Os chamados cassinos virtuais podem provocar dependência química e danos patrimoniais. Questão também tem sido tratada como caso de polícia
Por Izabelly Fernandes, da Redação A Tribuna de Santos
Até onde um jogo virtual pode levar? Eles podem parecer inofensivos. Afinal, num exemplo, é só um joguinho protagonizado por um tigre ou qualquer outro animal simpático. Contudo, especialistas orientam que a frequência nesses cassinos virtuais pode levar à dependência e causar prejuízos materiais e para a saúde mental.
Levantamento recente da Secretaria Estadual de Segurança Pública mostra que houve mais de 500 registros de boletins de ocorrência relacionados ao chamado Jogo do Tigrinho, entre 2023 e este ano. Segundo investigações, ele estaria sendo usado por organizações criminosas (leia nesta página).
O psicólogo especializado em Dependência Química Antonio Chaves Filho, do Hospital Santa Mônica, de São Paulo, relata o vício pode se manifestar de maneira sutil. “Inicialmente, talvez a pessoa passe mais tempo no celular, em uma roda de conversa, jogando.
Depois, ela se afasta do convívio social e familiar, não aparece em reuniões sociais e, em um grau mais severo, pode parar de trabalhar para jogar.”
A dependência no jogo pode, ainda, levar à falta de autocuidado, isolamento e outros vícios, em geral buscados para sanar a dor existencial causada pelo jogo, conforme o especialista.
Chaves explica que também pode haver impacto na vida financeira. Indicadores desse problema podem ser pedidos de adiantamento ou vale, dificuldade de pagar as contas e endividamento — não importam idade e classe social.
A dependência em jogos pode ser ativada devido a algum fator de estresse na vida. “Ela (a pessoa dependente) vê o jogo como uma possibilidade de melhora, com algum tipo de ganho, e isso acaba atuando no sistema de recompensa cerebral, agindo no cérebro da mesma maneira que uma substância psicoativa.”
O estímulo luminoso, as cores e a possibilidade de ganho fazem com que a pessoa desenvolva pensamento repetitivo.
Quando a aposta é feita, o nível de dopamina aumenta, causando sensação de prazer. Mesmo que haja ganho, o neurotransmissor cai, e o cérebro precisa de mais para se sentir feliz e estimulado.
Por isso, o aumento contínuo do uso de jogos. “Geralmente, a pessoa que tem essa predisposição a criar uma dependência já tem um vazio na vida. Então, ela busca, de alguma maneira, preencher isso”, diz o psicólogo.
Como Ajudar
Diálogo e acolhimento são as duas principais ações destacadas por Chaves para ajudar um viciado em jogos virtuais. Porém, quem auxiliar não deve emitir opiniões sobre a questão. Para o especialista, o primeiro passo é ajudar o dependente a deixar a negação do problema, fazendo com que ele enxergue as consequências negativas que o jogo está proporcionando. Grupos anônimos de recuperação e profissionais como psicólogos e psiquiatras especialistas em dependência podem colaborar no tratamento.
Polícia relaciona Jogo do Tigrinho a organizações criminosas
O chamado Jogo do Tigrinho, entendido como um cassino on-line, virou alvo de investigações da Polícia Civil paulista devido à atuação de organizações criminosas que usam a plataforma para aplicar golpes ao prometer dinheiro fácil.
O Fortune Tiger — nome original do jogo em inglês e que, em tradução livre, seria tigre da sorte ou da fortuna — simula um caça-níquel para o jogador apostar e aguardar três figuras iguais, que resultam em um suposto prêmio em dinheiro.
Isso é considerado jogo de azar. As plataformas estão localizadas fora do País e são clandestinas. Segundo o Departamento de Investigações Criminais da Polícia Civil (Deic), golpistas criam perfis falsos nas redes sociais para convidar novos jogadores e pagam influenciadores digitais para simular uma vida de luxo obtida por meio da plataforma.
De acordo com o Deic, quantias de R$ 10 mil, R$ 20 mil e R$ 30 mil supostamente obtidas pelos influenciadores nas redes sociais não são uma realidade, mas uma simulação. Postagens falsas fazem usuários apostarem cada vez mais. Ao ganhar algum prêmio grande, a conta é bloqueada, e o valor não é pago.
A polícia investiga quem faz a intermediação do pagamento entre os donos da plataforma e jogadores. O alto volume de denúncias tem levado à apreensão de imóveis e veículos, a operações contra golpistas e indiciamentos.
Os envolvidos responderão por estelionato, crime contra a economia, associação criminosa e lavagem de dinheiro. (IF)