Contrariamente ao senso comum, é muito bom sentir ansiedade. É por causa deste estado emocional normal que nos levantamos da cama pela manhã, como se houvesse um alarme interior. E que, ao longo do dia, quando a ansiedade aumenta, melhoramos nosso desempenho. Ainda assim, existe um limite que, quando ultrapassado, provoca prejuízos danosos para o corpo e a mente.
A ansiedade é mecanismo cerebral de alarme, de proteção, de fuga e de luta. Esta reação do organismo vem sendo aperfeiçoada há milênios e é necessária para a nossa sobrevivência. Em nível moderado, a ansiedade tira a pessoa do risco e dá energia para que ela tome as medidas adequadas. Como acontece quando a pessoa perde o emprego, por exemplo, e se vê em meio a uma crise de ansiedade. Não dá para dizer que uma pessoa tem transtorno ansioso baseado em apenas uma única crise gerada por uma situação difícil pela qual esteja passando.
No medo, os riscos são mais próximos. Já na ansiedade o objeto causador do mal está distante. E a eminência de destruição que gera o pânico. Mas, se toda hora você acha que vai morrer de ataque cardíaco, tem muito medo de perder o controle, se sente sufocado ou acha que vai enlouquecer é melhor ligar o alerta.
Além do sofrimento muito intenso, dois outros fatores indicam que a ansiedade atingiu um grau prejudicial e patológico: desproporção entre o risco real e o avaliado e incapacitação gerada por esse quadro. Quando deixa de ser útil, a ansiedade tira a liberdade da pessoa e a incapacita na vida profissional ou afetiva.
Megacidades aumentam crises de ansiedade
Mais comum do que se imagina, essa sensação de angústia acomete grande parte das pessoas, como afirma Laura Helena Andrade, que liderou uma pesquisa realizada na região metropolitana de São Paulo, entre 2009 e 2012. O estudo revelou a associação entre a vida nas chamadas megacidades e a incidência de transtornos psiquiátricos. “Cerca de 30 por cento dos paulistanos apresentaram um transtorno mental; sendo que os transtornos de ansiedade foram os mais comuns, afetando ao redor de 20 por cento das 5.037 pessoas pesquisadas”, ela conta.
Diferente da síndrome do pânico, que vem rápido e vai embora devagar, a ansiedade é flutuante, aumenta e diminui ao longo do dia. Isso porque a mente voa e essa é uma das principais razões do transtorno ansioso. “Quando a gente se ocupa de coisas que vão acontecer no futuro, deixa de atuar no presente”, diz o psicólogo Paulo Giraldes. “A mente se divide entre a ansiedade e o controle em uma escala de zero a dez. Se a sua a ansiedade é dez, seu controle é zero. ”
Todos nós fazemos um esforço de adaptação aos estímulos estressores, como trânsito, violência, poluição, entre outros. Se não nos adaptamos, ou confrontamos ou fugimos. “O ser humano tem um comportamento de integração de dinâmica dos aspectos físico, psíquico e social. Isso é saúde, a integração de todos os âmbitos. Quando um deles é sobrecarregado, a pessoa adoece”, atesta Denise Pará Diniz, psicóloga e coordenadora do Núcleo de Qualidade de Vida da Escola Paulista de Medicina da Unifesp. Segundo Ricardo Torresan, um transtorno de ansiedade tem aspecto genético; provavelmente um parente próximo apresenta o mesmo quadro.
Dependendo da intensidade, este pode ser tratado com técnicas não farmacológicas. Como é o caso de ansiedade gerada por medos específicos, como o de altura, para o qual é recomendada a terapia comportamental. Quando realmente é preciso, a medicação promove alívio rápido, mas não necessariamente um paciente ansioso precisará tomar remédio durante toda a vida. “Pode ser temporário até que o quadro desapareça”, completa Torresan. Ter cuidados na vida diária, criar momentos de descanso, fazer uma pausa na hora do almoço, ter horas adequadas de sono, não consumir muitas bebidas estimulantes e ter prudência no consumo de álcool ajudam a reduzir a ansiedade. Exercícios respiratórios e massagem também são aconselhados.
Uma atitude que nos ajuda a diminuir a ansiedade é vivenciar o momento presente. Procure fazer uma coisa de cada vez. E quando se sentir ansioso, aprofunde a respiração. Além disso, praticar uma atividade física moderada e regular, e valer-se de técnicas de relaxamento são unanimidade entre os especialistas para produzir alívio e diminuir a intensidade da ansiedade.