O círculo vai encolhendo. Os anos vão passando e os idosos vão a funerais demais. Amizades mantidas por décadas acabam à medida que companheiros e confidentes se aposentam, se mudam de cidade ou adoecem.
Mas até mesmo em idades avançadas, novos relacionamentos podem ser criados e fortalecidos. O filho de Sylvia Frank, que se mudou para uma residência de vida independente em Lower Manhattan em 2014, vivia repetindo que a prima de uma colega, Judy Sanderoff, iria se mudar para a mesma instituição. Ambas entraram em contato.
Agora, Sylvia, 91, e Judy, de 96, tomam café da manhã juntas praticamente todos os dias; jantam uma com a outra ou com outros amigos muitas vezes por semana. Judy passou o Dia de Ação de Graças com a família de Sylvia no Brooklyn.
Tenho conversado com idosos que fizeram amigos já em idade avançada. Embora sofram com as perdas, são gratos pela capacidade de encontrar amizade, valores e interesses compartilhados, compreensão e confiança.
“A necessidade que tivemos a vida toda -pessoas que nos conheçam, nos valorizem e nos tragam felicidade- nunca vai embora”, afirma Barbara Moscowitz, assistente social geriátrica sênior do Hospital Geral de Massachusetts.
A forma como priorizamos as amizades pode mudar. Laura Carstensen, psicóloga da Universidade de Stanford, desenvolveu uma teoria chamada “seletividade socioemocional”: à medida que as pessoas sentem que não têm muito mais tempo pela frente, desenvolvem relacionamentos superficiais para se concentrar naqueles que consideram mais significativos.
“Essas pessoas investem mais nas conexões que ainda restam”, afirmou Gary Kennedy, diretor de psiquiatria geriátrica do Centro Médico Montefiore, em Nova York.
Inúmeras pesquisas recentes destacam a importância desses laços. O isolamento social e a solidão podem ter um impacto fortíssimo nos idosos, tanto psicológica, quanto fisicamente.
Podemos entender os riscos do isolamento e de uma vida solitária. “Por inúmeras razões, ninguém se preocupa com as necessidades diárias do indivíduo; alimento, medicação, consultas médicas. A geladeira está vazia, mas não há ninguém para quem telefonar. As pessoas se sentem desesperadas e humilhadas” diz Barbara.
Elas também sofrem uma maior taxa de mortalidade e risco de depressão, declínio cognitivo e problemas de saúde como doença arterial. A solidão traz outros perigos: estudos demonstram uma associação entre ela e pressão sanguínea elevada, entrada em asilos e comportamentos de risco como falta de atividade e fumo.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Francisco, acompanharam 1.600 participantes (com média de idade de 71 anos) e revelaram que os mais solitários eram os que tinham maior dificuldade de executar atividades do dia a dia.
Mesmo quando o estudo levou em conta fatores socioeconômicos e de saúde, os solitários exibiam uma taxa de mortalidade mais elevada: quase 23% deles morreram em um intervalo de seis anos, comparados com 14% dos que não eram solitários.
Com fortes evidências da importância da amizade para salvar vidas e promover a saúde, assistentes sociais e pesquisadores afirmam que devemos prestar mais atenção em seu papel. Diretores de atividade, funcionários de centros de idosos e cuidadores: existem formas melhores de ajudar os idosos a manterem contato com amigos, ou conhecer novas pessoas? Todos estamos dispostos a levar parentes a consultas com o médico; levá-los para passar tempo com amigos é igualmente importante.
Fonte: Folha