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Infantojuvenil

Adultização precoce nas redes — um risco emergente à saúde mental de crianças e adolescentes

O influenciador digital Felca — nome de criação de Felipe Bressanim Pereira — iniciou uma verdadeira revolução nas redes sociais ao publicar, na semana passada, um vídeo documentário impactante denunciando o fenômeno da adultização de menores na internet.

O vídeo viralizou em poucos dias, ultrapassando 36 milhões de visualizações e reacendendo um alerta urgente sobre os perigos dessa exposição precoce — com desdobramentos na política, no judiciário, na mídia e, sobretudo, na saúde mental de crianças e adolescentes.

O que é adultização e o que Felca expôs

Adultização refere-se à antecipação forçada de comportamentos, responsabilidades ou estéticas adultas impostas a crianças e adolescentes que ainda não têm maturidade emocional para lidar com tais estímulos.

No contexto digital, isso abrange sexualização precoce, uso de roupas sensuais, linguagem adulta e exposição a responsabilidades ou padrões estéticos para os quais os menores não estão preparados.

No documentário, Felca denuncia casos alarmantes como o do influenciador Hytalo Santos, que expunha adolescentes — como Kamylinha — em situações sensuais ou íntimas desde a infância, claramente voltadas ao engajamento e à monetização. Ele também expôs como os algoritmos das redes sociais acabam impulsionando esse conteúdo, aumentando o risco de exploração e facilitando o acesso por redes de pedófilos.

Repercussões — políticas e sociais

A repercussão ultrapassou o digital: o vídeo impulsionou a tramitação de mais de 30 projetos de lei na Câmara dos Deputados voltados à proteção de menores no ambiente virtual. Além disso, personalidades como a primeira-dama Janja e ministros do governo se posicionaram publicamente em defesa de regulamentações mais rígidas para as redes sociais. Plataformas como Instagram e TikTok também reagiram, banindo perfis ligados às denúncias.

O impacto na saúde mental — alerta da psiquiatria

Para a Dra. Carla Mendes, psiquiatra do Hospital Santa Mônica, os efeitos da adultização na saúde mental de crianças e adolescentes são “profundos, cumulativos e, muitas vezes, silenciosos”.

“Quando uma criança é exposta a comportamentos ou padrões estéticos adultos antes de estar psicologicamente pronta, ela perde etapas fundamentais do desenvolvimento emocional. Isso pode gerar ansiedade, depressão, baixa autoestima e dificuldades de construção de identidade que a acompanharão na vida adulta”, explica.

A médica destaca que o fenômeno é especialmente nocivo porque explora vulnerabilidades:

“O cérebro de crianças e adolescentes ainda está em formação, especialmente as áreas ligadas ao autocontrole, à percepção de riscos e ao processamento emocional. Quando esse desenvolvimento é atropelado por pressões estéticas e comportamentais, há um risco maior de transtornos alimentares, dismorfia corporal e isolamento social.”

Segundo a psiquiatra, a lógica das redes sociais agrava o quadro:

“O algoritmo recompensa a exposição extrema e, para se manterem visíveis, muitas crianças acabam reforçando padrões nocivos, sem ter noção das consequências. É uma armadilha que fragiliza a saúde mental e normaliza o olhar sexualizado sobre menores.”

Caminhos de proteção

Dra. Carla Mendes reforça que a solução não passa apenas por regular plataformas, mas também por fortalecer a rede de proteção familiar e escolar:

“Pais e responsáveis precisam estar presentes e atentos. O diálogo é fundamental — explicar os riscos, supervisionar o uso das redes e valorizar atividades fora do ambiente digital. Já as escolas devem oferecer espaços de acolhimento e educação midiática, preparando os jovens para navegar com segurança.”

Segundo a Dra. Carla Mendes, “o combate à adultização exige um papel ativo da família, que vai muito além de ‘proibir ou liberar’ o celular. É preciso criar uma cultura de diálogo, segurança e autoestima”.

Principais recomendações:

  1. Estabelecer idade mínima para redes sociais
    • O ideal é adiar o acesso às plataformas com conteúdo aberto até que a criança tenha maturidade emocional (recomendação de especialistas: a partir dos 13 anos para redes e 16 para perfis públicos).
  2. Supervisionar ativamente o uso
    • Acompanhar seguidores, conteúdos consumidos e publicações feitas. Isso não é invasão de privacidade, mas proteção.
    • Manter dispositivos em áreas comuns da casa, evitando uso prolongado e isolado no quarto.
  3. Educar sobre riscos e consentimento
    • Conversar de forma clara sobre pedofilia, exploração e manipulação emocional online.
    • Explicar que nada que é publicado na internet some completamente.
  4. Valorizar atividades offline
    • Incentivar esportes, hobbies, artes, leitura e convívio social presencial. Isso reduz a dependência emocional do engajamento digital.
  5. Fortalecer autoestima e senso crítico
    • Elogiar conquistas e qualidades que não estejam ligadas à aparência física ou à aprovação alheia.
    • Ensinar a questionar padrões estéticos irreais e a reconhecer manipulações digitais, como filtros e edições.
  6. Definir limites claros de tempo de tela
    • Seguir recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria:
      • Até 2 anos: evitar uso de telas.
      • 2 a 5 anos: até 1 hora por dia, com supervisão.
      • 6 a 10 anos: até 2 horas/dia, evitando uso antes de dormir.
  7. Buscar apoio profissional quando necessário
    • Mudanças bruscas de humor, queda no desempenho escolar, isolamento ou preocupação excessiva com aparência são sinais de alerta.
    • Psicólogos e psiquiatras podem oferecer estratégias e intervenções para preservar a saúde mental.

Preservar a infância é responsabilidade de todos

A adultização nas redes sociais não é um fenômeno isolado nem inevitável. Ela é consequência de escolhas — das plataformas, dos influenciadores, das famílias e da sociedade. Como alerta a Dra. Carla Mendes, “a infância é um tempo único, que não pode ser abreviado sem consequências emocionais sérias. É dever de todos garantir que crianças e adolescentes cresçam livres de pressões adultas e em ambientes seguros para seu desenvolvimento”.

Proteger a saúde mental das novas gerações exige ação imediata:

  • Pais e responsáveis: supervisionem, conversem e orientem.
  • Escolas: eduquem para o uso seguro e crítico da internet.
  • Plataformas: criem e cumpram políticas rígidas contra a exposição sexualizada de menores.
  • Poder público: legisle e fiscalize.

A preservação da infância começa no cuidado diário e no comprometimento coletivo. Não espere que seu filho seja vítima para agir — comece hoje a proteger, educar e dialogar.

Se você perceber mudanças de comportamento, sofrimento emocional ou sinais de que seu filho pode estar em risco, procure apoio profissional. O Hospital Santa Mônica conta com especialistas em psiquiatria e psicologia infantil e adolescente, prontos para acolher, orientar e oferecer tratamento adequado. Entre em contato e cuide agora da saúde mental de quem você ama.

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