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Bebidas com metanol: o perigo oculto em um gole

O que é o metanol e por que ele aparece em bebidas?

O metanol — também chamado de álcool metílico — é um tipo de álcool usado largamente na indústria, em solventes, combustíveis, anticongelantes e produtos químicos diversos. Ele não é adequado para consumo humano, pois seu metabolismo no corpo gera compostos tóxicos que atacam órgãos vitais, especialmente o sistema nervoso e os olhos.

Em bebidas alcoólicas adulteradas, o metanol pode estar presente de duas formas:

  • Acidentalmente, em processos de fabricação caseiros que não respeitam controles técnicos adequados (destilação deficiente, falhas no descarte de frações tóxicas);
  • Deliberadamente, por falsificadores que acrescentam metanol para elevar a “potência” da bebida ou reduzir custos, enganando o consumidor.

Além disso, o psicólogo do Hospital Santa Mônica, Antonio Chaves Filho, salienta que “bebidas ilegais ou contrabandeadas, como as chamadas “guindaste”, são particularmente perigosas. O termo popular é usado principalmente em regiões de fronteira com o Paraguai e refere-se a destilados falsificados que “derrubam” rapidamente a pessoa, podendo conter álcool de posto, solventes e metanol. Esses produtos não têm registro na Anvisa e representam alto risco de intoxicação.”

Vale destacar que, em situações de vulnerabilidade social, pessoas em situação de rua às vezes consomem etanol de posto ou bebidas muito baratas e adulteradas, aumentando ainda mais o número de intoxicações e mortes.

Nos últimos dias, casos em São Paulo chamaram atenção: foram identificadas mortes e internações por ingestão de bebidas adulteradas com metanol, incluindo whisky, gim, dentre outras.

Os efeitos do metanol no organismo

Quando alguém ingere bebidas que contêm metanol, o corpo o metaboliza no fígado, transformando-o em formaldeído e depois em ácido fórmico — compostos extremamente tóxicos.

Os sintomas costumam aparecer de 12 a 24 horas (ou até mais tempo) após o consumo, dependendo da dose.

Sintomas iniciais (semelhança com ressaca):

  • Dor de cabeça
  • Náuseas e vômitos
  • Dor abdominal
  • Confusão mental, tonturas

Sinais de agravamento (alertas):

  • Visão turva, perda de visão (cegueira parcial ou total)
  • Convulsões
  • Depressão do sistema nervoso central (sonolência, coma)
  • Acidose metabólica (o sangue fica mais “ácido”)
  • Insuficiência renal, falência de múltiplos órgãos
  • Parada respiratória ou cardíaca

Em casos graves, pode haver óbito.

Um caso recente mostra bem isso: um homem de 31 anos que ingeriu whisky adulterado com metanol perdeu a visão e ficou mais de um mês internado na UTI.

Por que é tão difícil identificar metanol?

Infelizmente, não há método “caseiro” confiável para detectar metanol em bebidas no momento do consumo. Isso porque:

  • O metanol é incolor e quase inodoro em quantidades pequenas
  • Seu sabor pode se misturar ao sabor usual do destilado
  • O rótulo, lacre ou embalagem podem parecer “normais”, mesmo em bebidas adulteradas
  • O preço ou aparência “boa demais para ser verdade” muitas vezes enganará o consumidor

Por isso, a melhor defesa é a cautela.

Casos recentes que alertam

  • Em São Paulo, diversos casos de intoxicação por metanol em pessoas que consumiram gin e outras bebidas adulteradas foram registrados. Alguns resultados apontaram para contaminação deliberada ou falhas graves na cadeia de produção.
  • Um episódio dramático: um homem perdeu a visão após consumir uísque adulterado e segue internado em UTI.
  • No estado paulista, em um período de cerca de 25 dias, foram investigados nove casos suspeitos — número considerado “fora do padrão” por autoridades.
  • O “caso da cachaça da morte”, ocorrido na Bahia e no Piauí no início dos anos 1990, é um exemplo histórico de intoxicação com metanol em bebida alcoólica — dezenas de mortes e muitos hospitalizados.
  • No mundo, outros casos chamam atenção: na Rússia, dezenas de mortes por bebidas adulteradas com metanol foram registradas recentemente.

Esses casos mostram que esse problema não é isolado — ele pode ocorrer em diferentes contextos e regiões.

O que fazer em caso de suspeita de intoxicação?

  1. Procure atendimento médico imediato, se houver sintomas como visão turva, vômitos persistentes ou dor intensa — quanto mais cedo, melhor.
  2. Em ambiente hospitalar, pode-se usar antídotos específicos (como fomepizol) que competem com o metabolismo do metanol, além de hemodiálise para remover toxinas do sangue.
  3. Monitoramento intensivo com suporte ventilatório, correção de distúrbios metabólicos e cuidados com órgãos vitais também fazem parte do tratamento.
  4. Quando possível, leve a garrafa ou rótulo da bebida consumida para análise laboratorial — ajuda na confirmação e nas investigações.

Dicas para prevenção — como se proteger

  • Evite bebidas de procedência duvidosa. Prefira marcas confiáveis, lacres intactos, rótulos bem impressos e selos fiscais.
  • Fique atento a preços muito baixos, embalagens “estranhas”, tampas ou rótulos mal-feitos — podem indicar falsificação.
  • Evite destilados de origem desconhecida ou caseiros.
  • Não adquira bebidas em locais informais ou sem nota fiscal.
  • Se for beber fora, escolha estabelecimentos de confiança, com boas práticas e que você já conheça.
  • Se você ou alguém próximo começar a sentir sintomas estranhos após ingerir bebida alcoólica — como visão turva ou forte mal-estar — procure socorro urgente.
  • Denuncie bebidas suspeitas às autoridades sanitárias e à vigilância local.
  • Para bares ou pontos de venda: manter rastreabilidade, exigir nota fiscal, conferir qualidade dos produtos adquiridos e evitar fornecedores duvidosos.

A posição do Hospital Santa Mônica

No Hospital Santa Mônica, reforçamos que não recomendamos o consumo de bebidas alcoólicas, sobretudo para pacientes com transtornos mentais e, principalmente, transtorno do uso de substâncias.

O álcool, além de todos os riscos inerentes ao seu consumo, pode agravar quadros psiquiátricos, dificultar tratamentos e desencadear recaídas em pessoas que lutam contra a dependência.

Diante da presença de bebidas adulteradas com metanol no mercado, esse alerta se torna ainda mais urgente: um simples gole pode colocar a vida em risco.

👉 O Hospital Santa Mônica está à disposição para oferecer acolhimento e tratamento especializado a quem enfrenta dificuldades relacionadas ao uso de álcool e outras drogas, sempre com foco no cuidado integral da saúde mental.

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