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Saúde Mental

Canabidiol para tratar esquizofrenia

Estudos recentes feitos por USP e Unicamp apontam que substância seria uma alternativa promissora

Aprovado para uso médico no Brasil no tratamento de epilepsia resistente a outros medicamentos, o canabidiol, um dos principais compostos da maconha (Cannabis sativa), tem sido estudado também como uma alternativa promissora para o manejo da esquizofrenia, doença psiquiátrica caracterizada pela dissociação entre o que é real e o que é imaginário por parte do indivíduo. 1 “São alucinações, que constituem alterações da percepção como “ouvir vozes”, ter visões e sensações não compartilhadas por outras pessoas, mas que para o paciente parecem reais. Essas “alucinações” podem impactar no comportamento e na rotina da pessoa, dificultando as relações e a vida social”, de acordo com o Ministério da Saúde. 1

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a esquizofrenia é a terceira causa de perda da qualidade de vida entre os 15 e 44 anos. 1  Pesquisas realizadas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela Universidade de São Paulo (USP) demonstraram que o efeito do canabidiol é semelhante ao de medicamentos já utilizados para essa condição, como a clozapina e o haloperidol, embora com um mecanismo de ação diferente. 2 O CDB, explica Antônio Chaves Filho,  psicólogo especializado em dependência química do Hospital Santa Mônica, consegue cancelar o efeito de uma substância que danifica a bainha de mielina, um dos fatores responsáveis pela esquizofrenia, apesar desse mecanismo ainda ser um “mistério”.

A vantagem do CDB,  pontua o especialista, é a ausência de efeitos colaterais. A clozapina tem como um dos efeitos o ganho de peso enquanto o haloperidol causa rigidez muscular, tremores.

“A grande sacada seria a similaridade dos tratamentos convencionais sem os efeitos colaterais indesejados. O CDB não tem esses efeitos”, destaca o psicólogo. Além disso, afirma ele, tanto a clozapina quanto o haloperidol são medicamentos antigos.

O uso do canabidiol abre um precedente para novos estudos, o que pode contribuir para aprovação de novas indicações. No Brasil, esse transtorno mental que afeta cerca 2 milhões de pessoas. “É uma doença que compromete funções cognitivas e motoras, além de ser crônica e degenarativa, que impacta no trabalho, na saúde, na família, acaba repercutindo em grande parte da sociedade as consequências de um esquizofrênico”, comenta Antônio Chaves Filho.

Estudo da USP e Unicamp

Os estudos da USP – Universidade de São Paulo e Unicamp também sugerem novas hipóteses sobre a origem e a progressão da esquizofrenia, revelando que os danos podem afetar não apenas os neurônios, mas também os oligodendrócitos, células essenciais do sistema nervoso central. Em experimentos com culturas de oligodendrócitos humanos, o canabidiol ativou mecanismos bioquímicos que promovem a proteção celular, semelhantes aos efeitos dos medicamentos clozapina e haloperidol.

Uma pesquisa publicada em maio na Frontiers in Molecular Neuroscience mostrou que esses compostos conseguiram neutralizar os efeitos prejudiciais da cuprizona, uma substância que danifica a bainha de mielina – o revestimento das fibras nervosas – e que pode estar relacionada a uma das causas da esquizofrenia. 2

Realizado pela farmacologista Valéria de Almeida e pela bióloga Ana Caroline Brambilla Falvella, ambas da Unicamp, o experimento utilizou três compostos para prevenir a desmielinização, resultando na ativação da produção de 1.890 proteínas. Destas, 93 foram identificadas exclusivamente após a administração do canabidiol, 97 do haloperidol e 278 da clozapina. Em comparação com o canabidiol, 92 proteínas eram compartilhadas com o haloperidol e 75 com a clozapina. 2

Em segundo lugar, a quantidade de proteínas em comum entre os fármacos oferece uma nova perspectiva sobre a esquizofrenia, ressaltando a importância dos oligodendrócitos na produção das bainhas de mielina. A ausência dessas bainhas pode estar ligada aos sintomas característicos do transtorno, como delírios e alucinações. 2

 “No caso da esquizofrenia, o CDB tem dado pistas sobre a doença. Os estudos da USP e Unicamp são uma revolução. As pessoas que fazem as leis precisam ter entendimento do que é o CDB, começar a divulgar resultado de pesquisa, casos de sucesso, como tem dado certo em outros países e entender que é uma substância extraída de uma planta. E, sobretudo, colocar o paciente em primeiro lugar, avalia o psicólogo.

Na Inglaterra, onde ele reside atualmente, o especialista conta que o CDB é vendido em supermercados. “Há estudo e investimento em CDB. Aqui o sistema de saúde público preconiza o paciente, e não a indústria farmacêutica”, afirma.

Referências

  1. Dia Nacional da Pessoa da Pessoa com Esquizofrenia, Ministério da Saúde. Disponível em : https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2021/maio/dia-nacional-da-pessoa-com-esquizofrenia-cercada-de-tabus-doenca-tem-tratamento-no-sus
  2. “Canabidiol contra esquizofrenia”, Revista Fapesp. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/canabidiol-contra-esquizofrenia/

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