendo tratadas com afeto, cuidado e, em alguns casos, como verdadeiros filhos.

Algumas das motivações incluem:

  • Elaboração de perdas e traumas: Pessoas que enfrentaram perdas gestacionais ou infantis podem usar os bebês reborn como parte do processo de luto, encontrando neles uma forma simbólica de expressar e reorganizar a dor da perda.
  • Regulação emocional e redução da solidão: Indivíduos que enfrentam solidão, depressão ou transtornos de ansiedade podem encontrar nos cuidados com o bebê reborn uma estratégia inconsciente de autorregulação emocional.
  • Identidade e papel social: Para alguns, interagir com o bebê reborn proporciona uma sensação de ser mãe, refletindo a busca por um papel social valorizado ou desejado.

O Fenômeno no Brasil e no Mundo

No Brasil, os bebês reborn conquistaram as redes sociais, com influenciadoras compartilhando rotinas com seus “filhos” e encontros de “mães de bebês reborn” ocorrendo em locais públicos, como o Parque Ibirapuera, em São Paulo.

Internacionalmente, a prática também é difundida. Na Alemanha, por exemplo, mulheres adultas são vistas passeando com carrinhos contendo bebês reborn e até contratando babás para cuidar deles.

A Polêmica Legislativa no Brasil

Neste mês de maio, duas propostas foram protocoladas para projeto de lei que abordam o assunto:

Uma envolve o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL-MG) que protocolou, nesta terça-feira (14/5), um projeto de lei para proibir que donos de bebês reborn levem os bonecos para receber atendimento em hospitais. Segundo a proposta, o descumprimento da norma poderá gerar multa equivalente a dez vezes o valor do serviço prestado.

A justificativa apresentada pelo deputado cita casos de atendimentos médicos solicitados para bonecas reborn e expressa preocupação com o uso de recursos públicos. O parlamentar mineiro ainda menciona episódios em que a “tutela” de bonecas teria sido alvo de disputas judiciais, em contextos como separações e sucessões.

Outro caso é o Projeto de Lei 2.320/2025 que propõe multa de mais de R$ 30 mil para pessoas que utilizarem bebês reborn nas prioridades em filas, destinadas a pessoas com crianças de colo. O autor da proposta protocolada na Câmara dos DeputadosDr. Zacharias Calil (União-GO), argumenta que a ação pode prejudicar pessoas que necessitem de atendimento prioritário e que são assegurados por lei, como grávidas, idosos e pessoas com deficiência.

Benefícios Terapêuticos e Riscos Psicológicos

Os bebês reborn têm sido utilizados em terapias para acalmar pacientes que sofrem de ansiedade, depressão e outros transtornos emocionais. Eles também são usados em tratamentos de saúde mental, como terapia ocupacional e terapia de arte, ajudando a melhorar a cognição, estimular a memória e promover a interação social.

“O bebê reborn pode funcionar como um objeto transicional para lidar com perdas ou ausências, mas quando a fantasia substitui a realidade, precisamos investigar o que está por trás desse comportamento.”Dra. Carla Mendes, psiquiatra do Hospital Santa Mônica

Especialistas alertam para os riscos quando a pessoa perde o senso de realidade. Tratar o bebê reborn como um filho real pode indicar dificuldades na interação social, isolamento ou até depressão profunda.

O que é importante observar o impacto que esse hábito gera na vida da pessoa. Se está servindo apenas como uma forma de conforto sem prejuízo a outras áreas, tudo bem. Mas, se for uma fuga de um vazio emocional ou frustração que precisa ser enfrentada, é algo que exige cuidado.

Os bebês reborn representam um fenômeno complexo, que toca em aspectos profundos da experiência humana, como o desejo de cuidado, a maternidade, o luto e o valor simbólico dos objetos. Enquanto podem oferecer conforto e auxiliar em processos terapêuticos, é fundamental estar atento aos limites entre a realidade e a fantasia, garantindo que essa prática contribua positivamente para o bem-estar emocional.

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