Mais da metade dos casos de demência poderiam ser evitados com o controle de doenças crônicas. É o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, depois da análise de 1.092 cérebros de pacientes com mais de 50 anos mortos na capital.
‘Ela mistura coisas do passado com o presente’, lamenta filho
Até os 75 anos, a idosa Luiza tinha uma vida ativa: fazia doces sob encomenda, dirigia e desempenhava todas as atividades do dia a dia de forma independente. Em julho de 2011, veio o primeiro derrame, que a deixou com dificuldades de locomoção. O tratamento com medicamentos e fisioterapia trouxe bons resultados na recuperação, mas, dois meses depois, um novo derrame atingiu a idosa, desta vez deixando sequelas mais graves: o lado esquerdo do corpo ficou paralisado e um quadro de demência se desenvolveu.
“Ela era super independente, tanto é que teve o primeiro AVC (acidente vascular cerebral) quando estava dirigindo sozinha. Não tinha obesidade nem diabete, só uma hipertensão leve, mas é difícil associar a doença aos derrames porque ela tomava remédio para a pressão, estava tudo controlado”, comenta um dos filhos da idosa, de 52 anos.
Ele diz que o principal sintoma da demência, no caso da mãe, é a confusão mental que ela manifesta desde 2011 até hoje. “Ela mistura coisas do passado com o presente. Tem horas que parece que está desorientada no espaço e no tempo. Às vezes pergunta dos pais dela, que já morreram, mas outras vezes ela lembra dos netos, que é algo mais recente”, conta.
Por causa das sequelas físicas e cognitivas, Luiza, hoje com 80 anos, vive em uma unidade para idosos com doenças crônicas do Hospital Santa Mônica, na Grande São Paulo. “Mesmo que ela ainda pudesse realizar algumas tarefas independentemente da demência, não consegue por causa da paralisia de um dos lados do corpo”, diz o filho.
Causas.
Segundo Claudia Suemoto, autora do estudo da Faculdade de Medicina da USP, é possível que um derrame ocorra por razões genéticas ou não relacionadas a doenças crônicas, mas esses casos são raros, cerca de 5% do total. Ela diz ainda que os sintomas da demência vascular podem ser diferentes dos quadros associados ao mal de Alzheimer.
“No Alzheimer, a memória é comprometida desde o começo e há falhas na linguagem também. Já na demência vascular a principal função cerebral afetada é a que envolve o planejamento e a execução de tarefas. Por exemplo, fazer um bolo, que precisa de uma organização. De repente, o idoso passa a se confundir em tarefas que eram muito corriqueiras para ele”, explica a especialista.
A médica diz ainda que é comum familiares demorarem a identificar um quadro de demência por achar os sintomas naturais do envelhecimento.
“Esquecer coisas de vez em quando é normal, acontece com todo mundo, até com jovens. Mas quando isso começa a acontecer sempre e ainda vem acompanhado de perda de funcionalidade, é importante que seja feita uma avaliação médica”, defende. “Principalmente no caso da demência vascular, se detectar cedo e controlar os fatores de risco, os prejuízos serão menores.”
Fonte: Estadão